Mulheres sofrem com salários mais baixos, informalidade e sobrecarga

Do total de 43 milhões de mulheres empregadas, 37% estão na informalidade. Elas recebem menos que os homens e ainda dedicam 354 horas a mais por ano com afazeres domésticos

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A população feminina enfrenta uma série de disparidades em relação aos homens nas mais diversas esferas da vida social e econômica e dentre elas estão as que envolvem a área laboral. Mesmo com peso fundamental na força de trabalho, elas sofrem com diferenças salariais, na divisão das tarefas domésticas e no que diz respeito à proteção social e previdenciária. 

Levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) — feito com base em dados do 4º trimestre de 2023 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE — revela que elas representam 90,6 milhões da força de trabalho em potencial, das quais 47,8 milhões estão efetivamente neste universo e 42,8 milhões estão fora. 

Para se ter uma ideia, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2022, pouco mais de 53% das mulheres participavam da força de trabalho, contra 73% dos homens, reflexo da estrutura patriarcal que ainda determina para a parcela feminina um lugar fora do mercado, ligado aos cuidados com a casa e a família. 

Fonte: Dieese

Considerando as 47,8 milhões que estão na força de trabalho, 43,4 milhões estão empregadas — 23 milhões negas e 20,4 não negras. E aqui, a questão racial começa a pesar mais: entre as 4,4 milhões de desempregadas, a maioria é de negras, 2,9 milhões, e 1,5 milhão de não negras. 

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Nesse conjunto, chama atenção a taxa de informalidade, de 37,5%. As negras são maioria, quase 42%, e as não negras, 32,6%. As que não têm contribuição previdenciária somam 36,2%, e aqui também as negras são maioria, 41%, contra 30% das não negras. E cerca de 40% das mulheres ocupadas ganham até um salário mínimo. 

Outro dado que mostra as dificuldades vividas principalmente pelas negras é o grau de desalento entre as 42,8 milhões que estão fora da força de trabalho — o termo é usado para definir a pessoa que gostaria de trabalhar, mas desistiu por achar que não vai encontrar. Ao todo, 1,4 milhão de mulheres negras estão nesta situação, contra 485 mil não negras. 

Fonte: Dieese

Salário e afazeres domésticos

Outra diferença marcante entre homens e mulheres, negros e não negros no mercado de trabalho diz respeito ao rendimento médio mensal. Os dados trazidos pelo Dieese reforçam a presença do machismo e do racismo estrutural na sociedade brasileira. 

O rendimento mensal das mulheres é de R$ 2.562 e o dos homens, R$ 3.233. No caso das negras, cai para R$ 1.957, enquanto o dos negros também fica menor em relação aos não negros, mas maior do que o delas, R$ 2.467. A disparidade geral entre negros e não negros é de R$ 3.242 contra R$ 4.228.

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Mesmo com ensino superior, as mulheres ganham bem menos do que os homens. Neste segmento, as mulheres recebem cerca de R$ 4.701 e os homens, R$ 7.283. As negras, R$ 3.721 e os negros, R$ 5.755. Já na avaliação geral, as não negras têm rendimento mensal de R$ 5.303, contra R$ 8.173 dos não negros. 

No que diz respeito aos afazeres domésticos, no ano de 2022, as mulheres gastaram, em média, 925 horas com esse tipo de atividade — 354 horas (ou 15 dias) a mais do que os homens. Os números indicam que a sobrecarga é sensivelmente maior para as mulheres que, além de trabalharem fora, trabalham dentro de casa, mas sem remuneração. 

Além disso, em 2022, a proporção de mulheres que conseguiam trabalhar era 23 pontos percentuais maior entre as que tinham todos os filhos na creche — 64,8%; as que não tinham nenhum filho na creche eram 41,4%.