Com Motel Destino, cinema brasileiro volta a disputar Palma de Ouro

O diretor cearense Karim Aïnouz se destaca como o único representante latino-americano na lista estelar de filmes que disputam a Palma de Ouro em Cannes

Cena de 'Motel Destino', indicado em Cannes — Foto: Divulgação

O aclamado diretor brasileiro Karim Aïnouz volta a brilhar nos holofotes do cinema mundial com seu mais recente trabalho, “Motel Destino”, selecionado para a competição oficial do prestigiado Festival de Cannes de 2024. A produção se destaca como o único representante latino-americano entre uma lista estelar de filmes, incluindo obras de renomados cineastas como Francis Ford Coppola e Yorgos Lanthimos. A 77ª edição desta celebrada premiação francesa está programada para acontecer entre os dias 14 e 25 de maio.

Com a indicação, Aïnouz tem chance de conquistar a segunda Palma de Ouro do Brasil, que venceu o prêmio uma única vez, em 1962, com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte. Além da categoria principal, o brasileiro já participou outras vezes do Festival de Cannes: em 2019, venceu a mostra Un Certain Regard com A Vida Invisível.

Antes disso, disputou a Queer Palm, dedicada a produções voltadas ao público LGBTQIAPN+, em duas ocasiões: em 2002, sua estreia no Festival de Cannes, com Madame Satã; e em 2011, com O Abismo Prateado.

Com um elenco liderado por Fábio Assunção, Iago Xavier e Nataly Rocha, “Motel Destino” é um thriller erótico que se desenrola inteiramente no estado do Ceará, no Brasil. A trama gira em torno de Heraldo (Iago Xavier), jovem de uma família humilde que cumpriu pena em uma unidade socioeducativa, cuja chegada a um estabelecimento à beira da estrada desencadeia uma série de eventos que transformam drasticamente a vida cotidiana do local.

No Motel, ele acaba se apaixonando pela dona do estabelecimento Dayana (Nataly Rocha), que vive o fim de um relacionamento com o policial Elias (Fábio Assunção), dando início a um triângulo amoroso. O local em questão, segundo Karim é “o principal personagem do enredo e o local onde se entrecruzam questões crônicas da realidade brasileira”.

Descrito como “um retrato íntimo de uma juventude cujo futuro foi roubado por uma elite tóxica e esmagadora”, o filme marca a oitava incursão de Aïnouz na direção e sua sexta participação no Festival de Cannes. O diretor já havia sido destaque na edição anterior do festival com “Firebrand”, estrelado pela vencedora do Oscar Alicia Vikander e por Jude Law, que ainda aguarda lançamento no Brasil.

A indicação de “Motel Destino” foi celebrada pelo próprio Aïnouz em suas redes sociais, onde expressou sua alegria, declarando: “Cheio de alegria! Hoje é carnaval no Ceará!”. O cineasta, conhecido por seus trabalhos marcantes como “Madame Satã” e “Céu de Suely”, demonstra mais uma vez sua habilidade em contar histórias profundamente enraizadas na cultura brasileira.

“Motel Destino” nasceu da colaboração entre Aïnouz e o Laboratório de Roteiro do Porto Iracema das Artes, uma instituição de ensino sediada em Fortaleza, destinada a alunos da rede pública de ensino. Esta parceria ressalta o compromisso do diretor em contribuir para o desenvolvimento do cinema nacional e oferecer oportunidades para talentos emergentes.

Em suas palavras, Aïnouz expressa sua emoção por retornar a Cannes com um filme que representa não apenas sua jornada criativa, mas também uma celebração de sua conexão com o cinema brasileiro. Ele descreve “Motel Destino” como “um filme insaciável, sedento e sensual”, destacando sua exploração de novas possibilidades estéticas e dramatúrgicas.

A seleção oficial do Festival de Cannes 2024 também inclui obras de renomados cineastas internacionais, como Andrea Arnold, Yorgos Lanthimos, David Cronenberg e Francis Ford Coppola, entre outros. No entanto, apenas quatro mulheres estão entre os 19 filmes na competição pela Palma de Ouro, destacando a necessidade contínua de maior representatividade no cinema.

“Motel Destino” promete levar os espectadores a uma jornada intensa e emocionante sob o sol implacável do nordeste brasileiro, explorando temas universais de desejo, poder e violência. Com sua presença marcante na competição de Cannes, o filme solidifica o status de Aïnouz como um dos principais contadores de histórias do cinema contemporâneo e coloca o cinema brasileiro em destaque no cenário mundial mais uma vez.

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