Guerrilha do Araguaia – 52 anos da luta contra a ditadura

Inspiração para o povo brasileiro, a luta dos guerrilheiros serviu para semear os caminhos da, ainda imperfeita, democracia em nosso país

Os guerrilheiros Antônio de Pádua Costa, Dermeval da Silva Pereira, Dinalva Oliveira Teixeira, Francisco Manoel Chaves, Helenira Resende de Souza Nazareth, Idalísio (segundo da esq. coluna de baixo) Soares Aranha Filho, Lúcia Maria de Souza, Osvaldo Orlando da Costa e Rosalindo de Souza. Fotos: reprodução

Em 12 de abril de 1972 teve início um dos acontecimentos mais marcantes da resistência à ditadura militar, a Guerrilha do Araguaia. E um dos mais gloriosos episódios da história do Partido Comunista do Brasil.

Situada no que se chamava Bico do Papagaio, região que congregava parte do Maranhão, Pará e Tocantins, a Guerrilha resistiu por mais de dois anos, sendo derrotada em dezembro de 1974.

Quem eram os guerrilheiros? A maioria era composta por jovens vindos de norte a sul do país; grande parte estudantes, mas também experientes revolucionários como Maurício Grabois e Chico Chaves; Ângelo Arroio e Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão). Entre os participantes, mineiros como Idalísio Soares Aranha Filho e Walquiria Afonso Costa, o próprio Osvaldão, Rodolfo Troiano e vários outros.

A maioria, escapando da sanha assassina da ditadura militar que assolava o País, especialmente após o Ato Institucional número 5 (AI-5).

Leia também: Guerrilha do Araguaia, 50 anos: historiador resgata luta comunista

Mas não eram fujões; tinham sonhos, tinham ideais. Queriam livrar o Brasil de toda sorte de exploração econômica, política, social. Queriam o socialismo em nossa pátria.

Sim, acima de tudo, eram patriotas. Não suportavam viver em um país com tanta desigualdade social, servil aos interesses imperialistas do EUA, sufocado por uma feroz ditadura civil-militar desde 1964.

Também não eram aventureiros. A Guerrilha seguiu um longo processo de preparação, desde a escolha do lugar a, até mesmo, o deslocamento de militantes para a área desde 1966. O local era propício ao ingresso de revolucionários, situado em uma região de intenso conflito de terras; para lá iam pessoas de todo o país. Portanto, a presença de militantes não chamaria atenção.

Infelizmente, antes de completar os preparativos necessários à luta armada, os militantes foram descobertos e as Forças Armadas jogaram com toda força para aniquilá-los. No entanto, foram necessárias três campanhas militares para acabar com a Guerrilha.

Descobertos os preparativos para a Guerrilha, resistir foi a opção. E resistiram. Muitos foram barbaramente assassinados, como os exemplos que se seguem.

Walquíria Afonso Costa foi uma estudante de pedagogia da UFMG, assassinada de forma bárbara na Guerilha do Araguaia em 1974. Walquíria tinha apenas 26 anos, a última sobrevivente desse movimento revolucionário. Foi pega com vida, maltrapilha, faminta, sem nenhuma possibilidade de resistência. Foi fuzilada e seu corpo foi jogado numa vala rasa e nunca foi encontrado.

Idalísio Soares Aranha Filho, um jovem de 24 anos, estudante de psicologia da UFMG,  violeiro, cantador. Também guerrilheiro do Araguaia. Idalísio, doente da perna com leichimoniose, não conseguia se locomover na selva e procurou abrigo na casa de um camponês, apoiador da Guerrilha. Infelizmente, o Exército já tinha cercado essa casa e cercou o local onde ele se encontrava. Sem muita chance de resistência, reagiu ao cerco com uma garrucha velha. Foi ali mesmo metralhado. Elogiado pelo general do Exército responsável pela sua morte, pela bravura de sua resistência, teve o rosto estraçalhado e seu corpo nunca foi entregue aos seus familiares.

Mas a história não é feita de um ano, sequer de uma ou mais décadas. “A história é um carro alegre, cheio de gente contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue”. Portanto, tanta luta, não foi e nem será em vão. Inspiração para o povo brasileiro, a luta desses guerrilheiros serviu para semear os caminhos da, ainda imperfeita, democracia em nosso país e a possibilidade de construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

——————————————————————————————————————-

Antônia Vitória Soares Aranha nasceu em Rubim, Vale do Jequitinhonha, mas passou toda sua vida em Belo Horizonte. Fez o curso de Química, no Icex-UFMG, Mestrado na FAE -UFMG, Doutorado na PUC-SP e pós-doutorado na UERJ. Foi diretora da FAE e pró-reitora de graduação da UFMG. É irmã de Idalisio Soares Aranha Filho, assassinado pelo Exército, na Guerrilha do Araguaia em 1972. Militou sempre no PCdoB e atualmente faz parte das comissões estaduais e municipal (BH) de formação do Partido.