“Pedido de desculpas é pouco, precisamos de reparação”, diz Krenak

Ailton Krenak cobra política reparatória mais abrangente para os povos indígenas. Em entrevista à CNN, ele se mostrou otimista com o governo Lula

O líder indígena e imortal da ABL Ailton Krenak | Foto: Marcos Colon

Recentemente empossado na Academia Brasileira de Letras (ABL), Ailton Krenak, uma das vozes mais influentes na defesa dos direitos indígenas no Brasil, falou à CNN sobre a necessidade urgente de uma “política reparatória” ampla para os povos indígenas. Aos 70 anos, o poeta, ambientalista e escritor, destacou que as injustiças enfrentadas pelos povos nativos vão além dos episódios reconhecidos historicamente, como a ditadura militar.

Durante a entrevista, que coincidiu com a celebração do Dia dos Povos Indígenas, dia 19 de abril, Krenak criticou a abordagem dos Três Poderes brasileiros em relação às questões indígenas, descrevendo-a como uma alternância entre ações prejudiciais e gestos superficiais de reparação. Ele mencionou um passado recente em que figuras políticas expressaram abertamente desdém pelos direitos indígenas, contrastando isso com as desculpas formais recentemente emitidas pelo Estado a povos indígenas específicos por crimes durante a ditadura.

Apesar dessas desculpas, Krenak argumenta que elas são insuficientes. “Pedido de desculpas e perdão é pouco: a União precisa avançar numa política reparatória dos danos históricos e mordidas duradouras da história, e não apenas de um episódio recente, que foi a última ditadura que o Brasil discute. Nós, povos indígenas, sempre vivemos em ditaduras. Precisamos discutir todas elas, afirmou.

Ele sugere que a solução envolve não apenas reconhecer erros passados, mas também implementar mudanças substanciais que respeitem e promovam os direitos dos povos indígenas conforme estipulado na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

Krenak também destacou os desenvolvimentos positivos sob o atual governo, como a criação do Ministério dos Povos Indígenas e a liderança indígena na Funai, indicando um potencial para progresso dentro do que ele descreve como um “Estado colonial”.

Sua recente inclusão na Academia Brasileira de Letras é vista como um marco histórico, não só para ele pessoalmente, mas para o reconhecimento e a valorização das vozes indígenas na literatura e na sociedade brasileira em geral. Krenak vê sua posição na ABL como uma oportunidade de desafiar o status quo e promover uma verdadeira inclusão e respeito pela diversidade cultural, em contraponto a uma “integração forçada”.

“Você não pode integrar ninguém: tem, sim, que respeitar a diversidade e a pluralidade dos povos e criar uma governança capaz de interpretar esses anseios. Isso é uma democracia, e o contrário disso é ditadura. E nós estamos interessados na democracia de verdade, e não em uma de papo furado”, disse.

Encerrando a entrevista, Krenak expressou um otimismo cauteloso sobre o atual estado dos direitos indígenas, celebrando um período de expansão e criatividade na interação dos povos indígenas com outras comunidades humanas, apesar dos contínuos desafios.

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com informações de agências

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