Repasse do Bilhete Único para Metrô e CPTM caiu 86% e privilegiou linhas privatizadas

Repasse para linhas públicas caiu de R$ 1,8 bi para R$ 260 mi. Com menos passageiros, concessionárias recebem muito mais recursos

Estação Luz da CPTM e Metrô. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Os efeitos das privatizações no sistema de transporte público de São Paulo são cada vez mais evidentes e nefastos, especialmente quando se trata do repasse de recursos do Bilhete Único (BU) para Metrô e CPTM. Dados inéditos obtidos pelo UOL via Lei de Acesso à Informação revelam uma queda dramática nos repasses para as empresas públicas após a concessão de linhas para a iniciativa privada.

Em 2018, antes das concessões das linhas 5-Lilás, 8-Diamante e 9-Esmeralda à ViaMobilidade, Metrô e CPTM receberam aproximadamente R$ 1,8 bilhão do BU. Porém, em 2023, esse repasse despencou para apenas R$ 260 milhões, enquanto as linhas operadas por concessionárias privadas viram seu repasse subir para R$ 2,3 bilhões.

A análise desses números revela uma disparidade alarmante: enquanto Metrô e CPTM transportaram mais que o dobro de passageiros (1,23 bilhão), receberam significativamente menos recursos (R$ 460 milhões) do que as concessionárias privadas, que transportaram cerca de 500 milhões de passageiros e receberam R$ 2 bilhões.

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O Bilhete Único representa a principal fonte de receita tarifária para as operadoras de transporte público em São Paulo, totalizando R$ 7,1 bilhões em 2023. No entanto, as concessionárias privadas têm prioridade na hora de receber sua fatia desse montante, deixando Metrô e CPTM com uma parte substancialmente menor.

Essa distorção nos repasses tem consequências diretas para as finanças das empresas públicas, que enfrentam um desequilíbrio financeiro cada vez maior. Para compensar as perdas, o Estado precisa intervir por meio de um termo de “recomposição tarifária”, injetando recursos adicionais nos cofres do Metrô e da CPTM, o que já totalizou quase R$ 600 milhões em 2022.

Além dos impactos financeiros, as privatizações também têm gerado problemas operacionais, como falhas frequentes, atrasos e superlotação dos vagões, como evidenciado nas linhas operadas pela ViaMobilidade e ViaQuatro. Esses problemas comprometem a qualidade do serviço prestado à população e contradizem as promessas de eficiência feitas pelos defensores das privatizações.

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O anúncio do governador de extrema direita de avançar na privatização de outros setores, como água, saneamento e transporte ferroviário, levanta preocupações adicionais sobre o futuro dos serviços públicos em São Paulo. A resistência contra as privatizações e a defesa dos interesses da população tornam-se cada vez mais urgentes, exigindo mobilização e organização da sociedade civil e dos trabalhadores para garantir um transporte público acessível, seguro e de qualidade para todos.

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