Governo da Bolívia recebe apoio internacional frente à tentativa de golpe militar

Apoios se acumulam por todo o mundo, conforme os acontecimentos se atropelam em La Paz. “Golpe nunca deu certo na América Latina”, diz Lula.

Fotos: Gustavo Ticona, Bolivia (Mídia Ninja)

O presidente do Estado Plurinacional da Bolívia, Luis Arce, denunciou nesta quarta-feira (26) movimentos incomuns de certas unidades do Exército Boliviano na Praça Murillo, em La Paz. Em meio a este cenário de tensão, diversas lideranças internacionais se apressaram a expressar seu apoio ao governo de Arce e enfatizaram a importância de proteger a democracia boliviana.

A situação na Bolívia continua crítica, com o governo denunciando movimentações irregulares do Exército e alertando para um possível golpe de Estado. A resposta de líderes internacionais ressalta a importância de proteger a democracia e garantir que a vontade do povo boliviano seja respeitada. A solidariedade e apoio manifestados demonstram um compromisso regional em defesa da estabilidade democrática na Bolívia.

A instabilidade política tem sido frequente nos governos recentes na Bolívia. O governo de Luis Arce, foi antecedido pelo de Evo Morales, que renunciou em 10 de novembro de 2019 em meio a uma tentativa de golpe de estado.

Denúncia de movimentações irregulares

“Denunciamos movimentações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano na Praça Murillo, em La Paz. A democracia deve ser respeitada”, afirmou o presidente em sua conta no Facebook. A Praça Murillo, sede principal do governo boliviano, viu-se cercada por presença militar e protestos de organizações sociais exigindo respeito pela democracia.

A ministra da Presidência, María Nela Prada, denunciou que os militares tomaram o controle das quatro esquinas da praça em um “intento de golpe de Estado”. Segundo Prada, os militares não permitiram a entrada ou saída de nenhuma autoridade da Casa Grande do Povo. Ela fez um apelo à população para evitar a ruptura da democracia, lembrando os trágicos eventos de 2019.

Governos pela democracia

O presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, convocou reunião de emergência para tratar da tentativa de golpe de estado na Bolívia. Para jornalistas, adiantou: “Como eu sou um amante da democracia, eu quero que a democracia prevaleça. Na América Latina, o golpe nunca deu certo”.

A Secretaria-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) condenou veementemente os acontecimentos na Bolívia. “O Exército deve submeter-se ao poder civil legitimamente eleito. Enviamos nossa solidariedade ao Presidente da Bolívia, Luis Arce Catacora, ao seu governo e a todo o povo boliviano”, escreveu no X, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro. “A comunidade internacional, a OEA e a Secretaria-Geral não tolerarão qualquer violação da ordem constitucional legítima na Bolivia ou em qualquer outro lugar.”

O presidente do Paraguai, Santiago Peña, anfitrião da reunião da OEA, em Assunção, disse condenar “as mobilizações irregulares do exército boliviano denunciadas pelo presidente Luis Arce”, e fez um “forte apelo ao respeito pela democracia e pelo Estado de direito”, em declarações no X.

Gabriel Boric, presidente do Chile, expressou a “preocupação pela situação na Bolívia”, e destacou o “apoio à democracia no nosso país irmão e ao governo legítimo de Luis Arce”.

“Condenamos veementemente a inaceitável ação de força por parte de um sector do Exército daquele país. Não podemos tolerar qualquer violação da ordem constitucional legítima na Bolívia ou em qualquer outro lugar”, concluiu o líder chileno.

O presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez, de Cuba, expressou indignação com as imagens de violência contra a democracia e o povo boliviano, mostrando solidariedade a Arce: “Repudiamos o intento de golpe de Estado em marcha e estendemos toda a solidariedade do governo e povo cubano ao irmão Luis Arce. Denunciamos indícios de possível ação militar contra a Constituição do Estado Plurinacional de Bolivia que teria graves consequências. Rechaçamos os intentos de subverter a vontade popular.”

A presidenta Xiomara Castro de Zelaya, de Honduras, convocou os presidentes dos países membros da CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) a condenarem o fascismo que hoje atenta contra a democracia em Bolívia: “As forças militares assestaram novamente um criminal golpe de Estado. Expressamos nosso apoio incondicional ao irmão povo da Bolívia, ao presidente Luis Arce e a Evo Morales.”

Através da conta oficial da Presidência no X, a chefe de Estado do Peru, Dina Boluarte, disse que o país” condena veementemente a tentativa de ruptura constitucional no Estado Plurinacional da Bolívia, e que “apóia o povo e o governo constitucional do presidente Luis Arce, e rejeita qualquer ato que ameace a ordem democrática e institucional daquele país”.

“Da mesma forma, [o Peru] manifesta o seu apoio aos esforços institucionais para preservar a ordem e o Estado de direito no país irmão da Bolívia”, conclui a publicação.

Em comunicado, a Chancelaria do Equador disse “lamentar os ocorridos na Bolívia”, e que o país “faz votos pela vigência da democracia, do Estado de direito, e pelo respeito à ordem constitucional estabelecida”.

“Confiamos em uma saída pacífica a esta grave situação. Reiteramos nossa solidariedade ao povo boliviano”, conclui o breve comunicado.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, afirmou no X que seu governo expressa “a mais veemente condenação à tentativa de golpe de Estado na Bolívia”.

“Nosso total apoio e apoio ao presidente Luis Alberto Arce Catacora, autêntica autoridade democrática dessa cidade e país irmão”, escreveu o líder mexicano.

As críticas vieram também veio da União Europeia (UE), Josep Borrell, chefe da diplomacia do bloco, disse no X que a UE “condena qualquer tentativa de perturbar a ordem constitucional na Bolívia, e de derrubar governos democraticamente eleitos, e manifesta a sua solidariedade para com o governo e o povo bolivianos”.

A vice-presidente da Nicarágua, companheira Rosario Murillo, em mensagem através do meio de comunicação Poder Cidadão, anunciou a posição do Governo da Nicarágua na qual denuncia e condena a tentativa de golpe de Estado na irmã República da Bolívia.

“Denunciamos as manobras e movimentos militares que ocorrem no centro da capital boliviana, La Paz, na tentativa de intimidar os esforços do povo desse país irmão, para transcender e avançar em seus próprios caminhos, de acordo com seus próprios Modelos Democráticos, e, de acordo com as Aspirações e Direitos, viver criando o seu próprio Destino, sem interferências ou intervenções de qualquer espécie”, diz o governo nicaraguense, lembrando seu histórico de resistência a agressões estrangeiras.

Mobilização regional e alerta

Os apoios da sociedade civil também se acumulam rapidamente conforme os acontecimentos em La Paz se atropelam. Diversas lideranças da América Latina manifestaram apoio ao presidente Luis Arce e condenaram qualquer tentativa de golpe de Estado:

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) denunciou a “grave ameaça feita por militares golpistas na Bolívia nesta quarta-feira (26), contra o estado democrático e o governo legalmente eleito”.

“É preciso a imediata solidariedade dos países latino-americanos, para isolar, derrotar e punir os golpistas. É inaceitável que a América Latina ainda tenha que conviver com arroubos arcaicos e autoritários dos que se julgam acima do poder soberano do povo, a serviço de interesses externos. Ao presidente Luis Arce, às forças democráticas da Bolívia e a todo o povo boliviano, nossa irrestrita solidariedade”, diz a nota assinada pela secretária de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Prestes.

A bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados também denuncia a “grave ameaça feita por militares golpistas na Bolívia nesta quarta-feira (26) contra o estado democrático e o governo legalmente eleito”.
“A bancada do PCdoB se soma às vozes em defesa da democracia na Bolívia, do povo boliviano e do governo legitimamente eleito. Ao presidente Luis Arce, às forças democráticas da Bolívia e a todo o povo boliviano, nossa irrestrita solidariedade”.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), do Brasil, afirmou: “A Bolívia sofre com mais um golpe de estado. Cinco anos depois de militares retirarem Evo Morales do poder, atentam novamente contra a democracia de nosso país irmão sul-americano, hoje presidido por Luis Arce. O Brasil e a América Latina não vão tolerar mais esta violência contra o povo boliviano. Democracia já e punição exemplar para todos os golpistas!”

A organização ALBA Movimientos alertou sobre o novo intento de golpe de Estado e chamou os movimentos sociais e populares da região a estarem em alerta e mobilização para defender a vontade popular do povo boliviano. Em sua declaração, enfatizaram a importância de manter a ordem constitucional que o povo boliviano defendeu desde a recuperação da democracia em 2020, após o golpe de Estado de 2019.

“Chamamos os movimentos sociais e populares da região a estarem em alerta e mobilização para defender a vontade popular do povo boliviano que elegeu Luis Arce Catacora como seu presidente em 2020. Nos solidarizamos com as organizações e o povo da irmã Bolívia frente a um novo intento de golpe.”

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