Concha Acústica da UFC é renomeada para homenagear guerrilheiro do Araguaia

Espaço leva agora o nome de Bergson Gurjão. “Ver o nome dele associado ao UFC é motivo de muito orgulho”, afirma sua irmã, Ielnia Gurjão

Fotos: Viktor Braga e montagem sobre foto de arquivo pessoal

Na última sexta-feira, 1º de novembro, o Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Ceará (UFC) aprovou, por aclamação, a mudança de nome da Concha Acústica da Reitoria para “Concha Acústica Bergson Gurjão Farias”. O espaço, inaugurado em 1959, é cenário de colações de grau, eventos institucionais e apresentações culturais, e está localizado no coração do campus da Reitoria, no cruzamento das avenidas 13 de Maio e da Universidade.

Bergson Gurjão foi estudante de Química na UFC e se destacou como ativista e líder estudantil. Assim como vários outros estudantes, ele foi assassinado durante o regime militar após desaparecer na região do Araguaia em meados de 1972. Seus restos mortais foram localizados em 1990 após exames de DNA, e seu sepultamento ocorreu em 2009 em Fortaleza, encerrando quase quatro décadas de buscas por respostas por parte de sua família.

“Essa homenagem é essencial para que a gente entenda o que aconteceu no passado e saiba identificar as ameaças no presente. Dar o nome à Concha de alguém que dedicou sua vida para lutar contra a opressão é um símbolo de compromisso da Universidade”, destacou o diretor da Faculdade de Direito, professor Gustavo Cabral.

Ielnia Gurjão, irmã de Bergson, expressou seus sentimentos sobre a homenagem em entrevista ao Portal Vermelho. “Eu recebi a notícia com muito orgulho, muita tristeza e muita saudade. Da nossa família, eu e o meu irmão Gessiner Jr. que mora em Brasília, somos os únicos que ainda estamos por aqui. Tenho certeza de que a nossa mãe, Luiza, e irmã Tânia estariam aí celebrando com todos vocês”, disse Ielnia. Ela também ressaltou o simbolismo da Concha Acústica, afirmando: “Ver agora o nome dele associado à UFC é motivo de muito orgulho e me dá vontade de dizer ‘Já estava na hora’.”

Termo de Reconciliação Histórica

Na mesma ocasião, o Conselho aprovou o Termo de Reconciliação Histórica com a Democracia e os Direitos Humanos, um documento que reconhece e homenageia aqueles que foram perseguidos pela instituição durante os anos da ditadura. Este termo declara que a UFC, ao completar 70 anos de fundação, “lança luzes sobre o período obscuro também vivenciado na nossa Instituição durante a ditadura (1964-1985)”.

Além da nova denominação, o Conselho aprovou um Termo de Reconciliação Histórica com a Democracia e os Direitos Humanos. Esse documento busca reafirmar os princípios da UFC em um reencontro, “em especial, com os estudantes que, nas lutas e nas resistências contra a tirania, foram vitimados por atos institucionais que lhes negaram o seguimento dos estudos, com prisões, suspensões e expulsões.”

O termo afirma que o UFC busca atualizar e restabelecer a compreensão atualizada do “seu passado recente, sem buscar apagá-lo, mas registrando na sua história institucional essa reconciliação histórica para que não se esqueça nem nunca mais aconteça um regime ditatorial em nosso País.”

Ielnia também comentou sobre a importância do reconhecimento da luta dos estudantes durante a ditadura: “Acho essencial esse reconhecimento da importância histórica dos estudantes na luta pela Democracia, não só na UFC como em todas as Universidades do país. Os estudantes foram vítimas do seu amor ao nosso país, da sua vontade de ver um Brasil livre, sem censuras e sem torturas. Os estudantes estavam na vanguarda do movimento contra a ditadura e muitos sacrificaram sua vida, como o Bergson, o Antônio Teodoro de Castro, e muitos outros. Há os que sofreram torturas e perseguições difíceis de se imaginar. O pedido de desculpas é essencial para validar os Direitos humanos e o processo de reconciliação”, enfatizou.

Além disso, Ielnia salienta que o “pedido de desculpas deve se estender aos familiares daqueles que foram vítimas, porque eles também foram vitimizados. O nosso pai faleceu vítima de um coração partido. Ele sofreu um ataque cardíaco logo depois que o Bergson desapareceu. A nossa mãe perdeu o brilho do olhar, mas, mesmo na tristeza, passou o resto da vida lutando para encontrar o filho desaparecido.  Faleceu quatro meses depois que enterramos seus restos mortais. Essas famílias merecem também um pedido de desculpas. Foram elas que sofreram e ainda sofrem sem tréguas durante todos esses anos. anos”, finalizou.

No marco dos 60 anos do Golpe Militar no Brasil, a UFC reafirma sua missão humanista e compromisso com a democracia, preservando em sua história o simbolismo e o reconhecimento daqueles que lutaram por liberdades e direitos.

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