Vereador de Salvador defende equilíbrio entre luta social e política institucional

Reeleito pelo PCdoB, Augusto Vasconcelos discute conservadorismo da Câmara, desafios do sindicalismo e como dialogar com um eleitor desencantado

Augusto Vasconcelos defende a proximidade constante das lideranças políticas com a luta social, para reencantar o eleitor com as pautas da esquerda

Em meio aos desafios da política soteropolitana, Augusto Vasconcelos emerge como um exemplo de coerência entre prática e discurso. Reeleito vereador pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) com expressiva votação, sua trajetória reflete a fusão de engajamento social e atuação legislativa.

Advogado, professor universitário e presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto acumula décadas de ativismo. Sua ligação com os movimentos sociais e sindicais começou cedo, nos tempos do movimento estudantil, e se consolidou em defesa dos direitos trabalhistas e da educação pública. Essa base sólida moldou um mandato voltado para as necessidades reais da população.

Durante seu primeiro período na Câmara Municipal de Salvador, Augusto apresentou mais de 170 proposições, liderou 70 audiências públicas e realizou milhares de atendimentos como ouvidor geral. “O que nos diferencia é a proximidade com as ruas, com a juventude e com as comunidades. Trabalhamos em pautas como educação, transporte público, cultura, esportes e o enfrentamento ao racismo estrutural”, ressalta.

Mesmo diante de adversidades pessoais, como a hospitalização de um filho, Augusto permaneceu atuante. “A política exige dedicação plena, principalmente quando está em jogo o bem-estar coletivo”, diz.

Assista a íntegra da entrevista ao Entrelinhas Vermelhas:

Enfrentando uma Câmara conservadora

Salvador, uma cidade de tradição progressista no voto majoritário, convive com uma Câmara Municipal predominantemente conservadora. Apenas cerca de 15% dos vereadores representam pautas de esquerda, criando um cenário desafiador para avanços legislativos de caráter social.

“Apesar de Salvador ter dado mais de 70% dos votos a Lula no segundo turno, a representatividade progressista na Câmara ainda é limitada. Isso mostra o paradoxo da política local”, analisa Augusto. Ele destaca o papel da articulação e do diálogo em um ambiente que frequentemente resiste às pautas progressistas.

Entre suas prioridades para o novo mandato estão a revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), a regulação da especulação imobiliária e a transformação do transporte público em um direito acessível a todos. “Defendemos um transporte público subsidiado e universal, semelhante ao que é feito na educação e na saúde”, pontua.

Sindicalismo e política: caminhos complementares

A atuação sindical de Augusto é um pilar de sua trajetória. Como presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, ele liderou mobilizações contra a precarização do trabalho e as reformas trabalhistas. Para ele, a combinação da luta sindical com a política institucional é essencial para transformar a sociedade.

“Os sindicatos são espaços de resistência que precisam dialogar com o legislativo. A conexão entre as demandas das ruas e a atuação parlamentar é o que dá força ao nosso trabalho no PCdoB”, argumenta. Augusto também enfatiza a necessidade de inovar na comunicação com os trabalhadores, usando tecnologias para alcançar públicos mais amplos e diversificados.

Augusto reconhece o momento de defensiva da esquerda, mesmo após a eleição de Lula à Presidência. Ele acredita que a reconstrução do protagonismo progressista exige autocrítica e capacidade de comunicar ideias de forma acessível. “É preciso reencantar as pessoas, mostrando que soluções individuais não bastam e que a transformação virá da luta coletiva”, afirma.

Com o olhar voltado para o futuro, o vereador aposta na economia criativa como caminho para reduzir desigualdades e reestruturar a economia local. “Queremos uma Salvador que combine desenvolvimento com justiça social, valorizando nossa cultura e diversidade”, conclui.

A trajetória de Augusto Vasconcelos ilustra como a política pode ser uma ferramenta de transformação, mesmo em cenários adversos. Sua atuação serve como um lembrete de que, no equilíbrio entre luta social e política institucional, é possível criar caminhos para um futuro mais igualitário e solidário.

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