Premiê francês entrega cargo a Macron após moção de censura no Parlamento
Michel Barnier teve moção de censura aprovada pelo Parlamento francês na quarta (4) e é obrigado a deixar o cargo. Premiê foi indicado por Macron ao cargo há três meses
Publicado 05/12/2024 10:59 | Editado 06/12/2024 08:42

O primeiro-ministro da França, Michel Barnier, foi nesta quinta (5) ao palácio presidencial de Eliseu, em Paris, para entregar sua carta de renúncia ao presidente Emmanuel Macron. O Parlamento do país aprovou nesta quarta (4) uma moção de censura com 331 votos dos 577 possíveis, tornando Barnier o primeiro premiê derrubado pelos legisladores em mais de 60 anos.
A renúncia de Barnier deve ser oficializada nas próximas horas. Um pronunciamento de Macron está marcado para as 16h, no horário de Brasília (20h no horário local).
A saída de Barnier aprofunda a instabilidade política não apenas na França, mas também na União Europeia. Além do país, a Alemanha, a principal potência do bloco, deve passar por eleições antecipadas depois que a coligação governista de Olaf Scholz ruir.
Com a queda de Barnier, Macron deve nomear um novo primeiro-ministro. A previsão é que ele aja rapidamente para formar um novo governo, especialmente porque o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, deve chegar a Paris neste fim de semana para a reabertura da catedral de Notre Dame.
Macron quer evitar o constrangimento de um governo inexistente momentos antes da posse do novo governo de Trump, que deve remodelar o xadrez geopolítico, sobretudo no que tange o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
De acordo com a imprensa local, Barnier e Macron se encontraram por mais de uma hora. Esse é o primeiro governo francês a ser derrotado em um voto de desconfiança desde 1962, e Barnier se torna o primeiro-ministro com o menor mandato na história do país — ele iniciou o mandato há três meses.
Espera-se agora que o gabinete de Barnier atue de maneira interina até que o presidente Emmanuel Macron nomeie uma nova liderança. Macron nomeou o premiê para liderar um governo minoritário após uma eleição antecipada que dividiu o Parlamento francês.
Nas últimas semanas, a esquerda liderada pela França Insubmissa (LFI, na sigla em francês), de Jean-Luc Melénchon, sinalizou que não aprovaria o orçamento de 2025 proposto por Barnier e Macron. A proposta tinha caráter contracionista e de austeridade fiscal.
Durante as discussões parlamentares, Barnier passou a depender da extrema direita e o Reunião Nacional (RN). Fiadora do governo de Macron, a líder extremista Marine Le Pen percebeu o protagonismo político e passou a atuar para minar os esforços do premiê. Nesta semana, Le Pen rompeu por completo com o macronismo e votou com a LFI pela moção de censura.
A situação se tornou insustentável na segunda (2), quando Barnier foi forçado a usar um mecanismo constitucional arriscado que contornou uma votação sobre o Orçamento de 2025.
Michel Barnier, político pragmático e veterano, foi colocado no posto há apenas três meses pelo presidente Emmanuel Macron — na França, o primeiro-ministro governa junto ao presidente, que pode tanto convocar eleições para eleger um premiê quanto indicar um nome fora do pleito.
Os franceses foram às urnas em junho para as eleições parlamentares. O bloco da esquerda venceu, barrando a favorita Reunião Nacional, da extrema direita, mas não alcançando a maioria necessária para formar governo.
Macron decidiu, então, escolher um primeiro-ministro de centro-direita, em decisão que gerou uma onda de protestos. O impasse político na França deve jogar não só o país mas todo o bloco europeu em uma grave crise econômica e institucional.