China: avanço global e desafios para o Brasil
Em entrevista ao Entrelinhas Vermelhas, Evandro Carvalho analisa a Nova Rota da Seda, o papel do Partido Comunista da China e as oportunidades perdidas pelo Brasil
Publicado 20/12/2024 14:40 | Editado 20/12/2024 15:12

O professor de Direito Internacional Evandro Carvalho, fundador do Centro de Estudos dos BRICS e um dos maiores especialistas brasileiros em relações sino-brasileiras, foi o convidado desta quinta (19) do programa Entrelinhas Vermelhas. Durante a conversa, Evandro discute a projeção da China como potência global, o impacto da Nova Rota da Seda e as implicações para o Brasil. O professor também destaca a importância do Partido Comunista Chinês (PCCh) no modelo de desenvolvimento que tirou 800 milhões de pessoas da pobreza.
Assista à íntegra da entrevista:
A Nova Rota da Seda: uma iniciativa transformadora
Evandro Carvalho explica como a Nova Rota da Seda, também conhecida como Iniciativa Cinturão e Rota, está redefinindo a política externa chinesa. “Essa iniciativa é um marco na história da China. Ela conecta mais de 150 países, com investimentos que superam 1 trilhão de dólares, principalmente em infraestrutura, integração financeira e intercâmbio cultural”, afirmou. Segundo ele, o projeto reflete a ambição da China de construir laços multilaterais baseados no desenvolvimento compartilhado.
Ao lembrar de sua experiência na China durante o lançamento da iniciativa, em 2013, Carvalho destacou o impacto global do projeto: “A Nova Rota da Seda é mais do que estradas e portos. É um esforço para ampliar a cooperação internacional e promover a ciência, a arte e a educação como pilares do progresso.”
Oportunidades perdidas pelo Brasil
Sobre a ausência do Brasil na iniciativa, Evandro foi categórico: “É uma oportunidade perdida. O Brasil poderia liderar discussões regionais sobre infraestrutura ou aderir a projetos específicos, como a Rota da Seda da Saúde. Mas prefere adotar uma postura reticente, que não favorece nosso desenvolvimento.”
Ele ressalta que a China negocia de forma diferenciada com cada país participante, ao contrário de organizações como o FMI. “Enquanto o FMI impõe pacotes fechados, a China adapta as condições às necessidades locais. Isso explica por que tantos países aderiram à iniciativa”, observou.
O papel do Partido Comunista Chinês
Evandro também destaca o papel central do Partido Comunista da China no modelo de governança que transformou o país. “Não se pode entender a China sem reconhecer a liderança do PCCh. Foi ele quem tirou 800 milhões de pessoas da pobreza e elevou o PIB chinês a quase 18 trilhões de dólares”, afirmou.
Ele ainda apontou que o partido enfrenta novos desafios, como a pressão de uma geração mais educada e conectada. “O grande desafio é equilibrar as demandas dessa nova geração com a continuidade do progresso econômico”, disse.
Ciência, educação e a relação Brasil-China
Carvalho alerta para a necessidade de o Brasil investir mais em pesquisa e educação para acompanhar o ritmo da China. “Hoje, a China lidera em áreas como energia renovável e tecnologia aeroespacial. Sem um investimento pesado em educação, o Brasil não conseguirá construir uma parceria de igual para igual.”
Ele também sugere iniciativas concretas para fortalecer os laços bilaterais, como parcerias em saúde e tecnologia. “A China tem grande interesse em pesquisas sobre doenças tropicais. Esse poderia ser um ponto de convergência para ambos os países”, destacou.
Ao concluir, Evandro Carvalho reforça a importância de o Brasil superar temores infundados e aproveitar as oportunidades da parceria com a China. “A China já é nossa maior parceira comercial. Precisamos agora transformar esse laço econômico em algo mais significativo para o futuro do Brasil”, concluiu.
A entrevista completa está disponível no canal do YouTube e no Spotify do Portal Vermelho.