Governo Tarcísio dificulta acesso à obra de Haroldo de Campos

Cerca de 21 mil volumes ocupavam a Casa das Rosas, na Av. Paulista, desde a doação do acervo, transferido para depósito em Barueri. Augusto de Campos fala em “crime cultural”

Haroldo de Campos. Foto: Eder. C

O acervo do poeta, tradutor e crítico Haroldo de Campos (1929-2003) com 21 mil volumes, entre livros e itens bibliográficos, foi transferido pelo governo de São Paulo sem consulta prévia à família. Os volumes foram removidos pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) da “Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura” para um depósito (Clé Reserva) especializado em conservação na cidade de Barueri, na Região Metropolitana.

Segundo Daisy Rezende, viúva do filho do poeta precursor do concretismo, Ivan de Campos, a família foi avisada com o processo de mudança em curso. Ela disse à Folha que os familiares não concordam com a mudança, uma vez que uma das condições para a doação do acervo ao estado era o acesso facilitado para a consulta da população.

Outra exigência seria que o local que abrigasse as obras deveria ter o nome do poeta, como mantém a Casa das Rosas, além de ter uma comissão indicada pelo governo e família para deliberar sobre o acervo.

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O irmão de Haroldo, Augusto de Campos, de 93 anos, outro histórico poeta concreto, classificou para o jornal a mudança como “crime cultural inominável” e fez um apelo para que a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e o Ministério Público intervenham no caso. Ele também disse que a conduta do governo de São Paulo é suspeita, sendo que devem se explicar perante a população.

A Secretaria da Cultura informou que a transferência foi feita para uma reserva técnica apropriada para receber os itens e que o acesso continua como era feito no antigo abrigo, mediante agendamento. É previsto para final de março a volta das consultas, após a mudança que foi finalizada em 27 de janeiro.

Chama a atenção que a Casa das Rosas ficou fechada para reformas por dois anos com investimento superior a R$ 4 milhões e não foi considerada a permanência da obra que já estavam lá.

MP

Na última quinta (13), o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) requiriu à Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de São Paulo um pedido de explicações da secretária estadual de Cultura, Marília Marton, sobre o caso. Ele ainda pediu para a Procuradoria-Geral de Justiça do Estado analise a mudança.

*Com informações Folha de São Paulo