Rússia anuncia novo cessar-fogo de três dias na Ucrânia
Trégua coincidirá com o 80º aniversário da vitória soviética na Segunda Guerra; Trump pressiona por acordo e sugere que Ucrânia ceda a Crimeia para encerrar o conflito
Publicado 28/04/2025 16:32 | Editado 28/04/2025 17:32

O governo russo anunciou nesta segunda-feira (28) um novo cessar-fogo de três dias na Ucrânia. A trégua ocorrerá nos dias 8, 9 e 10 de maio, coincidindo com as celebrações do 80º aniversário do Dia da Vitória — data em que a União Soviética derrotou a Alemanha Nazista.
De acordo com o Kremlin, a suspensão das hostilidades tem “razões humanitárias” e visa criar um ambiente propício à reflexão histórica. No entanto, o governo de Vladimir Putin alertou que, caso a Ucrânia descumpra o cessar-fogo, haverá “resposta adequada e eficaz” das Forças Armadas russas.
Até o momento, o governo ucraniano não respondeu oficialmente ao anúncio, mas o Ministério das Relações Exteriores de Kiev reiterou seu apelo por um “cessar-fogo imediato e duradouro”.
Trump antecipa cessão da Crimeia por Zelensky
O cessar-fogo foi anunciado pouco depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionar Putin a parar os bombardeios e propor um acordo de paz definitivo. Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se encontraram no Vaticano durante o funeral do papa Francisco no fim de semana, em um gesto de tentativa de reaproximação após meses de tensões diplomáticas.
Trump afirmou que Zelensky “está mais calmo” e reconheceu que a Ucrânia luta “contra uma força muito maior”. Ele também afirmou que Putin precisa “sentar e assinar um acordo”, reiterando sua promessa de que poderia encerrar a guerra rapidamente caso as negociações avancem.
No entanto, Trump gerou controvérsias ao sugerir que Zelensky estaria disposto a ceder a Crimeia à Rússia — algo que Kiev sempre rejeitou veementemente. Em declarações à imprensa, Trump alegou: “Penso que sim”, ao ser questionado se o presidente ucraniano aceitaria abrir mão da península anexada por Moscou em 2014.
Crimeia continua sendo o principal impasse
A Crimeia e as regiões do leste da Ucrânia ocupadas pela Rússia permanecem o principal entrave para um acordo de paz. A Ucrânia exige a devolução integral de seus territórios, enquanto Moscou insiste que a Crimeia e áreas de Donetsk e Luhansk já fazem parte oficialmente da Federação Russa.
Em entrevista à rede CBS, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, descartou qualquer negociação sobre a Crimeia: “A Rússia não renegoceia seu próprio território”, afirmou categoricamente.
Enquanto Trump busca mediar um acordo, Kiev tenta assegurar que um eventual cessar-fogo preserve sua integridade territorial. O próprio Zelensky destacou após o encontro com Trump que espera alcançar uma “paz confiável e duradoura”, sem concessões que possam acirrar novas tensões no futuro.
Um cessar-fogo em clima de desconfiança
Este será o segundo cessar-fogo proposto pela Rússia em um curto espaço de tempo. No anterior, por ocasião da Páscoa, a trégua foi amplamente ignorada no campo de batalha, com acusações de violações.
A guerra na Ucrânia já ultrapassa três anos de duração, sem perspectivas claras de uma solução negociada. Com cerca de 20% do território ucraniano sob ocupação russa, o desafio agora é transformar o cessar-fogo temporário em um primeiro passo rumo a um acordo de paz real — algo que depende não apenas da boa vontade de Moscou e Kiev, mas também da habilidade de Washington em conduzir as tratativas, diplomacia que não tem sido o forte do presidente dos EUA.