Israel intensifica cerco a Gaza com onda de massacres e mais de 100 mortos

Bombardeios atingem áreas civis e hospital em Khan Younis; cerco a Rafah se consolida enquanto Trump propõe controle externo. Aliados ocidentais criticam ofensiva.

Corpos de palestinos mortos em ataques aéreos israelenses são transportados para sepultamento em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, na quinta-feira (16). Foto: Reprodução

A Faixa de Gaza vive nesta semana uma das ofensivas mais letais desde o colapso do cessar-fogo em março. De acordo com autoridades de saúde palestinas, ao menos 106 pessoas foram mortas em ataques israelenses entre terça (14) e quinta-feira (16), incluindo 22 crianças. O número de vítimas pode ser ainda maior, segundo o Crescente Vermelho.

As forças israelenses bombardearam áreas densamente povoadas em Khan Younis, Jabalia e Cidade de Gaza. Em Jabalia, dezenas de civis morreram após mísseis atingirem casas durante a madrugada. Um ataque também atingiu uma escavadeira nas imediações do Hospital Europeu, matando e ferindo socorristas que tentavam acessar os escombros.

O ministério da Saúde de Gaza relatou que equipes de resgate não conseguem alcançar várias das vítimas, soterradas em zonas sob constante fogo aéreo.

De acordo com a Al Jazeera, civis foram atingidos enquanto dormiam. “Famílias inteiras desapareceram”, relatou um paramédico. A ONU afirmou que a operação militar viola abertamente o direito humanitário internacional.

Israel cerca Rafah e transforma zona civil em anel de ocupação militar

O cerco à cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, avança com velocidade. Imagens de satélite analisadas pelo New York Times mostram que Israel já destruiu bairros inteiros e instalou uma nova rede de infraestrutura militar: estradas pavimentadas, postos de controle, trincheiras e fortificações.

O governo israelense afirmou que pretende “replicar o modelo de Rafah” em toda Gaza: controle físico total do território após demolição sistemática das áreas urbanas. Desde o início da operação, escolas, hospitais de campanha, mesquitas e até áreas agrícolas foram destruídas.

A cidade abrigava mais de um milhão de deslocados internos. Com o novo cerco, milhares de palestinos tentam fugir novamente, sem saber para onde ir. A ONU alertou para a iminência de uma catástrofe humanitária irreversível. A entrada de alimentos, remédios e combustível está totalmente bloqueada desde 2 de março.

Trump propõe “zona de liberdade” em Gaza e exclui Israel de giro diplomático

O ex-presidente Donald Trump propôs transformar Gaza em uma “zona de liberdade” sob administração dos Estados Unidos. A declaração foi feita durante visita à Arábia Saudita, como parte de um giro diplomático que incluiu também o Catar e os Emirados Árabes Unidos — mas não Israel.

Trump declarou que os EUA deveriam “tomar conta da Faixa de Gaza” para “garantir um futuro melhor aos civis”. A proposta foi mal recebida em Tel Aviv. Fontes israelenses afirmaram ao New York Times que Netanyahu se sente “escanteado” e tem receio de perder o protagonismo na região.

Mesmo com a libertação do último refém americano vivo em Gaza, não há avanço concreto para um novo cessar-fogo. As conversas seguem travadas no Catar, e o cerco israelense se intensifica. O povo palestino continua sitiado — sem refúgio, sem pão, sem trégua.

Protestos e dissidências se espalham por governos e sociedade civil

A nova fase da guerra em Gaza provocou uma onda de críticas de governos ocidentais e atos de dissidência civil. A nova chanceler do Canadá, Anita Anand, acusou Israel de usar a fome como “ferramenta política”. “Mais de 50 mil pessoas morreram. Usar comida como arma é inaceitável”, afirmou.

Na Europa, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, declarou que a situação em Gaza é “dramática e injustificável”. O presidente francês Emmanuel Macron foi além: chamou a política israelense de “vergonhosa”. Netanyahu reagiu acusando Macron de estar “ao lado do Hamas”.

Na Noruega, o fundo soberano nacional anunciou o desinvestimento da empresa israelense Paz Energy, que abastece postos em assentamentos ilegais. Poucos dias antes, o sindicato LO aprovou um boicote econômico total a Israel. O governo norueguês tem resistido à medida, mas admite a pressão crescente.

Nos Estados Unidos, o cofundador da Ben & Jerry’s, Ben Cohen, foi preso após protestar no Senado contra o financiamento militar a Israel. “O Congresso paga para bombardear crianças em Gaza e tira Medicaid de crianças pobres nos EUA”, disse. A manifestação foi breve, mas chamou atenção para a dissidência crescente em setores liberais da sociedade norte-americana.

Manifestações em solidariedade à Palestina estão sendo convocadas em diversas cidades do mundo, incluindo São Paulo, Buenos Aires, Paris, Londres e Montreal. Movimentos populares cobram o fim imediato da ofensiva israelense e a retomada de negociações sob mediação internacional.

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