EUA querem usar energia excedente de Itaipu para alimentar datacenters

País que figura entre os maiores consumidores de energia para essa finalidade está de olho na sobra paraguaia. Negociação de novo acordo entre Brasil e o vizinho está parada

Marco Rubio. Foto: Gage Skidmore/Wikimedia

Declaração feita pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, deixou claro que o país está de olho na energia excedente gerada pela parte paraguaia da usina binacional de Itaipu.

Durante audiência da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA nesta terça-feira (20), Rubio sugeriu que empresas estadunidenses comprem esse excedente para alimentar datacenters que trabalham com inteligência artificial.

“O Paraguai tem um acordo de longo prazo com o Brasil pelo qual ele vende 50% da energia produzida. Esse contrato expirou e estão tentando ver o que fazem com esses 50% que não vão mais para o Brasil. Você não consegue colocar essa energia em tanques e enviar para outros países”, afirmou. Ele também declarou que “se alguém for esperto, vai até o Paraguai e vai instalar uma fábrica de IA lá”.

A fala de Rubio ocorre no momento em que estão suspensas as negociações entre o Brasil e o Paraguai sobre um novo acordo relativo a Itaipu. Em 2023, venceu o instrumento que vigorou por 50 anos, segundo o qual os dois países dividiam a energia produzida e o Brasil podia comprar o excedente paraguaio, uma vez que o país vizinho não utiliza a sua totalidade. 


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O Paraguai, que tem nesse excedente parte considerável de sua renda, quer aumentar o preço da tarifa paga pelo Brasil. Já o Brasil tenta manter o preço atual ao longo de 2025.

No ano passado, os dois países assinaram um pré-acordo que autorizava o Paraguai a vender essa energia diretamente para indústrias brasileiras.

Em meio a esse processo, no final de março foi noticiado um suposto ataque hacker, via Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a autoridades paraguaias, que teria relação com as negociações sobre Itaipu.

Na ocasião, o Palácio do Planalto emitiu nota em que desmentia “categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência” contra o Paraguai. A citada operação, destacou, “foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”.

Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o consumo de eletricidade em datacenters deverá mais do que dobrar até 2030, devido ao uso e desenvolvimento de IA. Em 2024, os datacenters respondiam por cerca de 1,5% do consumo global de eletricidade, percentual que aumentou 12% em cinco anos.

EUA, Europa e China são responsáveis, atualmente, por 85% do consumo de datacenters, o que explica o interesse dos norte-americanos em energia para essa finalidade, sobretudo considerando a ligação entre o governo de Donald Trump e empresas de tecnologia e desenvolvedoras de IA.

Com agências