Deputadas estaduais de SP são ameaçadas em ataque político articulado
E-mail com ameaças de morte e estupro mira as 25 deputadas e escancara violência de gênero; parlamentares veem tentativa de silenciamento e cobram ação urgente do Estado
Publicado 03/06/2025 11:04 | Editado 03/06/2025 12:07

Todas as 24 deputadas estaduais de São Paulo receberam e-mail no último sábado (31) com ameaças de morte e estupro. A mensagem, com teor abertamente misógino, racista e capacitista, citava nominalmente algumas parlamentares e gerou forte comoção entre as integrantes da Casa.
Em nota conjunta divulgada nesta segunda-feira (2), as parlamentares denunciaram o ataque como uma tentativa de silenciar mulheres que ocupam posições de poder. “Trata-se de uma nítida tentativa de silenciar mulheres em um ataque misógino, racista e capacitista”, diz o texto. “É mais uma expressão de ódio e de violência a mulheres que buscam ocupar espaços de poder na política do nosso país.”
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As deputadas, entre elas a Leci Brandão, do PCdoB, destacam que, embora ameaças individuais já tenham ocorrido no passado, esta é a primeira vez que todas as mulheres da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) são alvo de um ataque coletivo. Elas defendem a adoção urgente de políticas públicas de enfrentamento à violência política de gênero.
Atualmente, 25 das 94 cadeiras da Alesp são ocupadas por mulheres — o que representa 27% da composição da Casa. É o maior número já registrado na história do parlamento estadual paulista. Em 2018, eram 19 mulheres; em 2014, apenas 11.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) confirmou que um homem de 28 anos está sendo investigado como autor das ameaças. “O caso foi registrado como ameaça, injúria racial e falsa identidade pela Assessoria da Polícia Civil junto à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Ainda nesta segunda, foram realizadas diligências que resultaram na apreensão de um computador e um telefone celular na residência de um homem de 28 anos, que é investigado”, informou a pasta.
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O presidente da Alesp, André do Prado, repudiou as ameaças e afirmou que “nenhuma agressão pode ser tolerada”. Por determinação da presidência, as Polícias Civil e Militar foram acionadas e acompanham o caso.
As parlamentares também protocolaram uma notícia-crime na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) e cobram providências imediatas. “Intimidações desse tipo NÃO PODEM SER ACEITAS sob o regime democrático em que vivemos, mas elas mostram o quão urgente também se faz a adoção de políticas públicas de enfrentamento à violência política de gênero”, diz a nota.
O caso evidencia a urgência de proteger a participação feminina na política e reforça a necessidade de combater com rigor os ataques misóginos e antidemocráticos que ainda persistem no país.
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com agências