Grilagem domina 80% do desmatamento na Amazônia em 2025

Relatório revela avanço de crimes ambientais em florestas públicas sem destinação legal. Especialistas cobram ação imediata antes da COP30.

Imagem aérea de sobrevoo de monitoramento de desmatamento na Amazônia no município de Lábrea, Amazonas, em 26 de março de 2022 | Foto: Greenpeace/Divulgação

Dados divulgados nesta quinta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, mostram que as florestas públicas não destinadas da Amazônia são hoje o epicentro do desmatamento no Brasil. Entre janeiro e abril de 2025, cerca de 80% de toda a área desmatada no bioma estava nesses territórios que ainda não foram oficialmente destinados para uso socioambiental, como unidades de conservação, terras indígenas ou quilombolas.

Essas florestas somam 50,2 milhões de hectares — o equivalente ao estado da Bahia — e seguem vulneráveis a crimes como grilagem, queimadas e extração ilegal de madeira. Segundo o Observatório das Florestas Públicas, que reúne dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do movimento Amazônia de Pé, o estado do Amazonas lidera em área desmatada no período, com 12,4 mil hectares perdidos.

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A ausência de destinação torna essas áreas terreno fértil para a especulação ilegal de terras, explica Rebecca Lima, coordenadora do Observatório. “Desmatar grandes áreas custa caro, ou seja, esse tipo de desmate pode estar ligado a grupos capitalizados ‘de olho’ em uma área e que, futuramente ou com brechas na legislação, tomam posse”, afirma.

Grilagem avança com apoio de cadastros irregulares

Mais de 32 milhões de hectares dessas florestas aparecem como propriedades privadas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Em 10,2 milhões de hectares, os registros são de grandes imóveis rurais — indício claro de tentativa de grilagem.

No mesmo período, 37,7 mil hectares dessas áreas foram destruídos pelo fogo. O Pará foi o estado com maior número de hectares queimados. O aumento do desmatamento em abril foi explosivo: 192% a mais que em março, e 229% superior ao mesmo mês de 2024.

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A situação tende a piorar com o avanço da estação seca. O relatório alerta que o cenário de 2024 — quando mais de 2,4 milhões de hectares dessas florestas queimaram — pode se repetir se nada for feito.

Pressão por medidas antes da COP30

Criada em 2023, a Câmara Técnica de Destinação indicou 14 milhões de hectares para análise, mas até agora nenhuma área foi oficialmente destinada. O processo esbarra em burocracias e demora nas ações de demarcação, regularização fundiária e retirada de invasores.

Especialistas defendem que a regularização dessas terras é uma estratégia chave para reduzir o desmatamento e conter a crise climática. “A proteção dessas áreas antes da COP30 é a oportunidade que o Brasil tem de chegar ao encontro apresentando esse bom exemplo ao mundo”, destaca Daniela Orofino, do movimento Amazônia de Pé.

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Para o Observatório, sem destinação oficial, essas terras seguem à mercê da destruição. A urgência é clara: ou o Estado assume sua responsabilidade e protege essas áreas, ou continuará perdendo a Amazônia para o crime ambiental.

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com agências

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