Trump x Musk: aliança entre bilionários vai do amor ao ódio em onze meses
Pacto entre presidente dos Estados Unidos e bilionário da tecnologia, que parecia imbatível, desmoronou após uma disputa sobre políticas orçamentárias e subsídios a carros elétricos
Publicado 06/06/2025 15:06 | Editado 07/06/2025 13:03

O romance entre Donald Trump e Elon Musk começou com promessas de eficiência governamental e transformações na economia norte-americana. Em 13 de julho do ano passado, Musk, que detém a SpaceX, a OpenAI, a Tesla e o X (antigo Twitter), declarou apoio público à campanha presidencial de Trump, marcando o início de uma colaboração iniciada entre o homem mais rico do mundo e o político mais controverso da atualidade.
Musk não apenas apoiou Trump publicamente, mas também se envolveu diretamente no governo, assumindo a liderança do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado com o objetivo de reduzir gastos públicos. Sua influência cresceu rapidamente, e em fevereiro de 2024, a revista Time chegou a ilustrar uma capa imaginando Musk sentado na cadeira presidencial.
Por sua vez, Trump elogiou Musk como um visionário e concedeu-lhe liberdade para implementar reformas. Na coletiva de despedida de Musk do governo, realizada em junho, Trump afirmou: “Fico honrado de estar com Elon e ele não está realmente indo embora, ele irá e voltará.”
Desentendimentos silenciosos: tarifas e subsídios geram atritos
Apesar da imagem de harmonia apresentada nas aparições públicas, por trás das cortinas, os primeiros sinais de desgaste surgiram. A política protecionista de Trump, incluindo aumentos de tarifas globais, prejudicou diretamente as operações internacionais da Tesla, especialmente na China, onde a empresa possui uma fábrica gigante.
Além disso, Musk demonstrou preocupação com os cortes nos subsídios federais aos veículos elétricos — uma medida que afetaria diretamente suas empresas, como a Tesla. Ele já veio alertando sobre os riscos de retrocessos na transição energética, contrastando com a visão de Trump, que defende o aumento da exploração de combustíveis fósseis.
A falha da crise: o “Big Beautiful Bill” e a guerra pública
O estopim da ruptura foi o projeto orçamentário conhecido como Big Beautiful Bill, enviado por Trump ao Congresso. O texto traz cortes em alguns setores e aumento de investimentos em defesa, mas gerou grande controvérsia ao elevar o déficit federal em cerca de 2,4 trilhões de dólares na próxima década.
Musk criticou duramente o projeto, chamando-o de “abominação repugnante”. Segundo ele, o projeto minava o trabalho do Doge e comprometia a sustentabilidade fiscal dos EUA. A crítica foi seguida de uma avalanche de postagens no X, onde Musk acusou Trump de aprovação precipitada de leis sem debate adequado.
Trump, inicialmente discreto, manifestou seu descontentamento em uma entrevista à CBS no final de maio. No entanto, na quinta-feira seguinte, durante um evento no Salão Oval, o titular da Casa Branca foi mais direto: disse estar “muito decepcionado” com Musk e sugeriu que o bilionário só se opõe ao projeto quando vê que seus interesses seriam afetados.
A resposta de Musk não demorou. Em tempo real, ele rebateu as declarações de Trump, negando qualquer conhecimento do conteúdo da lei e acusando o presidente de mentiroso. A troca de farpas rapidamente se intensificou. “Sem mim, Trump teria perdido a eleição”, disparou Musk. “A maneira mais fácil de economizar bilhões é encerrar contratos com Elon Musk”, devolveu Trump.
Escalada dramática: ameaças, acusações e até Epstein entra na briga
A tensão atingiu níveis nunca antes vistos quando Musk fez uma acusação grave contra Trump: afirmou, sem apresentar provas, que o nome do presidente aparece nos documentos relacionados ao caso Jeffrey Epstein — escândalo sexual envolvendo elites norte-americanas. Essa declaração provocou reações imediatas tanto na mídia quanto entre os apoiadores de Trump.
Enquanto isso, Musk anunciou que a SpaceX começaria a cancelar o uso público de seus foguetes em projetos governamentais, uma indicação clara de que estava usando sua posição estratégica como moeda de pressão. Por outro lado, Trump voltou a atacar Musk, dizendo que ele “ficou louco” e que a parceria era mais vantajosa para o empresário. Se SpaceX reduz colaboração com a Nasa, os EUA podem perder vantagem na corrida espacial frente à China.
Impacto político e econômico: quem sai mais prejudicado?
A briga entre Trump e Musk tem implicações significativas:
- Para Trump : apesar de ainda contar com forte base de apoio, o presidente enfrenta baixa popularidade (39% de aprovação) e precisa da aprovação de centristas republicanos para viabilizar seu pacote fiscal. As críticas de Musk podem impactar decisões importantes no Congresso devido ao risco de perder apoio de republicanos moderados no Congresso. O caso Epstein pode mobilizar opositores. Imagem de “aliado das techs” sai arranhada. O bate-boca histórico abriu uma nova crise no Partido Republicano com um racha entre a ala pró-Musk (tecnolibertários) e a base trumpista (protecionista).
- Para Musk : suas empresas, como Tesla e SpaceX, dependem de subsídios federais. Contratos bilionários com o governo estão em risco (Nasa e subsídios). Ameaças de Trump de cortar relações representam um risco real. Além disso, a queda de 14% nas ações da Tesla após a escalada da crise reflete a preocupação dos investidores com a gestão impulsiva de Musk. X (Twitter) vira campo de batalha polarizado. Os riscos são maiores para o empresário, já que Trump controla políticas que podem estrangular suas empresas.
O que começou como uma aliança histórica terminou em uma guerra pública cheia de golpes mútuos. Enquanto Trump tenta manter o controle sobre sua agenda legislativa, Musk usa sua rede social e influência global para combater políticas que consideram relevantes. Ambos saem fragilizados, e o mercado financeiro e a classe política assistem perplexos ao espetáculo.
O confronto entre dois titãs revela fragilidades tanto no estilo de governança de Trump quanto na posição de Musk como empresário e ex-servidor público. A pergunta agora é: quem recuará primeiro? Ou será que nenhum dos dois está disposto a dar o braço a torcer?
Cronologia da Queda: de aliados a inimigos públicos:
DADOS | EVENTO |
---|---|
2024: A Lua de Mel 13 de julho de 2024 | Elon Musk anuncia apoio à campanha de Trump. |
Outubro de 2024 | Os dois aparecem juntos em comícios, selando uma parceria que parecia inquebrável. |
Fevereiro de 2025 | Revista Time publica capa com Musk na cadeira presidencial, simbolizando sua influência no governo. |
Março de 2025 | Musk assume liderança do DOGE (Departamento de Eficiência Governamental). Trump diz aos membros do Gabinete que eles são os responsáveis pelas respectivas agências e departamentos que supervisionam — e não Musk. O magnata da tecnologia publicou posteriormente no X que a reunião foi “muito produtiva”. |
Abril de 2025 | Primeiras críticas de Musk às tarifas de Trump, após queda acumulada anual de 40% nas ações da Tesla |
28 de maio de 2025: As Primeiras Rachaduras | Musk critica publicamente a “Big Beautiful Bill”, projeto orçamentário de Trump que aumenta gastos em defesa e corta subsídios para carros elétricos. Chamou a lei de “abominação nojenta” e acusou-a de elevar o déficit em US$ 2,3 trilhões. Trump expressa decepção com Musk em entrevista à CBS: “Ele sabia do projeto e não reclamava até cortarmos verbas para EVs”. |
6 de junho de 2025: A Guerra Declarada | Coletiva de despedida de Musk do governo; Trump entrega chave dourada Trump no Salão Oval: “Estou desapontado com Musk. Ajudei ele mais do que qualquer um”. Musk rebate no X: “Sem mim, Trump teria perdido a eleição”. Trump contra-ataca: “Vou cortar todos os contratos do governo com as empresas dele” (incluindo US$ 22 bi da SpaceX com a NASA). Musk ameaça: “SpaceX cancelará foguetes para projetos públicos”. |
O golpe baixo da acusação Epstein | Sem provas, Musk insinua que Trump está nos arquivos do caso Jeffrey Epstein (bilionário acusado de tráfico sexual de menores): “Os documentos não vazaram porque seu nome aparece”. Trump reage: “Elon enlouqueceu” e repete que Musk só se revoltou após cortes em subsídios para carros elétricos da Tesla. |
Ações da Tesla caem 14% após escalada da crise (US$ 150 bi evaporados) |