Irã acusa G7 de escolher lado e ignorar agressões de Israel
Grupo apoia Israel, condena o Irã e pede “desescalada”, mas é acusado de hipocrisia e cumplicidade ao silenciar sobre bombardeios a civis e à infraestrutura nuclear iraniana
Publicado 17/06/2025 14:06 | Editado 17/06/2025 14:57

Os países do G7 decidiram fazer vista grossa à nova ofensiva de Israel no Oriente Médio. Reunidos nas Montanhas Rochosas canadenses entre segunda (16) e terça-feira (17), Estados Unidos, Japão, França, Reino Unido, Itália, Alemanha e Canadá emitiram uma declaração conjunta que, embora peça uma “desescalada” entre Israel e Irã, exime Tel Aviv de responsabilidade pelas hostilidades e ataca duramente Teerã.
“Afirmamos que Israel tem o direito de se defender”, diz o texto, acrescentando que o Irã “nunca poderá ter uma arma nuclear”. Para o governo iraniano, a retórica do grupo é “unilateral” e “nega a realidade dos fatos”. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do país questionou: “Será que o Irã realmente tem outra escolha além de se defender de uma agressão cruel?”
Mortes civis e ataques a alvos nucleares: silêncio cúmplice das potências
Segundo dados do Ministério da Saúde iraniano, ao menos 224 pessoas (a maioria civis) morreram no país desde o início da ofensiva israelense. Em Israel, 24 pessoas morreram na retaliação iraniana — entre elas oito vítimas em ataques de drones e mísseis. No entanto, o comunicado do G7 ignorou completamente as vítimas iranianas, os ataques a bairros residenciais e as explosões que atingiram instalações da televisão estatal e serviços de emergência em Teerã.
Além disso, Israel bombardeou instalações nucleares iranianas — consideradas pela AIEA como parte de um programa civil de geração de energia, embora países ocidentais acusem o Irã de ambições militares. De forma irresponsável, a resposta do G7 reforça e legitima a narrativa israelense, ignorando o que Teerã classifica como “ataques ilegais à nossa infraestrutura nuclear pacífica”.
Um apelo à legalidade internacional — ignorado
O governo iraniano chamou atenção para o duplo padrão adotado pelas potências ocidentais: “Os Estados-membros do G7, em especial os que integram o Conselho de Segurança da ONU, deveriam assumir sua responsabilidade legal e moral diante de um ato flagrante de agressão contra um membro da ONU.” Para o Irã, a omissão do G7 viola os princípios da Carta da ONU e reforça uma ordem internacional marcada por seletividade política.
Ao mesmo tempo em que pede um cessar-fogo em Gaza — onde Israel já matou mais de 37 mil palestinos em oito meses de guerra —, o G7 se recusa a aplicar os mesmos critérios ao caso iraniano e omite que a atual crise foi detonada por um ataque israelense contra diplomatas iranianos na embaixada do Irã na Síria, semanas atrás.
G7: defensor da paz ou escudo do status quo?
A cúpula do G7 no Canadá foi anunciada como uma tentativa de restaurar a unidade entre as potências diante de crises globais, da Ucrânia ao Oriente Médio. No entanto, a parcialidade demonstrada no conflito Irã-Israel lança dúvidas sobre o real compromisso do grupo com a paz e o multilateralismo.
A ausência de críticas aos atos israelenses e a legitimação de ações militares contra instalações nucleares civis — sem apuração ou condenação internacional — revelam um G7 mais preocupado em defender seus aliados estratégicos do que em promover justiça e estabilidade.
Trump deixa cúpula antes do fim e volta aos EUA: “motivos óbvios”
O encontro ainda foi marcado por uma saída antecipada de Donald Trump. O presidente norte-americano abandonou a cúpula antes do encerramento alegando “motivos muito importantes” nos Estados Unidos. O gesto foi interpretado por observadores como sinal de desinteresse ou de que o governo dos EUA já considerava cumprido seu papel principal: blindar Israel de críticas no comunicado final.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse apenas que o republicano retornaria para “resolver assuntos importantes”, sem detalhes.
Havia enormes expectativas de pressão sobre Trump para recuar de seu tarifaço sobre o comércio internacional. A maioria dos países representados no G7 já está sujeita à tarifa básica de 10% de Trump com ameaças de mais por vir. Os países europeus e o Japão enfrentam taxas adicionais sobre carros, aço e alumínio.
Críticas crescem: G7 é acusado de alimentar tensão, não de contê-la
Para analistas e diplomatas do Sul Global, o posicionamento do G7 apenas acirra a percepção de que o grupo atua como um clube das potências do Norte, sem legitimidade para mediar conflitos que exigem equilíbrio e diálogo. É uma postura de tutela e dominação disfarçada de apelo à paz, como definem diplomata não alinhados.
Enquanto isso, o povo iraniano convive com explosões, medo e filas em postos de gasolina. O G7 pediu desescalada, mas sua declaração serviu para ampliar a tensão — e mostrou que as potências ocidentais não estão interessadas em justiça, mas apenas em manter a balança pendendo para o seu lado.