Thiago Ávila anuncia nova missão à Gaza: “A violência não vai nos parar”
Após prisão e maus-tratos em Israel, o ativista brasileiro reforça compromisso com a causa palestina e denuncia violações de direitos humanos cometidas por Tel Aviv.
Publicado 17/06/2025 11:57 | Editado 17/06/2025 13:25

O ativista brasileiro Thiago Ávila, recém-libertado após prisão ilegal em Israel, anunciou que a Flotilha da Liberdade prepara uma nova missão humanitária com destino à Faixa de Gaza. Mesmo após enfrentar detenção, maus-tratos e isolamento em cela solitária, Ávila garante: “A violência não vai nos parar”.
Em entrevista à Agência Brasil, ele descreveu a experiência que viveu desde a interceptação da embarcação “Madleen”, em águas internacionais, até sua deportação. “Tudo o que a gente queria era não ser assassinado naquele momento”, relatou.
Segundo Ávila, os 12 ativistas foram mantidos por mais de 20 horas dentro do próprio navio sob escolta de soldados fortemente armados. “Nossos pertences, equipamentos eletrônicos e o próprio barco foram todos tomados por eles, sem nenhuma explicação, sem direito de defesa. Coagiram as pessoas a assinar um documento onde elas confessavam a culpa pelo crime de entrar ilegalmente em Israel, sendo que nunca foi nosso objetivo entrar em Israel”, conta.
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Ávila também denunciou o que chamou de “manobra publicitária” de Israel: “Na hora em que entregavam água e comida, filmavam para parecer que estavam cuidando daquelas pessoas, que na verdade estavam sendo sequestradas. Mas, logo atrás de quem estava filmando, estavam os fuzis”, explica.
Já detido em Israel, o ativista entrou em greve de fome como forma de protesto. “Recusei a aceitar a comida e a água que nos ofereciam. Primeiro, porque aquilo era uma peça de propaganda”, relatou ao BdF. “Segundo, porque há 10 mil palestinos, incluindo 400 crianças, presos em condições infinitamente piores, sem acesso ao mínimo. E, por fim, recusamos comida e água como forma de pressão política, para aumentar o senso de urgência pela libertação de todos.”
Como punição, Thiago foi levado à solitária sob ameaças dizendo que ele não voltaria ao Brasil se não encerrasse a greve. “Na unidade prisional de Ayalon, onde eu estava na solitária, era uma equipe mais violenta. Eles me jogavam na parede e falavam: ‘Bem-vindo a Israel’. Eles usavam algemas nas mãos e nos pés e fechavam o máximo para travar a minha circulação propositalmente. A condução dentro da unidade prisional era aos empurrões e pontapés. Mas isso é pouco perto do que o povo palestino passa nas prisões”, disse.
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Ávila conta ainda que as condições do lugar eram degradantes. “A água era imprópria para o consumo, as camas e o ambiente das celas estavam infestados de insetos e percevejos, que deixam marca nos corpos das pessoas, policiais e agentes carcerários a todo instante entravam para privar as pessoas de sono e para que não conseguissem descansar. Batiam portas, faziam muito barulho, tentavam intimidar e praticar violência psicológica para que as pessoas entrassem em crise naquele processo, diziam que a gente ia ficar por semanas lá, diziam que a gente não ia sair mais”.
Mesmo diante da truculência, Ávila afirma que a missão teve impacto positivo. Segundo ele, foi possível levar “consciência às pessoas sobre violações que o povo palestino sofre” em Gaza. “Esse Estado comete uma série de violações e uma missão como essa joga luz a essa realidade. Infelizmente, é uma realidade de praticamente qualquer família palestina já ter tido alguém encarcerado ou em prisão administrativa ou julgado por cortes militares e condenado. É um povo que vive sob uma terrível e cruel ditadura que ainda se fantasia de uma democracia naquela região.”
O ativista conta que a nova embarcação, chamada Handala, já está sendo preparada. “Queremos que seja sempre assim: se Israel atacar uma missão nossa, que saiba que a próxima missão será maior. E que eles entendam que a violência não vai nos parar”, disse. “Para nós, enquanto tiver crianças morrendo de fome em Gaza, essa é a missão fundamental.”
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O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do Brasil classificou o caso como crime de guerra e cobrou a suspensão das relações diplomáticas com Israel. Além disso, a missão que deteve Thiago teve ampla repercussão ao expor a situação de mais de 10 mil palestinos encarcerados em prisões israelenses, incluindo crianças.
Para ele, a missão humanitária é um dever moral. “A Flotilha tem o lema “Quando os governos falham, nós navegamos”, e nós navegaremos enquanto a Palestina não for livre. Sim, temos uma nova missão, vamos continuar tentando romper o cerco ilegal de Israel sobre Gaza, levar alimentos e medicamentos e abrir um corredor humanitário dos povos”, afirmou. Ávila também destacou a importância da mobilização internacional: “Eu decidi ser parte da Flotilha, como um aliado da causa palestina, por entender que o destino do povo palestino muito provavelmente vai ser o destino de toda humanidade.”
Ele ressalta que ainda que aqui, no Brasil, “também somos alvo da ganância de quem quer tomar a terra e os bens comuns da natureza. O Brasil tem um sétimo da água potável disponível em forma líquida do mundo. O Brasil tem a maior floresta do mundo, o maior rio do mundo. A gente tem tanta riqueza sob o nosso solo e na nossa biodiversidade que já é alvo do imperialismo de diversas maneiras. A gente precisa esperar o genocídio acontecer aqui para a gente agir?”, conclui.
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com agências