Guardião das florestas, Curupira é escolhido mascote da COP30

Entidade folclórica conhecida como protetora da fauna e da flora simboliza luta do país para avançar, respeitando o meio ambiente, a sabedoria dos povos originários e da ciência

Imagem: reprodução/COP30

Recorrendo a uma das mais belas e conhecidas figuras do folclore brasileiro, o governo anunciou o Curupira, guardião das florestas e dos animais, como mascote da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), que acontece entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém (PA).

Em carta à comunidade internacional, o presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, argumentou que as florestas serão um “tópico central” nas discussões do evento, motivo pelo qual o simpático protetor foi escolhido.

O embaixador ponderou que “a cultura brasileira herdou dos povos indígenas nativos do Brasil o conceito de ‘mutirão’ (Motirõ em tupi-guarani), que se refere a uma comunidade que se reúne para trabalhar em uma tarefa compartilhada, seja colhendo, construindo ou apoiando uns aos outros”.

Leia também: Belém em transformação: investimento de R$ 4,7 bi prepara Amazônia para a COP30

A mensagem continua dizendo que “ao compartilhar essa inestimável sabedoria ancestral e tecnologia social, a presidência da COP30 convida a comunidade internacional a se juntar ao Brasil em um mutirão global contra a mudança do clima, um esforço global de cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”.

O comunicado também salienta a importância de unir os saberes ancestrais e das populações locais aos trazidos pela ciência para buscar saídas para a crise climática. “Quando nos reunirmos na Amazônia brasileira em novembro, devemos ouvir atentamente a ciência mais avançada e reavaliar o papel extraordinário já desempenhado pelas florestas e pelas pessoas que as preservam e delas dependem”, destaca.

O embaixador completa ponderando que as florestas “podem nos fazer ganhar tempo na ação climática durante uma janela de oportunidade que se está fechando rapidamente. Se revertermos o desmatamento e recuperarmos o que foi perdido, poderemos ativar remoções maciças de gases de efeito estufa da atmosfera e, ao mesmo tempo, trazer ecossistemas de volta à vida”.

Protetor da natureza

De cabeleira vermelha como o fogo e pés virados para trás — artimanha usada para confundir aqueles que tentam seguir seus passos — o Curupira foi pela primeira vez registrado na história brasileira em uma carta do padre José de Anchieta, escrita em São Vicente (SP), em 1560. Segundo consta, o jesuíta teria ouvido relatos sobre a entidade feitos pelos indígenas.

Mas a crença no Curupira está espalhada pelo Brasil. “De todos os personagens que são protetores da natureza, o Curupira é o principal. O homem da Amazônia tem uma relação muito curiosa com esse personagem. É um personagem que pode ajudar um homem na caçada, mas que também pode castigar esse mesmo homem se ele entrar na floresta para maltratar tanto a fauna quanto a flora”, conta o escritor paraense Paulo Maués, autor do livro “Histórias de Curupira”.

Ainda de acordo com Maués, “o conhecimento em torno das lendas brasileiras e, de modo particular as amazônicas, está muito associado a questões ligadas à preservação da natureza. Personagens como o Curupira, o Boto, a Iara, são verdadeiros agentes de consciência ecológica, de educação ambiental, de tal forma que a gente percebe, por exemplo, uma norma de conduta muito ética do homem comum da Amazônia, que vem dos povos originários, e a relação de pertencimento e respeito com o meio ambiente”.

Com agências