Inflação recua e BC insiste em política que trava crescimento
Com inflação em baixa, Wellington Duarte aponta contradição entre política monetária restritiva e projeto de desenvolvimento do governo Lula
Publicado 07/07/2025 15:43 | Editado 08/07/2025 18:32

O Banco Central mantém o pé no freio da economia enquanto o carro já desacelera. A previsão do IPCA para 2025 caiu pela sexta vez consecutiva, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (7). O índice passou de 5,2% para 5,18%, indicando uma tendência clara de recuo inflacionário, segundo a percepção do próprio mercado financeiro. Ainda assim, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu recentemente elevar a taxa básica de juros (Selic) para 15% ao ano, em seu sétimo aumento consecutivo.
A medida é defendida pelo BC como forma de conter uma possível escalada de preços, mas a realidade dos números aponta em outra direção. Em maio, a inflação oficial foi de apenas 0,26%, após 0,43% em abril, acumulando 2,75% no ano — bem abaixo do teto da meta. Mesmo assim, o Copom indicou que deve manter os juros nesse patamar e não descartou novas elevações.
“Segurança” a qualquer custo: economia reprimida para conter fantasmas

Para o economista Wellington Duarte, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Banco Central atua como se estivesse aprisionado por uma ortodoxia inflexível, mesmo diante da queda da inflação. “O que guia o BC é o tripé macroeconômico e ele não abre nenhuma possibilidade de correção de rumos. Sua ‘segurança’ é manter a economia desaquecida, evitando sustos inflacionários”, afirma ele ao Portal Vermelho.
A consequência, segundo Duarte, é devastadora para uma economia que precisa crescer. “Deprimir a demanda via altas taxas de juros faz com que os investimentos se retraiam. A produção depende do consumo das famílias, que, sem crédito, não consomem. É uma equação perversa que trava o desenvolvimento”, completa.
Selic sufoca o crescimento e dificulta combate ao desemprego
A Selic a 15% — uma das maiores taxas reais do mundo — trava o consumo, desestimula o investimento produtivo e encarece o crédito, dificultando o financiamento público e privado. O governo Lula, que se comprometeu com geração de emprego, ampliação de políticas sociais e investimentos estruturantes, vê sua estratégia frustrada por um BC que atua de forma desconectada de seus objetivos.
Embora o PIB tenha crescido 1,4% no primeiro trimestre de 2025 — puxado pela agropecuária — e registrado alta de 3,4% em 2024, o Boletim Focus projeta expansão de apenas 2,23% este ano, e menos que isso em 2026. A economia perde fôlego não por falta de capacidade produtiva, mas por falta de oxigênio monetário.
Disputa de modelos: austeridade monetária x desenvolvimento
A crise é também política. A autonomia do Banco Central, aprovada durante o governo Bolsonaro, permite que a autoridade monetária mantenha uma agenda monetarista que colide com o projeto de reindustrialização e desenvolvimento defendido pelo atual governo. Como observa Wellington Duarte, “não há contradição alguma entre o BC e o governo Lula — porque são lógicas diferentes em disputa. O BC atua com foco exclusivo em metas inflacionárias, enquanto o governo persegue um modelo de crescimento com inclusão social.”
Essa disputa tem custos concretos. Ao evitar qualquer ajuste na política monetária, o Copom reprime a demanda interna, gera insegurança no setor produtivo e aprofunda desigualdades sociais, ao tornar o crédito mais inacessível para a população de baixa renda.
Caminho insustentável: dólar em alta e investimentos represados
A estimativa para o dólar no fim de 2025 é de R$ 5,70, podendo subir para R$ 5,75 em 2026. A alta da moeda reflete instabilidades internas alimentadas por decisões conservadoras do BC, que elevam a dívida pública e os custos do Estado, em vez de atrair confiança por meio de crescimento sustentável.
A Selic elevada favorece apenas o mercado financeiro, que lucra com juros altos sobre títulos públicos. Enquanto isso, o setor produtivo, as pequenas e médias empresas e as famílias são as grandes prejudicadas pela falta de crédito e pela estagnação da economia real.
Hora de rever o modelo: estabilidade sem crescimento é recessão disfarçada
A insistência do Banco Central em manter a Selic em patamares internacionais absurdos, mesmo diante de inflação sob controle e crescimento moderado, configura mais que conservadorismo: é uma escolha política que prioriza rentistas em detrimento do desenvolvimento nacional.
É preciso romper com a inércia do tripé macroeconômico. Estabilidade sem crescimento é recessão disfarçada. O governo Lula tem razão ao insistir em mais investimentos públicos e privados, em mais emprego, mais crédito e mais produção. Não se combate inflação matando a economia. O remédio está se tornando o próprio veneno.