Lula fortalece laços Brasil-Índia e volta a defender o Brics
Presidente recebeu o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em visita de Estado marcada por acordos, entendimento para ampliar o fluxo comercial e defesa de soberania
Publicado 08/07/2025 16:48 | Editado 08/07/2025 19:08

O presidente Lula recebeu, nesta terça-feira (8), o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em visita de Estado, em Brasília (DF). Após a recepção oficial, tiveram uma reunião seguida por assinatura de atos e uma declaração conjunta.
As lideranças focaram seus discursos na ampliação das parcerias e aumento do fluxo comercial, que, em uma perspectiva mais otimista, poderia chegar a até 20 bilhões de dólares. Na oportunidade, Lula voltou a defender os interesses dos países na reforma do multilateralismo internacional e posicionou-se contra as ameaças de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em relação ao Brics.
Comércio
No seu discurso, Lula destacou que o fluxo comercial de US$ 12 bilhões “não está à altura” das economias dos países – atualmente, a Índia é o décimo maior parceiro comercial do Brasil.
“Quando estive na Índia, há 20 anos, tínhamos como perspectiva chegar a 15 bilhões de dólares. Estamos determinados a acelerar essa meta”, destacou Lula.
Por sua vez, Modi foi mais ousado e falou em alcançar uma meta de US$ 20 bilhões em cinco anos. Ele também se referiu a Lula como “arquiteto-chefe” da Parceria Estratégica entre os países, que remete a 2006, no primeiro mandato do brasileiro, e foi efusivo nos agradecimentos pela recepção, feita em nome dos 1,4 bilhão de cidadãos de seu país.
“Hoje, quando o mundo passa por uma fase de conflitos e incertezas, essa parceria entre Índia e Brasil é um pilar importante de estabilidade e de equilíbrio”, destacou Modi.
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Durante a declaração conjunta, Lula agradeceu ao primeiro-ministro a recente abertura do mercado indiano para o frango e o algodão brasileiros. Outro destaque foi o debate sobre a ampliação do entendimento Mercosul-Índia, pois apenas “14% das exportações brasileiras para a Índia estão cobertas pelo acordo”, disse o presidente.
Multilateralismo
No que tange ao multilateralismo, Lula voltou a reivindicar reformas na ONU (Organização das Nações Unidas) e assento no Conselho de Segurança: “É inaceitável que países do porte da Índia e do Brasil não ocupem assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU.”
Fora do discurso oficial, não se esquivou do recente ataque do presidente dos EUA, Donald Trump, que afirmou que sobretaxaria países que se aproximassem do Brics.
“Não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do Brics. Não concordamos quando o presidente dos Estados Unidos insinuou que vai taxar os países do Brics”, afirmou o brasileiro.
“Queremos paz, não queremos contencioso. O que nós queremos é fazer com que os nossos países possam progredir. Mas queremos dizer ao mundo que nós somos países soberanos, não aceitamos intromissão de quem quer que seja nas nossas decisões soberanas, no jeito que cuidamos do nosso povo. Nós defendemos o multilateralismo porque foi o sistema que, depois da Segunda Guerra Mundial, permitiu que o mundo chegasse a um estado de harmonia que está sendo deformado hoje com o surgimento do extremismo”, completou Lula, ao fazer referência aos ensinamentos do indiano Mahatma Ghandi pela não-violência.
Acordos
Modi foi recebido no Palácio do Planalto depois de participar da Cúpula do Brics, realizada recentemente no Rio de Janeiro (RJ). A presidência rotativa do bloco passará para o seu país no final do ano, ao término do mandato brasileiro. O primeiro-ministro recebeu de Lula o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta distinção concedida a estrangeiros.
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No ato, foram assinados compromissos nas seguintes áreas com a participação de ministros de ambos os países:
- Acordo de Cooperação no combate ao terrorismo internacional e ao crime organizado transnacional;
- Memorando de Entendimento entre a Embrapa e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola;
- Acordo de Cooperação em energia renovável;
- Memorando de entendimento sobre soluções digitais de larga escala populacional (compartilhamento de soluções digitais bem-sucedidas).
Além desses documentos assinados durante a cerimônia, ainda estão previstos:
- Acordo sobre proteção de informações classificadas;
- Cooperação entre os Arquivos Nacionais do Brasil e da Índia.
Combate ao crime
Durante sua fala, Lula prestou condolências pelas vítimas do recente atentado na Caxemira e reforçou o repúdio ao terrorismo. Nesse sentido, destacou o cessar-fogo entre Índia e Paquistão como exemplo de sensatez que deve servir de exemplo a outros conflitos pelo mundo.
No ato, foi assinado um Acordo sobre Combate ao Terrorismo e ao Crime Organizado Transnacional para fortalecer a cooperação entre os países. Também ficou estabelecido que a Polícia Federal brasileira abrirá uma adidância em Nova Délhi, capital indiana.
Agropecuária
Um dos instrumentos celebrados foi na área da agropecuária. Assim, Lula ressaltou que 90% do rebanho zebuíno brasileiro é resultado de melhoramento genético originário de matrizes indianas.
“O acordo entre a Embrapa e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola estimulará projetos de inovação na produção de alimentos.”
Infraestrutura
Segundo o presidente, o Brasil pretende criar um centro de excelência calcado na experiência indiana em “infraestruturas públicas digitais baseadas em dados, códigos e modelos abertos”.
Além disso, o Brasil tem interesse em fortalecer, com essa relação, o complexo industrial da saúde, com produção de vacinas e medicamentos, bem como aprofundar a troca em assuntos relacionados à exploração espacial, área em que a Índia tem avançado.
Há ainda o interesse da Embraer em consolidar sua presença no país por meio de parcerias a serem firmadas.
Clima e transição energética
Lula também lembrou que, em agosto, o Brasil e a ONU realizarão em Nova Délhi, a segunda rodada do Balanço Ético Global. O evento tem como mote a mobilização para a COP 30, que acontece no Brasil em novembro na cidade de Belém, capital do Pará.
Nesse sentido, o presidente brasileiro demonstrou apoio à candidatura da Índia para sediar a COP 33, prevista para 2028. O Brasil tem interesses em ampliar entendimentos com o país asiático nesse setor, uma vez que é o mercado que mais cresce em bionergia no mundo e pode ampliar o percentual de etanol nas misturas de gasolina e de biodiesel ao diesel.



