Comunistas húngaros querem renúncia de primeiro-ministro
O Partido Comunista dos Trabalhadores Húngaros exigiu, em nota divulgada nesta terça-feira (19/9) que o primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany deixe o cargo, por causa do vazamento da gravação de uma conversa dele com o presidente do Partido Socialista, em ma
Publicado 19/09/2006 15:23
Eventos políticos turbulentos caracterizaram a Hungria nestes dias. No domingo (17/9), um discurso confidencial do primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany vazou e foi publicado na Internet. Seu conteúdo revelou a conversa entre o primeiro-ministro e políticos da cúpula do Partido Socialista Húngaro (PSH), em maio de 2006. Ele explicava por que considerava necessário realizar reformas radicais na Hungria. Utilizando palavrões em seu discurso, confessou que o governo mentiu para o povo de seu país nos últimos ano, não revelando ao povo a verdade sobre a situação da Hungria. A transmissão desse material e o fato de o primeiro-ministro ter admitido que mentira, resultou em protestos maciços por todo o país.
Na segunda-feira (18/9), muita gente se reuniu em frente ao parlamento da Hungria, exigindo que o primeiro-ministro renunciasse ao cargo. Ao anoitecer, o número de pessoas passava de dez mil. A maior parte dos oradores criticou o governo e começou a exigir “um novo 1956”, um novo protesto contra os “comunistas” (a massa se referia ao PSH — sucessor do antigo poder —, e não ao nosso partido).
Na mesma noite uma parte dos manifestantes se dirigiu à Televisão Estatal Húngara e exigiu que ela transmitisse a manifestação. A polícia não permitiu que os manifestantes entrassem no edifício. A polícia, para afastar as pessoas, passou a usar canhões de água e gás lacrimogêneo. Mais tarde, os manifestantes ameaçaram invadir a sede da televisão e, após pesados conflitos com a polícia, acabaram cercando o edifício. A área só foi liberada pela polícia algumas horas depois. Em resultado dos conflitos, cerca de 200 pessoas saíram feridas e os danos financeiros são altos.
Os manifestantes danificaram com gravidade o monumento aos libertadores soviéticos postado diante do edifício da sede de Televisão.
O Presidium do Partido Comunista dos Trabalhadores Húngaros (PCTH) analisou a situação e chegou à seguinte estimativa:
1 — A Hungria está diante de uma profunda crise constitucional e política. A principal razão da crise são as políticas implantadas pelo Partido Socialista Húngaro e por seus aliados, o Partido dos Democratas Livres (PDL).
Como todos sabem, o PSH venceu as eleições parlamentares em abril de 2006, foramndo um governo de coalizão com o PDL. O novo governo, chefiado por Ferenc Gyurcsany deu continuidade à política neoliberal do antigo governo e introduziu um programa de reformas econômicas e políticas radicais. Esse pacote de reforma é nada mais que um programa de racionalização capitalista. O governo quer — com a ajuda desse pacote — preencher os chamados “Critérios de Maastricht” para introduzir a Hungria na zona do Euro. Esse programa significa preços mais altos, impostos mais altos, serviço médico pago, educação universitária paga, entre outras coisas. Milhões de pessoas têm um cotidiano repleto de dificuldades. A maioria do povo começa a perceber só agora o que o neoliberalismo significa e isso conduz a uma crescente insatisfação. Ao mesmo tempo, o povo percebe que está desorientado e é manipulado, e percebe também que não têm reais possibilidades de influenciar as decisão políticas.
2 — A maioria do povo foi às ruas nestes dias para protestar contra a agenda neoliberal e a violação, pelo primeiro-ministro, de normas fundamentais de moral política.
3 — As demonstrações anti-governamenteis não significam uma revolução. Significam que o povo não quer mais ouvir mentiras e manipulações, e que está contra a política neoliberal, que tira tudo que pode dos mais pobres. Não há, nessa revolta, forças que queiram derrubar o sistema capitalista.
4 — Algumas forças radicais de direita e até extremistas usaram a insatisfação das massas em proveito político e pessoal próprios.
5 — O PCTH considera que a única solução real é a renúncia do primeiro-ministro. Ao mesmo tempo, exigimos a convocação de uma nova assembléia nacional para adotar uma nova constituição.
6 — O PCTH condena o uso da força e exige que o governo dê garantias de segurança a todos os cidadãos.
Presidium do Partido Comunista dos Trabalhadores Húngaros