Lula propõe que a ONU siga exemplo do Bolsa Família
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o exemplo do Bolsa Família para pregar uma ação global contra a fome e a pobreza, ao abrir nesta terça-feira (19) a Assembléia Geral da ONU, em Nova York. “Se fizemos tanto no Brasil, imaginem o que não poderia
Publicado 19/09/2006 15:54
Lula esgrimiu números da própria ONU para defender que o combate à fome “não nos deve assustar”. Cerca de 840 milhões de pessoas, quase um em cada sete seres humanos não têm o suficiente para comer. São necessários US$ 50 bilhões adicionais por ano para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio no prazo estipulado.
“Que não se iludam os países ricos”
“A comunidade internacional pode fazer isso”, afirmou o presidente brasileiro, dirigindo-se aos países ricos e lembrando os custos da ampliação da União Européia, ou da Guerra do Iraque. “Que não se iludam os países ricos, por mais fortes que hoje sejam, pois ninguém está seguro num mundo de injustiças”, afirmou.
Apresentando-se como “um homem que dedicou a sua vida a lutar pacificamente pelos direitos do povo trabalhador”, Lula disse que, “se não quisermos globalizar a guerra, é preciso globalizar a justiça”. Pregou “uma nova ordem mundial, mais democrática e justa” e frisou que esta interessa tanto aos países pobres como aos ricos, “se tiverem olhos para ver e ouvidos para ouvir, se não cometerem o desatino de ignorar o terrível clamor dos excluídos”.
Os “grilhões” do protecionismo
Na avaliação de Lula, o esforço internacional contra a fome e a pobreza lançado pelo Brasil em 2004 “começou a dar frutos”. Mas apontou a relação deste movimento com a ordem econômica mundial. E condenou os subsídios agrícolas dos países ricos como “pesados grilhões que imobilizam o progresso e relegam os países pobres ao atraso”.
“Não me canso de repetir que enquanto o apoio distorcido dos países desenvolvidos alcança a indecorosa soma de US$ 1 bilhão por dia, 900 milhões de pessoas sobrevivem com menos de 1 dólar por dia nos países pobres e em desenvolvimento”, afirmou, qualificando a situação de “política e moralmente insustentável”.
“Se a Rodada de Doha fracassar”…
O presidente brasileiro fez a defesa do G-20. “A criação do G-20, na prática, mudou os padrões de negociações na Organização Mundial do Comércio. Até recentemente, os países em desenvolvimento tinham participação marginal nas negociações mais importantes”, disse. E lembrou que, “pela primeira vez na história do sistema GATT-OMC, a palavra desenvolvimento aparece no título de uma rodada de negociações comerciais”.
Ao mesmo tempo, Lula admitiu que a Rodada de Doha sobre o comércio mundial “está em crise”. E advertiu que, “se a Rodada fracassar, as conseqüências serão sentidas muito além da esfera comercial”, pois “a própria credibilidade do sistema da OMC ficará ameaçada, com repercussões negativas nos campos político e social”.
“Chegou a hora de aplicar a democracia”
A segunda parte da fala presidencial foi dedicada à reforma das Nações Unidas, cuja eficácia “tem sido seriamente questionada”. Ele se queixou de que o conflito do Oriente Médio, tratado “pelas grandes potências”, até hoje não chegou a uma solução. E indagou: “Não seria o momento de convocar uma ampla conferência sob a égide das Nações Unidas, com a participação de países de região e outros que poderiam contribuir, pela capacidade de experiência em conviver pacificamente com as diferenças?”
Lula voltou a defender também a reforma do Conselho de Segurança da ONU, com “o ingresso de países em desenvolvimento no seu quadro permanente”. Insinuou que a estrutura atual é “anacrônica”. E usou da ironia: “Nós andamos pelo mundo ensinando a democracia aos outros, chegou a hora de aplicá-la a nós mesmos e mostrar que existe representação efetiva nos fóruns políticos das Nações Unidas.”
Pela tradição, cabe ao Brasil fazer o discurso que abre as Assembléias Gerais da ONU, que ocorrem anualmente na sede da Organização em Nova York. A que se iniciou nesta terça-feira, a 61ª da série, é presidida pela diplomata Sheika Haya Rashed Al-Khalifa, de Bahrein.
Com presidência da República