Centro Cultural Dragão do Mar – Para além da difusão

Retomar o investimento em formação e capacitação: esse é um dos desafios que a nova presidente do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Maninha Morais, quer superar nos próximos quatro anos.

A nova presidente do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Maninha Morais, pretende fazer uma gestão inspirada no mesmo princípio que fundamentou a criação do próprio equipamento: o de torná-lo, prioritariamente, um espaço de formação e capacitação de agentes culturais, além de aproximá-lo da juventude, fortalecendo-o como um ambiente de convivência. A pauta dela prevê, inclusive, a retomada das atividades do Instituto Dragão do Mar, núcleo responsável por programas de formação continuada que foi criado em meados da década de 90 e desativado na gestão anterior. ''O Dragão está devendo quanto à formação'', aponta a nova gestora.


 


Esses são alguns tópicos que devem embasar as atividades do Dragão nos próximos quatro anos. Eles foram revelados por Maninha já em seu primeiro dia de trabalho, na última sexta-feira (19), mais como um atestado de intenções do que como uma lista de propostas concretas de ação. Afinal, só agora ela toma parte do legado deixado pelo presidente anterior, Augusto César Costa. Segundo a gestora, não houve encontro entre os dois para que houvesse uma apresentação formal da estrutura de funcionamento em curso no local.


 


Na bagagem levada para o Dragão, Maninha tem a experiência de dirigir, por seis anos, o Theatro José de Alencar. Ficou lá de 1993 a 1999, perpassando, respectivamente, as gestões de Ciro Gomes e Tasso Jereissati e acompanhando os trabalhos do então secretário de Cultura, Paulo Linhares. Nesse período, participou das articulações que levaram à criação, em 1998, do Centro Dragão do Mar hoje gerenciado por ela. Um equipamento que ''veio cumprir esse papel de gestor do conhecimento, de fazer as pessoas pensarem sobre a arte e a cultura, de fazer de seu espaço uma usina de lançamento de novas idéias'', como lembra.


 


Desde 2000, ela dirige a Fundação Raimundo Fagner, que foca na educação de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade por meio da cultura. Esse trabalho ela pretende continuar em paralelo à gestão do Dragão. Ali, Maninha descobriu que ''as pessoas tem tanto para oferecer, mas, muitas vezes, não tem oportunidade de mostrar''. É aí que entraria a importância do investimento na formação, indispensável para potencializar esses talentos em vista de um mercado crescente para a cultura no Estado.


 


''A cultura seria mostrada como um mercado de trabalho em potencial, que gera emprego, divisa, oportunidade. Mas precisamos ainda pensar como essa política vai acontecer'', afirma. Além de priorizar a política de capacitação, a presidente também pensa em reforçar o programa de formação de platéias, envolvendo os professores e os estudantes das escolas do Estado, e em retomar a proposta inicial de fazer a comunidade do Poço da Draga interagir mais com o espaço do Centro. ''Quanto mais lugares forem criados para que as pessoas possam refletir e pensar sobre a arte, a cultura e os costumes da sociedade em que estamos inseridos, com certeza nós vamos ter mais auto-estima, menos meninos de rua, menos violência nas comunidades'', afirma ela, que se mostra otimista quanto ao início de gestão. ''Estou confiante quanto a esse momento''.


 


Quais as diferenças na gestão de um equipamento como o Theatro José de Alencar e o Centro Dragão do Mar?


 


O Theatro é o equipamento mais antigo da Secretaria da Cultura. Vamos dizer que ele é a nossa ''jóia preciosa'' e o Dragão, nosso mais novo equipamento, tão precioso quanto. O Theatro foi criado no início do século passado, num momento em que toda a produção era praticamente importada. Hoje, o contexto é outro. Temos outra história com a criação do Dragão, que foi concebido para ser um equipamento artístico-cultural cuja missão mais importante, para mim, além da difusão, é a questão da capacitação e da formação. Ele veio cumprir esse papel de gestor do conhecimento, de fazer as pessoas pensarem sobre a arte e a cultura, de fazer de seu espaço uma usina de lançamento de novas idéias. É assim que eu percebo o Dragão. Outra missão dele era fazer com que a juventude pudesse vir para cá para conhecer, discutir, debater as questões que envolvem o ser humano e a sociedade em geral, além de usar esse equipamento e o entorno como espaço também de entretenimento. O Dragão foi concebido para ser isso: essa grande escola de aprendizado, que abriga pessoas em todos os momentos, em todos os horários. Se hoje ele está bem freqüentado, que ele seja mais ainda por uma população que ainda não o conhece. Acho que o Dragão está devendo à classe artística a sua vertente em relação à capacitação e formação. Isso, com certeza – já foi dito pelo secretário Auto Filho – será uma das prioridades, uma das estratégias importantes dessa gestão.


 



E como a senhora pretende pensar a formação no Centro? No diálogo com os artistas?


 


Com certeza. Nós vamos fazer esse momento, chamar os artistas, envolver as pessoas para daí também oferecer cursos. Eu me lembro do momento em que o Instituto Dragão do Mar funcionou aqui em Fortaleza. Você movimentava uma população de jovens interessada em se capacitar nas áreas de artes cênicas, artes plásticas, design… Hoje, existem alguns cursos de capacitação que estão ligados diretamente ao Dragão, mas não há mais vinculação deles com o Instituto, que está desativado. Existe, por exemplo, um curso de Dança – então existe uma coordenação de dança que pensa essa capacitação. A mesma coisa com o Audiovisual, mas não há algo semelhante para o Teatro e a Música, por exemplo. Quando você tem uma escola como o Instituto, pensa-se tudo como uma coisa só. A política tem que ser uma para todas as linguagens, apesar das ações serem diversas. Acho que agora é a hora da retomada disso em um novo momento, com um novo secretário. Estou confiante quanto a esse momento.


 



Então há, de fato, o interesse de reativação desse Instituto?


 


Com certeza. Com certeza nós vamos retomar esse Instituto e, além da própria questão do Instituto em si, nós vamos poder fazer com que essa escola possa interagir com os equipamentos do próprio Dragão. Isso vai estar dentro de uma política de capacitação e formação. Você pode pensar nos jovens como multiplicadores que vão expandir essa atuação cultural em nível estadual. Imagino que haveria oficinas em várias áreas, inclusive nas técnicas, para ensinar iluminação, cenografia, montagem de exposições, cuidados com acervos… A cultura seria mostrada como um mercado de trabalho em potencial, que gera emprego, divisa, oportunidade. Mas precisamos ainda pensar como essa política vai acontecer.


 



A gestão do Dragão do Mar vem acompanhada por um filhote, o Centro Cultural Bom Jardim. A direção dele deve continuar vinculada à daqui?


 


O Centro foi inaugurado recentemente, em dezembro. Nesse momento, ele está vinculado ao Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC, organização social responsável também pela gerência do Centro Dragão do Mar) e, portanto, é um equipamento nosso. Entendo como um espaço a ser trabalhado, apesar de achar que essa política de descentralização deveria ser realizada, na verdade, pela Prefeitura de Fortaleza. Essa cidade carece disso, desses espaços de convivência. É um presente do qual a população tem que cuidar muito bem, zelar e levar coisas interessantes para lá dentro. Quanto mais lugares forem criados para que as pessoas possam refletir e pensar sobre a arte, a cultura, os costumes da sociedade em que estamos inseridos, com certeza nós vamos ter mais auto-estima, menos meninos de rua, menos violência nas comunidades.


 


Que lições a senhora traz da Fundação Raimundo Fagner para cá?


 


É tanta coisa que eu aprendi lá… Uma delas foi de ver como as pessoas tem tanto para oferecer, mas, muitas vezes, não tem oportunidade de mostrar isso. As pessoas precisam de oportunidade.


 



Sempre se falou que o Centro trabalharia também com o entorno, em parceria com a comunidade do Poço da Draga. Como a senhora pensa em trabalhar essa questão?


 


O que posso dizer – não quero me precipitar – é que o Dragão foi pensado para interagir com a comunidade do Poço da Draga, para trazê-la para ser capacitada aqui e esse ser um espaço de trabalho dela. Isso foi discutido dentro do planejamento estratégico. Se fugiu disso, nós vamos tentar redirecionar, porque a coisa mais importante que há para preservar um equipamento desses é que as pessoas se apropriem dele. Na hora em que você trabalha o sentimento de apropriação, você garante a conservação e a manutenção desse espaço. Queremos que todo cearense tenha orgulho daqui, que conheça esse Centro e o que está montado, instalado e oferecido nele. Que a gente possa trazer as escolas aqui para dentro, interagir com os organismos da educação do Estado para que a gente possa fortalecer o programa de formação de platéias que já existe. Seria o caso de capacitar o educador antes de ele trazer a criança para cá, para que ele possa instruí-la permanentemente e ela possa levar para casa informações novas. São coisas assim que a criança guarda e nunca mais esquece. As pessoas têm que entender que esse espaço está aqui exatamente para interagir com elas.


 



A gestão do Dragão do Mar vem acompanhada por um filhote, o Centro Cultural Bom Jardim. A direção dele deve continuar vinculada à daqui?


 


O Centro foi inaugurado recentemente, em dezembro. Nesse momento, ele está vinculado ao Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC, organização social responsável também pela gerência do Centro Dragão do Mar) e, portanto, é um equipamento nosso. Entendo como um espaço a ser trabalhado, apesar de achar que essa política de descentralização deveria ser realizada, na verdade, pela Prefeitura de Fortaleza. Essa cidade carece disso, desses espaços de convivência. É um presente do qual a população tem que cuidar muito bem, zelar e levar coisas interessantes para lá dentro. Quanto mais lugares forem criados para que as pessoas possam refletir e pensar sobre a arte, a cultura, os costumes da sociedade em que estamos inseridos, com certeza nós vamos ter mais auto-estima, menos meninos de rua, menos violência nas comunidades.


 


Que lições traz da Fundação Raimundo Fagner?


 


É  tanta coisa que eu aprendi lá… Uma delas foi de ver como as pessoas tem tanto para oferecer, mas, muitas vezes, não tem oportunidade de mostrar isso. As pessoas precisam de oportunidade.


 


Sempre se falou que o Centro trabalharia também com o entorno, em parceria com a comunidade do Poço da Draga. Como pensa em trabalhar essa questão?


 


O que posso dizer – não quero me precipitar – é que o Dragão foi pensado para interagir com a comunidade do Poço da Draga, para trazê-la para ser capacitada aqui e esse ser um espaço de trabalho dela. Isso foi discutido dentro do planejamento estratégico. Se fugiu disso, nós vamos tentar redirecionar, porque a coisa mais importante que há para preservar um equipamento desses é que as pessoas se apropriem dele. Na hora em que você trabalha o sentimento de apropriação, você garante a conservação e a manutenção desse espaço. Queremos que todo cearense tenha orgulho daqui, que conheça esse Centro e o que está montado, instalado e oferecido nele. Que a gente possa trazer as escolas aqui para dentro, interagir com os organismos da educação do Estado para que a gente possa fortalecer o programa de formação de platéias que já existe. Seria o caso de capacitar o educador antes de ele trazer a criança para cá, para que ele possa instruí-la permanentemente e ela possa levar para casa informações novas. São coisas assim que a criança guarda e nunca mais esquece. As pessoas têm que entender que esse espaço está aqui exatamente para interagir com elas.


 


Fonte: O POVO