Para Belluzzo, fixar meta de crescimento é inútil

A meta de crescimento é, talvez, o fruto do programa econômico mais esperado por empresários. Resta saber de que forma as medidas anunciadas pelo presidente Lula na última segunda-feira (22/1) desembocam nos tão comentados 5% de crescimento ao ano. Outra

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, esse número não tem muita serventia. “Fixar número não tem fundamento”, afirma. Belluzzo, que foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney), acredita que é preciso ter objetivos claros, mas ir atrás de números, além de desnecessário, é impossível. Porque o crescimento depende, além de medidas do governo, da colaboração do setor privado. “Como disse Garrincha a Feola em 58, precisa combinar com os russos”, diz. Leia íntegra da entrevista:



De modo geral, qual é a opinião do senhor sobre o Programa de Aceleração do Crescimento divulgado pelo presidente Lula?
Ele revelou o que anunciava há algum tempo, como na área imobiliária e energética. Mas boa parte depende do setor privado, e espera-se que ele responda adequadamente a isso. Precisa combinar com os russos, como disse o Garrincha para o Feola em 58. Precisa haver uma compatibilidade monetária: que ela não só acompanhe os objetivos do pacote, mas também não vire um obstáculo, um empecilho. Queremos que seja estabelecido um equilíbrio entre as medidas e a meta de estabilidade e crescimento.



O senhor acha que vai dar para atingir a meta de crescimento? Além disso: qual a importância dessa meta?
Eu acho que não se deve estabelecer metas quantitativas. Não é necessário e não dá para controlar. Meta é importante, mas fixar número não tem fundamento. É preciso usar os meios necessários para atingir os objetivos.



E as medidas divulgadas são os meios necessários para atingir os objetivos?
Essas medidas são os meios disponíveis e prudentes para acelerar o crescimento para que não haja nenhum desvio de rota. É um programa articulado, prudente, mas vai depender de combinar com os russos, como eu já disse.



Foram anunciadas medidas de reforço da base social, como ampliação do limite de crédito para habitação e outras…
Isso é importante. Os recursos estão bem definidos, e eles têm um impacto importante sobre a renda. Diretamente, o impacto é baixo sobre as importações, mas pode aumentar o consumo e até elevar importações. Por isso, precisa ter uma política cambial não muito valorizada, senão a renda vai para fora.