Brasil quer embaixador para mudanças climáticas
Ministro Celso Amorim anuncia intenção do governo de criar novo posto junto à ONU. Lula e Marina Silva criticam países ricos e saem em defesa das conquistas obtidas pelo Brasil, acusado de negligenciar o combate ao desmatamento na Amazônia.
Publicado 06/02/2007 19:40
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou na segunda-feira (5) que o governo brasileiro estuda a possibilidade de criar um novo posto na estrutura do Itamaraty para cuidar especificamente das questões multilaterais relativas ao aquecimento global. Segundo o ministro, o cargo de Embaixador para as Mudanças Climáticas, cuja criação ainda depende do aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá ter seu ocupante escolhido entre os profissionais mais experientes do quadro de diplomatas do Itamaraty.
A intenção do ministro é escolher um nome de peso que possa auxiliar tanto o governo quanto a Missão Diplomática do Brasil na ONU durante as discussões e negociações ambientais que prometem ser mais intensas nos próximos anos: “As discussões sobre o aquecimento global vêm ganhando importância no cenário internacional e a intenção do governo é dedicar atenção especial a esse tema. Vamos estudar qual bom embaixador poderemos deslocar para essa nova função”, disse Amorim, que não precisou quando o novo posto será efetivamente criado.
Ao anunciar a novidade, o governo brasileiro começa a reagir à nova onda de preocupação com o meio ambiente que varre os principais governos do planeta depois que foi divulgado o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) demonstrando que o aquecimento global está a um passo de tornar-se irreversível. Desde então, o Brasil – considerado o quinto maior emissor global de dióxido de carbono por conta do desmatamento – voltou a ser alvo de críticas internacionais vindas daqueles que consideram que o país não se esforça o suficiente para garantir a preservação da Amazônia.
As críticas ao governo brasileiro aumentaram depois que o Brasil não aderiu à proposta, feita na semana passada pelo presidente da França, Jacques Chirac, de criação de uma agência da ONU para o meio ambiente nos mesmos moldes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em nota divulgada na sexta-feira (2), o Itamaraty esclarece a posição do governo brasileiro e afirma que o Brasil julga ser mais importante para a adoção de medidas rápidas de proteção ambiental global o fortalecimento do já existente Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
O governo teme que as pressões externas relativas ao aquecimento global acabem servindo aos propósitos de alguns países, sobretudo os da União Européia, que querem fazer com que o Brasil assuma cláusulas ambientais para obter maiores vantagens do país durante as negociações da Rodada de Doha da OMC que estão em curso: “Não gostamos dessas cláusulas. E não porque somos contra defender o meio ambiente. O problema é que, de forma geral, tratam-se de meros disfarces para medidas protecionistas, às vezes até com efeitos perniciosos sobre o meio ambiente”, disse Celso Amorim em entrevista ao jornal O Globo.
Lula critica países ricos
Em visita ao Rio de Janeiro para inaugurar nessa terça-feira (6) o Centro de Operações Tecnológicas dos Jogos Pan-Americanos, Lula voltou a criticar os países que exigem maiores compromissos do Brasil em relação à prevenção do desmatamento na Amazônia: “Não dá para desmatar, desmatar, desmatar e depois querer dividir suas responsabilidades por igual com quem não desmatou tanto. Querem obrigar a gente a fazer o que não fizeram há cem anos atrás”, disse o presidente.
Lula já havia criticado os países ricos no dia em foi divulgado o relatório do IPCC: “Agora está todo mundo preocupado com o desmatamento. A França está preocupada, os Estados Unidos estão preocupados. Mas, não basta a gente a gente diminuir o desmatamento no Brasil, é preciso também que os países ricos tenham mais responsabilidade e parem com a emissão de gases de suas indústrias poluidoras”, disse o presidente, que lembrou o “esforço do Brasil em investir em energias renováveis”.
Marina mostra resultados na ONU
Quem também saiu em defesa da posição do Brasil nas negociações multilaterais sobre as mudanças climáticas foi a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que esta semana se encontra na sede do Pnuma em Nairóbi, no Quênia, onde participa do Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente: “A batalha contra o aquecimento global está no começo e todos podemos fazer algo. No Brasil, temos dado curso a várias alternativas de substituição de combustíveis fósseis, como, por exemplo, o etanol”, disse a ministra, que pretende falar aos seus pares sobre outros conquistas do país, como o Programa Nacional de Biodiesel, os 205 projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) em fase de aprovação e a adoção de 45% de matriz energética renovável.
Na última conferência da ONU sobre mudanças climáticas, também realizada no Quênia, Marina apresentou, em nome do governo brasileiro, a proposta de que os países em desenvolvimento fossem beneficiados economicamente pelo desmatamento evitado em suas florestas. Agora, a ministra pretende mostrar os resultados obtidos pelo Brasil que, nos últimos quatro anos, conseguiu reduzir em 52% o ritmo do desmatamento na Amazônia. A ministra ressalta, no entanto, que os maiores compromissos devem vir mesmo dos países mais industrializados, que são responsáveis por 80% das emissões de gases causadores do aquecimento global: “Mesmo que os países em desenvolvimento reduzam a zero as suas emissões, isso não vai adiantar nada se os países ricos não fizerem sua parte”.
Fonte: Ag^ncia Carta Maior