Jô Morais: emancipação da mulher é uma luta de homens e mulheres

Uma fábrica em Betim, em Minas Gerais, em que os trabalhadores estavam vivendo momento de grande insatisfação salarial, parou por que uma das operárias teve uma ameaça de aborto e foi mau atendida no serviço médico da fábrica. O caso foi citado pela de

Para a parlamentar, o episódio foi o catalizador da insatisfação dos operários. ''Ela se materializou num caso em que os operários viram a ameaça da sobrevivência e se revoltaram''.



Na noite desta terça-feira (27), a deputada fez palestra na sede do PCdoB/DF como parte das atividades preparatórias para a 1ª Conferência Nacional Sobre a Questão da Mulher, que ocorrerá no final do mês de março, em Luiziânia (GO).



Com o episódio, a deputada quis demonstrar que a luta emancipacionista da mulher deve se desenvolver pari-passo com a luta contra a exploração do trabalhador. Acrescentando que o desenvolvimento entre relações de opressão sexual e exploração de classe – duas dimensões do processo de construção da sociedade – surgiram simultaneamente.



Ela explica que não existe uma relação de causa-efeito. ''As duas surgiram pari-passo, com agravante de que a opressão sexual reforça a exploração de classe. O patrão amplia a apropriação da mais-valia com salários mais baixos para as mulheres – que recebem 61% do homem branco, nas mesmas condições de trabalho – e o trabalho doméstico gratuito desenvolvido pelas mulheres.



Segundo a deputada comunista, ''é preciso ''ganhar'' os homens para nossa luta'', explicando que isso não vai acontecer com violência. ''As mulheres devem usar a sedução'', destaca, para rapidamente esclarecer que não é a sedução sexual, é a sensibilização, porque devemos nos impor por nossa capacidade'', afirma.


 


''Nós, que somos mais avançadas na consciência emancipacionista, assumamos a responsabilidade de construir politicamente a consciência deles'', declarou, em tom de grito de guerra.


 


Três desafios



Para alcançar esse objetivo, Jô destaca os três desafios que devem ser enfrentados e que farão parte das discussões da Conferência Nacional. O primeiro desafio é teórico, de reavaliação da construção do pensamento socialista. O segundo é político – ''definir as bandeiras que vamos levantar e como organizar e atuar frente ao movimento de massa''.



O terceiro desafio é organizativo de partido, ''para que, no cotidiano da vida, a gente faça com que a questão da mulher efetivamente se torne uma questão do socialismo''.



Ela definiu como inovadoras a conferência e a forma como foi convocada – aprovada no 11o Congresso Nacional realizado no ano passado. E avalia que ''nós somos parte da sociedade e, como tal, temos problemas frutos da sociedade. Temos que analisar os fenômenos negativos que vivenciamos e influenciam a nossa vida interna – parte da deformação da sociedade capitalista'', afirmou.



''O machismo existe em nós, aquele que faz a mulher cuidar sozinha dos filhos'', disse, alertando que ''isso não é reclamação, é constatação da vida cotidiana''.



Jô Morais lembrou que, na construção do pensamento socialista, houve preocupação e contribuição dos revolucionários sobre a questão da mulher – desde a sexualidade até as questões economicistas.



Produção e reprodução



''Todo pensamento socialista se desenvolveu com abordagem da questão da mulher. A transformação da sociedade se dá com o desenvolvimento das relações de produção e reprodução –  naluta pela sua sobrevivência e se reproduz'', disse, citando Engels. ''É nesse processo que se constrói a história da humanidade'', enfatizou.



Ela se opõe ao que diz os academiscista que tentam dizer que pensamento marxista simplifica a questão da mulher, dando conteúdo econômico à questão da mulher; e que resolvido o problema de classe, estaria resolvido o problema da opressão de gênero.



Segundo a parlamentar, ''essa é uma visão reducionista de outras linhas políticas, mas o Partido não tem essa visão''.



Também acusou os outros partidos de tratarem a questão da mulher como uma questão de marketing, aproveitando o sentimento da sociedade de decepção com os homens, principalmente na política.



Novo ciclo



Liége Rocha, da União Brasileira de Mulheres (UBM), que fez abertura da atividade, destacou a importância da participação de homens e mulheres na discussão. Falou sobre o sentimento de orgulho pela realização do evento, que fecha um ciclo de debates.



''Essa discussão é antiga e teve vários momentos – de altos e baixos – e a Conferência Nacional abre um novo ciclo – em outro patamar – para avançar nas discussões da questão da mulher'', afirmou.



Assim como Jô Morais, que citou várias vezes João Amazonas, Liége lembrou que o dirigente comunista liderou essas discussões na década de 1980 e foi grande impulsionador desse debate, que já existe desde 1954. Ao passar a palavra para a parlamentar, Liége destacou o informe de Jô Morais, apresentado no 6o Congresso Nacional do Partido e que serviu de base às formulações levantadas no 11o Congresso Nacional, no ano passado, quando foi aprovada a realização da Conferência Nacional sobre a Questão da Mulher.



De Brasília
Márcia Xavier