Manuela fala sobre atuação na política e vida pessoal para a revista South Star

A jovem de 25 anos, que divide seu tempo entre Brasília e Porto Alegre para desempenhar o seu mandato como deputada federal pelo PCdoB, estampa a capa e é foco da matéria principal da edição da revista South Star do mês de março.

A parlamentar Manuela d´Ávila, considerada um fenômeno eleitoral, que levantou 271.939 dos votos no último pleito, configurou-se com a terceira maior votação para deputado federal de toda a história do Rio Grande do Sul, a deputada mais votada da história do estado e a mulher mais votada para deputada federal dessa eleição no país. Com carisma e sempre com a resposta da ponta da língua, ela virou orgulho e esperança não só de jovens mas de gente madura.


 



Prova disso foi o assédio que a filha do casal Ana Lúcia e Luís Alfredo teve durante o coquetel de lançamento da revista South Star, no Hotel Plaza São Rafael, no início desta semana, 23, em Porto Alegre. A moça foi requisitada para fotos e deu autógrafos para seus fãs, que acompanham sua trajetória política desde a fase de vereadora de Porto Alegre e outros da sua militância estudantil. “Queria uma matéria que trouxesse na íntegra o que eu falei e essa entrevista está exata”, disse ela, olhando a foto sentada na Casa de Cultura Mário Quintana.


 



Confira alguns trechos da entrevista na South Star:



Manuela x Política:


“É possível falar de mim sem pensar que serei para sempre deputada, vereadora ou parlamentar. (…) Penso em mim sem ser deputada. Mas não sem fazer política”.


 



Militância:


 


“Fiz jornalismo achando que se eu contasse os problemas das pessoas, eles (Estado) iriam olhar para elas. Mas você vai se frustrando quando percebe que não dá para mudar sozinha. Muitos acabam por se conformar com a situação.”


 



Sobre o caso João Hélio e maioridade penal:


 


“Nós temos que perder o hábito de buscar só as soluções pontuais. Precisamos repensar a segurança como segurança. Caímos no erro de fazer discurso sobre a origem da insegurança. Precisamos pensar no aumento do efetivo e da inteligência tecnológica, na proteção das fronteiras, que é por onde entram as drogas. (…) em um sistema que exclui quase que 40% da sua juventude da escola, não é arrajando novas leis para punir, que isso vai mudar. Precisamos de alternativas mais profundas. Precisamos jogar nossas energias para colocarmos todas as crianças na escola. Assim como morreu o João Hélio, morre 30 mil jovens por ano no Brasil e as pessoas fazem de conta que não vêem. São vítimas do tráfico. Quando que vamos aceitar fazer a discussão sobre o tráfico sem sermos moralistas? Quanto que o país gasta com o tráfico, tanto com os jovens mortos, quanto com investimentos na segurança? Em algum momento terá que ser discutido isso. Diminuir a maioridade penal é tapar o sol com a peneira. Hoje baixamos para 16, amanhã para 14 e depois para 12. Por quê? Porque não estamos atacando a origem do crime”.


 



Importância da família na formação dos jovens:


 


“Uma das coisas que eu falei que foi responsável por não ter me conformado é a minha família e a escola. Falamos que a família é pouco presente. Muitas vezes, quando fizemos isso, estamos responsabilizando as mulheres indiretamente, porque os homens sempre saíram de casa. Mas a mulher hoje trabalha. (…) Quem deve ocupar o lugar dessa mulher que está dando a sua contribuição para o desenvolvimento do país? É o Estado. Como? Com uma rede escolar segura, segurança pública funcionando. Tem que ser a conciliação dos dois fatores, a escola, ocupando o papel de educar junto com a família. (…) O Estado precisa arcar com o compromisso no momento que aquele homem e aquela mulher saem de casa para contribuir para que o Estado exista”.


 



Preconceito:


 


“O Brasil tem muitos preconceitos com a sua juventude. Ainda temos um Estado que acha que juventude rima com irresponsabilidade. Aí, junta-se o fato de ser jovem com o de ser mulher. A população gaúcha deu a prova de que está se despindo disso. Mas não impede, por exemplo, que setores da imprensa reflitam o preconceito. Você vai ver que a imprensa do centro do país tratou como “eleição de uma bonitinha” ou tentou tratar. Não conseguiu por mérito meu e da minha equipe. E falta juntar a tudo isso, a política, um ambiente totalmente masculino.(…) A mulher sempre é tratada a partir do seu comportamento na área privada. Ou é bem amada ou mal amada (…). O mal da mulher é vinculado a sua vida privada e a do homem a sua vida pública. Isso é uma demonstração de preconceito. É difícil, mas isso não quer dizer que não valha a pena.”


 



Recado sobre ser considerada Musa do Congresso:


 


“Que as mulheres não são enfeites. (…) Se o conceito disso fosse de inspirar coisas positivas, como minha força e energia, não teria problema, mas o conceito é vinculado a falsa idéia de que as mulheres vão para lá para desfilar. E isso não é verdade. As mulheres que estão no Congresso são extremamente combativas e dedicam a maior parte de seu dia à coisa pública.”


 


 


De Porto Alegre
Alessandra Barros