Mais mulheres são chefes de família

Com as responsabilidades de ser mãe e estar no mercado de trabalho, veio também a tarefa de chefiar a casa. No Ceará, mais de 735 mil trabalhadoras respondem por seus domicílios. Em todo o País, metade dessas mulheres moram com os filhos e sem os maridos.

Elas saíram de casa e arrumaram emprego. Começaram em pequenos cargos para, em seguida, ganharem espaço no mercado de trabalho. Agora, muitas mulheres passaram a ser a referência da família, chefiando a casa. O número, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é crescente. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005 (Pnad 2005) mostra que, no Ceará, mais de 735 mil mulheres são classificadas como referência na casa. No ano anterior, esse número era de 710 mil mulheres. No País, são 17,5 milhões (2005) ante 16,4 milhões em 2004.


 


Apesar de mais mulheres passarem a chefiar a casa, a verba recebida para isso não é tão animadora. Dados do IBGE apontam que 30% da população feminina ocupada respondem por suas famílias. Os rendimentos dessas chefes são 11,6% superiores aos das demais mulheres ocupadas. No entanto, 78,6% das trabalhadoras responsáveis pelos domicílios recebem menos de três salários mínimos.


 


O economista e pesquisador do Centro de Pesquisa Econômica e Social (Cepes) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, afirma que a mulher tem se separado do marido mais na maturidade, assumindo com mais intensidade a chefia dos domicílios. Para Neri, esse processo de transformação pelo qual as mulheres vêm passando desde a década de 1990 caracteriza-se por menor religiosidade e maior adesão às crenças alternativas do que ao catolicismo. Além disso, a mulher da atualidade casa-se mais tarde e tem um nível escolar que supera o dos homens.


 


''A taxa de crescimento de renda foi duas vezes maior que o do homem, apesar de ainda ser menor que o dele. Nesse processo, a mulher está casando mais tarde e fazendo isso mais informalmente, assim como tendo filhos mais tarde. Antigamente, ela tinha o papel de criadora dos filhos. Hoje, elas continuam a criar os filhos, mas são também provedoras de renda'', observa o economista. Neri ressalta ainda que a idade com que a mulher tem o primeiro filho também está avançando, ficando por volta dos 36 anos. Conforme o economista, isso reflete a opção por se firmar na carreira profissional para, apenas posteriormente, ter filhos.


 


Segundo o IBGE, 62,9% das trabalhadoras responsáveis por seus domicílios têm 40 anos ou mais. Outro dado levantado pelo Instituto foi que 50,6% das mulheres a frente de suas residências moravam com os filhos e sem os maridos. O percentual das chefes de família com cônjuge é de 24,4%. Entre as mulheres sem cônjuge e com filhos, 28,5% tinham todos os filhos com menos de 15 anos. De acordo com o órgão, o dado reflete que uma única pessoa teve de assumir ao mesmo tempo o sustento dos filhos, os cuidados com eles e o trabalho doméstico, afetando as escolhas das mulheres quanto ao trabalho e gerando desigualdades nesse mercado.


 


Neri é mais otimista e observa que o processo transformador está em um estágio mais avançado, no qual a situação econômica feminina tem melhorado. ''A mulher está recebendo mais transferência de renda do Estado, com programas como o Bolsa Família. 91% dos beneficiários da Previdência Social são mulheres e a renda da aposentadoria tem favorecido também as mulheres, pois elas vivem mais e se aposentam mais cedo. Então, elas estão mais confortáveis financeiramente. Com dinheiro no bolso fica mais fácil decidir se quer casar ou não'', acredita.


 


 


Fonte: O POVO