Maior congresso do MST reunirá 15 mil sem-terra em junho

Encontro nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra terá a participação de mais de 15 mil militantes, em Brasília, de 11 a 15 de junho, em defesa da reforma agrária com justiça social e soberania popular. Veja matéria de Jonas Valente, com V

De cinco em cinco anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) realiza seu congresso nacional. O primeiro evento da organização foi em 1985, na década marcada por uma onda de mobilizações populares que incluíram das greves do ABC paulista à luta pela redemocratização, passando pela criação de entidades importantes como a Central Única dos Trabalhadores, o Partido dos Trabalhadores e o próprio MST.


 


Em evento realizado na última semana em Brasília para marcar o lançamento de 5º congresso nacional, João Pedro Stedile, da coordenação nacional do movimento, relembrou histórias da formação deste que é um dos principais movimentos sociais do país.


 


Segundo Stedile, o MST foi resultado do crescimento cada vez maior de lutas por terra no país, que começaram de maneira isolada para resolver problemas de pequenos agricultores que muitas vezes eram apartados de suas terras. No combate a esta situação, três vertentes formaram o então nascente movimento: os integrantes da Comissão Pastoral da Terra, pessoas ligadas ao sindicalismo combativo de trabalhadores rurais e militantes partidários de esquerda.


 


“O nome MST quem deu foi a sociedade, se fosse por nós a gente se chamaria 'movimento de pessoas que lutam pela reforma agrária'. Mas começaram a nos chamar a assim aí não tinha quem mudasse”, lembrou o dirigente.


 


Enfrentando Collor e FHC


 


Destas tradições surgiu a proposta de um congresso voltado para a “celebração” e para a “construção da unidade”, e não para a disputa política interna ao movimento. A segunda edição foi em 1990, em uma época dura para o movimento. Então iniciando o primeiro governo eleito por voto direto após a ditadura, o presidente Fernando Collor de Mello aprofundou a repressão ao MST chegando a criar uma delegacia especializada para o movimento na Polícia Federal.


 


A derrubada do hoje senador da república pelo estado de Alagoas representou um momento de respiro para o movimento. Os outros dois congressos se deram na era de Fernando Henrique Cardoso, na qual o MST se destacou por ser uma das principais resistências organizadas na sociedade na sua luta pela reforma agrária durante os oito anos marcados pelo desmonte do Estado e pela promoção do projeto neoliberal no Brasil.


 


Se respeitado o ritmo usual, o 5º congresso deveria ter sido realizado em 2005, mas a crise política que eclodiu em junho daquele ano, por conta das denúncias de caixa 2 e pagamento de dinheiro não-contabilizado a deputados da base governista, gerou o adiamento o evento. Em 2006 vieram as eleições – e novamente a coordenação do MST optou por postergar a realização do encontro por considerar que o clima eleitoral atrapalharia a mobilização e o debate entre os integrantes do seu movimento.


 


Mais voltado para a formação política e a integração dos militantes do MST, o Congresso não tem função eletiva. As direções estaduais e nacional são eleitas nos encontros nacionais do MST a cada dois anos (o próximo deve ocorrer no início de 2008).


 


As bandeiras de luta


 


A espera fez crescer a organização para o congresso deste ano. Estão sendo esperadas mais de 15 mil pessoas em Brasília, no ginásio Nilson Nelson. Segundo informações do movimento, é o maior congresso da história do MST. O lema escolhido foi “Reforma Agrária por Justiça Social e Soberania Popular”.


 


Para Stédile, a compreensão atual de reforma agrária do governo federal, o descumprimento da lei e a falta de desapropriação de terra levam o programa a ter um papel de compensação social. O novo sentido de reforma agrária afirmado no lema do 5º congresso inclui duas novas idéias.


 


A justiça social vem para ampliar a noção do tema tradicional do movimento e mostrar que este deve ser uma preocupação de toda a sociedade no bojo da luta pela distribuição eqüitativa das riquezas produzidas e do acesso à terra. A soberania popular foi incluída pela avaliação do MST de que a luta opõe o modelo camponês de produção ao agronegócio.


 


Enquanto este último teria como função apenas acumular concentrando cada vez mais renda e entregando o meio ambiente ao capital internacional, a agricultura camponesa significa o comando dos recursos naturais pelo povo brasileiro.


 


Relação com governo


 


As demandas do movimento devem ir a público através de uma grande marcha por Brasília. Também é possível que, durante o Congresso – mas descolado de sua programação – ocorra uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, solicitada há tempos.


 


Sobre a relação do movimento com o governo, a direção diz que o MST quer uma reunião com Lula antes de falar com os ministros, uma vez que a política nacional de reforma agrária é definida basicamente pelo presidente. “É uma opção tática. Avaliamos que, no momento, o governo não tem nada a oferecer em termos de reforma agrária. Mas temos que falar com Lula antes” explica Gilmar Mauro, da direção nacional do MST em São Paulo.


 


O 5º congresso nacional do MST vai bater recorde também de crianças e adolescentes. São esperados mais de mil “sem-terrinha”. Para abrigá-los, foi lançada uma campanha de doações de roupas, cobertores e material escolar.


 


Segundo a coordenadora do comitê de apoio aos “sem-terrinha”, Sonia Hypólito, a presença da nova geração já nascida no bojo da história do MST é fundamental. Significa novas pessoas cuja formação está diretamente relacionada com o “novo mundo” que se deseja construir.