Filme contra guerra no Iraque denuncia manipulação midiática
Depois de vários filmes sobre a vida dos soldados e civis nas frentes de batalha no Iraque, o diretor americano Charles Ferguson lança nesta semana, nos Estados Unidos, uma obra que, pela primeira vez, enfoca os artífices do conflito e os preparativos par
Publicado 26/07/2007 18:34
Formado em Ciência Política, Ferguson, de 52 anos, foi membro do centro de pesquisa e análise política do Washington Brookings Institute. Em 1996, ganhou US$ 133 milhões com um negócio na internet, com o que autofinanciou seu documentário – de US$ 2 milhões. O filme levou o prêmio especial do júri no Festival de Cinema de Sudance,
Com uma precisão cirúrgica, o diretor desenha de forma ferina os planos que os Estados Unidos traçaram para depois da invasão do Iraque, servindo-se do testemunho de 70 figuras-chave. Revelando uma cadeia de decisões políticas da Autoridade Provisória da Coalizão (CPA) – que incluíram a dissolução do exército iraquiano, o desmantelamento do Partido Baath, de Saddam Hussein, e o fracasso para conter as desordens civis -, o filme explora de forma meticulosa cada passado tramado pelos arquitetos do conflito.
Reação à mídia
Ferguson afirma que desejava fazer o filme como uma resposta ao modo que a guerra no Iraque foi abordado incorretamente na mídia. “Como especialista em ciência política, com muitos amigos analistas de política externa, fiquei especialmente preocupado com a qualidade da cobertura.”
Segundo o diretor, “foram escritos livros muito bons sobre o Iraque – mas poucos americanos têm tempo para ler um livro de 400 páginas. Não podemos ter uma idéia geral de um problema complicado vendo televisão ou lendo os jornais”. De fato, as conclusões do filme resultam fulminantes, conforme enfatizou um crítico nesta semana: “Até o público mais bem informado ficará de queixo caído”.
No End in Sight destrincha várias denúncias vigorosas, como a decisão do chefe da CPA, Paul Bremer, de desmantelar o exército iraquiano. “Eu já conhecia boa parte dos fatos gerais”, diz Ferguson. “Mas, quando fui me inteirando de como era idiota e absurdo o comportamento da administração, resolvi não voltar atrás com o projeto”.
Sob julgamento da história
O caso de Bremer é emblemático, e sua postura à frente da CIA foi analisada como uma das causas do reforço da insurreição. Sem o exército iraquiano, milhares de sunitas se somaram às fileiras rebeldes porque se encontravam desempregados e estavam, além disso, enfurecidos com as forças invasoras.
“Bremer tomou essa decisão seguindo as recomendações de Walter Slocombe (um conselheiro da CPA) quando nenhum dos dois viveu no Iraque e quando Bremer tinha apenas nove dias no posto”, acusa Ferguson. “Houve dezenas de decisões tomadas da mesma forma.”
Para o diretor, a grande pergunta é se os principais artífices da guerra – o ex-secretário da Defesa americana, Donald Rumsfeld, e seu adjunto Paul Wolfowitz – vão prestar contas por esses fatos. Ambos se negaram a aparecer ante as câmeras de No End in Sight, mas Ferguson minimiza: “Estou certo de que eles serão julgados severamente pela história – e isso já começou”.