Tribuna de Debates da 12ª Conferência Esatadual do PCdoB – Pará
Renovar perspectiva política e reorganizar trabalho de direção
Publicado 24/09/2007 12:08 | Editado 04/03/2020 16:53
A nossa Conferência Estadual precisa enfrentar os problemas políticos mais profundos da construção partidária no estado. Aqui, busco com espírito crítico e autocrítico, analisar o que considero ser os aspectos mais candentes. Faço isso consciente do papel que desempenho na direção e das minhas responsabilidades, sabendo que boa parte dos encaminhamentos desenvolvidos pela Direção teve minha participação destacada. Quando falo em olhar crítico e autocrítico, faço isso olhando para a atuação da Direção e para a minha atuação e minhas responsabilidades.
Penso que a nossa Conferência deva partir de um diagnóstico e responder principalmente a duas questões. Vamos, então, a este debate. O PCdoB no Pará vive um período de crise no processo de nossa construção. Vivemos um período em que boas possibilidades se abrem para a esquerda, fruto do novo momento político, com as vitórias de Lula e Ana Julia. Porém nosso crescimento ainda tem sido pequeno e temos tido muitas dificuldades para acompanhar e aproveitar plenamente as possibilidades de crescimento.
Parte importante desta crise denota de dificuldades em construir uma perspectiva política coletiva mais larga para o Partido. Nestes últimos anos muitos militantes da luta do povo, em busca de espaços para atuar politicamente, tem entrado no Partido. Nossa participação nas eleições tem sido marcada pela política de coligação com concentração, e estas lideranças tem tido seus anseios políticos represados. Esta política ficou defasada e com a derrota eleitoral esta defasagem se ampliou. Permanecer nesta política por mais tempo pode levar a um estreitamento de nossas perspectivas.
Nossa crise também tem origem em nossa atuação nos movimentos sociais. Aqui nossa marca tem sido dar pequena atenção a esta atividade. É necessário uma linha política estadual mais clara, maior conhecimento sobre os movimentos e uma integração mais efetiva do Partido nestes. Aqui também, se observam as nossas limitações na construção de perspectiva política mais larga.
Elemento de importância de nossa crise política é a utilização de métodos ultrapassados de direção. Marcadamente uma centralização do trabalho de direção no Secretariado e uma política de financiamento de nossa atividade em bases falsas, com ênfase no endividamento, especialmente no período eleitoral. Estes métodos, somados aos problemas na abertura de perspectiva política mais ampla, têm levado a relações fraturadas, marcadas pelo sectarismo, entre os membros de nossa direção.
A derrota eleitoral de 2006 agravou esta crise, estreitou nossa perspectiva política e ampliou as fraturas nas relações na direção partidária. Ampliou também as nossas dificuldades financeiras e atinge nossa ação nos movimentos sociais.
Desafios da Conferência
O debate de nossa Conferência, partindo deste diagnóstico, precisa se deter em resolver duas grandes questões, apresentando rumos para elas. O primeiro grande tema é de repor em bases amplas nossa perspectiva política, ancorada em um projeto coletivo. Neste aspecto ganha maior realce a batalha eleitoral de 2008. Nosso Partido precisa aproveitar o momento de maiores espaços para esquerda para ampliar suas possibilidades eleitorais. Com o novo cenário político, com a reeleição de Lula e a vitória de Ana Julia, com o realinhamento do PT em direção ao centro, abre-se um espaço à esquerda que precisa ser disputado pelo Partido. Aqui necessitamos de enfrentar nossa defasagem nas disputas eleitorais, onde disputávamos somente as eleições proporcionais e em coligação e com concentração. É preciso desafiar o Partido, buscando a alternativa de disputas de Prefeitos, Vice-Prefeitos e composição de chapas próprias e/ou amplas para as disputas de Vereadores.
Para enfrentar as eleições em um patamar mais elevado, mergulhando a fundo nas disputas eleitorais é necessário ampliar as relações do Partido, incorporando novas lideranças, homens e mulheres do povo que buscam um espaço para a ação política. Também necessitamos uma ação política mais ampla, com relações com o conjunto da sociedade dos municípios. Assim como devemos buscar alianças políticas mais amplas para as eleições, tendo como referência os partidos do Bloco de Esquerda, o PT, setores do PMDB e dos demais partidos que compõem a base de apoio dos governos Lula e Ana Julia.
Na construção de uma perspectiva política mais ampla aspecto saliente é a nossa ação entre os movimentos de massas. Aqui necessitamos avançar na constituição de uma linha política mais definida e ampliar nossa presença e atenção a estes movimentos. Parte da ampliação de perspectiva política é direcionar os esforços da ação institucional governamental para contribuir nesta construção.
Este caminho todo desembocará nas eleições de 2010. Enfrentar de forma plena as eleições de 2008, participando das disputas de Prefeitos e Vice-Prefeitos e lançando e elegendo vereadores em chapas próprias e/ou amplas. Para isso é preciso também ampliar nossa atenção aos movimentos sociais e colocar nosso trabalho institucional governamental a serviço de um projeto coletivo. Tudo isso junto pode nos colocar em boas condições para retomar nossas vagas na assembléia Legislativa e na Câmara de Deputados, além de criar melhores condições para participar da disputa majoritária em 2010.
A segunda grande questão que nossa Conferência precisa se deter é a reorganização do nosso trabalho de direção. Precisamos, ao observar com equilíbrio os fatores de permanência e renovação na constituição da Direção, dar um forte enfoque na renovação. É necessário renovação de pessoas, métodos e estilo. Aproveitar novos quadros, incorporando na direção o movimento de crescimento que observamos no Partido e renovando a energia de nosso Comitê Estadual. Isso sem descartar a experiência de um conjunto de quadros que jogam papel na construção partidária.
Nossos métodos e estilo de direção precisam de uma profunda renovação, valorizando o funcionamento coletivo. Exercitando mais o Pleno do Comitês Estadual nas discussões e debates políticos. A Comissão Política Estadual deve ser o centro do trabalho de direção, atuando plenamente nos intervalos de reuniões do CE. O Secretariado deve funcionar como instrumento executivo, onde se deve ampliar a capacidade de autonomia e de iniciativa dos(as) secretários(as), exercitando mais a idéia de definições coletivas e responsabilidades individuais. Precisamos também melhorar as condições de trabalho da direção, aproveitar mais todos os quadros partidários nas tarefas executivas, com o exercício das comissões auxiliares.
Este trabalho de renovação deve está em sintonia com um olhar prioritário para a nossa construção em Belém. Conformar um Comitê Municipal na capital que possa dirigir efetivamente nossa ação em Belém. Para isso é necessário compor o Comitê com quadros capacitados e formados no processo de construção partidária e com visibilidade pública. Esse caminho de prioridade em Belém deve ser acompanhado de um forte trabalho de regionalização do trabalho de direção, constituindo Fóruns Regionais com a participação dos Comitês Municipais e que se reúnam sempre que o Comitê Estadual reunir. Estes Fóruns devem ser valorizados, sendo realizados com presença de vários membros da Comissão Política Estadual.
Nossos desafios são grandes e nossa situação é de muitas dificuldades. A saída para enfrentarmos os desafios e as dificuldades é o trabalho coletivo. Fruto do debate coletivo podemos sair com resoluções que, analisando o diagnóstico da situação do Partido, buscar caminhos que renovem a perspectiva política coletiva em bases amplas e reorganize o trabalho de nossa direção.
* Jorge Panzera é Secretário Estadual de Organização do PCdoB Pará.