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Adalberto Monteiro: Frege

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Uma inflorescência híbrida:
Perfumes fortes e cores múltiplas e densas.
Forma uma força gravitacional
Que não há um só bicho com
Olfato e sexo que não seja sugado ao seu centro.


Um bando de bichos de raças várias,
Que vai do beija-flor ao marimbondo.
Entrechoca-se na maciez da tez das pétalas,
— Um frege!


 


Ingerem longos goles de perfume,
Lambuzam-se de pólen,
As labaredas das cores cegam-lhes as retinas,
E zunem e trinam e copulam desordenadamente
Fazendo surgir estranhas espécies.


 


Quando o sol descamba no morro,
A festa se desfaz
E o bando se dispersa.
Tontos voam em zigue-zague,
Cambaleantes.


 


As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006