As diversas faces do Saci

O Saci-Pererê é um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro. Provavelmente, surgiu entre povos indígenas da região Sul do Brasil, ainda durante o período colonial (possivelmente no final do século XVIII). Nesta época, era representado por um

Porém, ao migrar para o norte do país, o mito e o personagem sofreram modificações ao receberem influências da cultura africana. O Saci transformou-se num jovem negro com apenas uma perna, pois, de acordo com o mito, havia perdido a outra numa luta de capoeira. Passou a ser representado usando um gorro vermelho e um cachimbo, típico da cultura africana. Até os dias atuais ele é representado desta forma.


 


 


No Cariri, o Saci foi substituído por outros mitos e lendas que estão mais próximos dos sertanejos como, por exemplo, o Lobisomem, um ser lendário, com origem em tradições européias, segundo as quais, um homem pode se transformar em lobo ou em algo semelhante a um lobo, em noites de lua cheia, só voltando à forma humana, novamente, quando o galo canta.


 


 


No Brasil existem muitas versões dessa lenda, variando de acordo com a região. Uma versão diz que a sétima criança em uma seqüência de filhos do mesmo sexo tornar-se-á um lobisomem. Outra versão diz o mesmo de um menino nascido após uma sucessão de sete mulheres. Outra, ainda, diz que o sétimo filho homem de um sétimo filho homem se tornará a fera. Em algumas regiões, o Lobisomem se transforma à meia noite de sexta-feira, em uma encruzilhada. Como o nome diz, é metade lobo, metade homem.


 


 


Depois de transformado, sai a noite procurando sangue, matando ferozmente tudo que se move. Antes do amanhecer, ele procura a mesma encruzilhada para voltar a ser homem. Em algumas localidades diz-se que eles têm preferência por bebês não batizados, o que faz com que as famílias batizem suas crianças o mais rápido possível. Já em outras diz-se que ele se transforma se espojando onde um jumento se espojou e dizendo algumas palavras do livro de São Cipriano e assim podendo sair transformado comendo porcarias até que quase se amanheça retornando ao local em que se transformou para voltar a ser homem novamente.


 


 


No Cariri, um dos mais conhecidos lobisomens foi Vicente Araújo da Silva, conhecido por “Vicente Fino”, que morreu na década de 80, no sitio Cabeceiras, município de Barbalha, deixando uma imagem de pavor para os meninos das gerações dos anos 40 e 50. Ainda hoje as lembranças de “Vicente Fino” vagueiam pelo sertão do Cariri.


 


 


O Decurião do grupo de Penitentes de Barbalha, Joaquim Mulato, conheceu Vicente Fino. Ele recorda que era um homem misterioso que se “envultava”, isto é, transformava-se num vulto. “Ele estava conversando com a gente e, de repente, desaparecia”, relata o velho decurião.


 


 


Ao lado da casa onde Vicente Fino Morreu, no sítio Cabeceiras, foi construída uma chácara com o nome “Toca do Lobo”. A aposentada Maria Alice Barbosa, que deu abrigo ao suposto lobisomem, nos seus últimos anos de vida, diz que Vicente Fino jurava por Deus, que nunca virou Lobisomem. No entanto, se transformava em animal, garante.


 


 


Ela lembra que, quando era menina, a mãe saia de casa e recomendava: “Não se aproxime de Vicente Fino. Ele vira lobisomem. Apesar da advertência, ela era amiga de Vicente Fino que sempre andava com amendoim para distribuir com as crianças.


 


 


Dona Alice guarda, com carinho, um cordel com a foto de Vicente Fino e, por conta das histórias que giram em torno dele, sua casa recebe freqüentes visitas de estudiosos, pesquisadores, jornalistas e estudantes querendo saber detalhes sobre o mais famoso Lobisomem do Cariri.


 


 


Localizado no centro do Nordeste num ponto eqüidistante entre as principais capitais nordestinas, o Cariri se transformou num centro de lendas, mitos e crendices.


 


 


Outro fato que fortaleceu esta cultura foi a divulgação dada pelos intelectuais da região, entre os quais, o jornalista J. de Figueiredo Filho, que escreveu Folguedos Populares do Cariri. Recentemente, as lendas foram transformadas em cordéis. Saci, lobisomem, mula-sem-cabeça, caipora, enfim, nosso universo é rico é repleto de lendas e mitos.


 


 


Fonte: Diário do Nordeste