Frente GLBTT na Bahia lê manifesto durante a Conferência

Durante a Conferência Estadual, a frente que representa Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros e Transsexuais (GLBTT) leu um manifesto falando dos tabus que envolvem a discussão da sexualidade e denunciando o preconceito sofrido por aqueles que&

A frente ressaltou ainda a importância da abertura que o PCdoB tem dado para o debate do tema. Falando em nome da frente, Valquíria Costa afirmou que o partido assumiu uma grande responsabilidade ou receber em seus quadros representantes do movimento. “É o primeiro partido onde vejo uma frente GLBTT organizada e com direito efetivo a voz e vez nas discussões”, declarou.


 


O PCdoB vai mais longe e pretende apresentar nas próximas eleições a candidatura da militante do movimento negro e da luta pela livre expressão sexual, Valquiria  Costa para a Câmara de Vereadores de Salvador.  Na Conferência, a frente mostrou a determinação de seus participantes quando Paloma Trindade, Pedro Roberto Lima, Cláudia Café e Valquíria Costa se inscreveram para falar, mas preferiram utilizar o tempo, de 9 minutos,  para ler o manifesto e ressaltar a importância de suas bandeiras.


 


Confira o manifesto:


    


''Camaradas,


         Para falar sobre sexualidade se faz necessário antes de qualquer coisa conceituá-la. Então, vamos ao conceito: é a qualidade ou condição sexual, conjunto de comportamentos ligados aos instintos sexuais ou à satisfação de desejos eróticos.
         Muito se comenta sobre sexualidade, esse tema foi e é discutido ao longo do tempo em todas as sociedades. Mas o que é exatamente sexualidade? Ao que está ligada?  Ao sexo na acepção da palavra? Preferências sexuais ou atos sexuais? Bem, está ligada a tudo isso. Contudo, não apenas relacionados às chamadas tendências sexuais. É muito mais que isso, não está tão restrito seu campo, seu domínio.
         Antes de mais nada, o tabu referente a sexualidade se dá porque o indivíduo não entende a orientação do outro, não percebe que o fato de um cidadão não ter  a mesma orientação que ele, não faz dele um elemento diferente em todos os sentidos, um elemento que deve ser marginalizado, excluído da sociedade, do convívio social no qual está inserido. Não existe nada que faça um indivíduo ser igual ao outro. Na verdade, todos somos diferentes, todos somos iguais, todos temos nossas particularidades e é isso que nos torna seres humanos. Somos singulares e plurais ao mesmo tempo. Então, a sexualidade e as sexualidades existentes nada mais são do que uma outra forma de viver. Porém, em momento algum são sensações diferentes, são sentimentos diferentes. O que temos são simplesmente deslocamentos de sentidos são paradigmas diferentes e, por conseguinte uma mudança de objeto ou objetos de desejos não meramente sexuais.
         O movimento Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros e Transsexuais (GLBTT) brasileiro organizado tem enfrentado a histórica situação de discriminação e marginalização em que foi colocado no seio da sociedade brasileira. E para além da luta pelo reconhecimento de seus legítimos direitos civis, sociais e políticos, sua atuação tem se desdobrado em um notável engajamento no enfrentamento de graves problemas de interesse público.
         É preciso rejeitar de forma veemente qualquer tipo de exclusão, qualquer tipo de pensamento que tente limitar a condição humana a apenas uma parte dos seres humanos. É nesta capacidade que reside a liberdade de cada um seguir seu destino e escolher seus caminhos, sabendo que não estará tolhido em seus direitos por quaisquer opções que faça e que digam respeito somente a ele.
         Todos os seres humanos são iguais. As diferenças com as quais os separamos em grupo estão só na nossa mente, na nossa incapacidade de compreender esta unidade, às vezes no nosso desejo de fazer com que todos sejam iguais ao que pensamos que deviam ser.
         O PCdoB sempre se pautou por respeitar opiniões e posições de todas as questões, organizações políticas e sociais, sobretudo aquelas que compõem o campo de luta progressista e avançada. Ter a Comissão Organizadora e deliberativa GLBTT dentro dos movimentos sociais do partido é um avanço na sua história e seus 85 anos, pois o marxismo sendo bem usado nas questões dos movimentos sociais, enobrece ainda mais a sociedade.
         Presenciamos hoje uma intensa cruzada religiosa contra o movimento GLBTT, que acena com o retrocesso e a negação de nossos direitos humanos básicos como o de ser quem somos.
         Enquanto existir alguém que se considere superior, que busque a imposição de suas idéias, que se julgue detentor da verdade e da solução dos problemas da humanidade, teremos confronto. Pontos de vista diferentes devem ser respeitados e só o convívio com a diversidade solidifica a democracia. O movimento GLBT Tcontinua acreditando na paz e na convivência harmônica entre todos.
         No Brasil, o movimento GLBTT, começou a ocupar destaque após a abertura política advinda do processo de distensão do regime militar.
         O enfretamento à discriminação e à violência contra as populações caracterizadas pela diversidade sexual e suas interseções com a diversidade étnica, racial, cultural, de gênero e de crenças religiosas, exige o envolvimento de toda a sociedade. Isso significa trabalhar num processo de articulação, centrado em ambiente efetivo de rede, que apóie a formação, organização e desenvolvimento de mecanismo de trabalho envolvendo diversas entidades, instituições, ongs, comitês, sindicatos etc. que reivindiquem a positivação de direitos e sua efetivação. 
         As experiências de homens e mulheres GLBTT, negros em relação as suas relações afetivo-sexuais são parte de um processo de construção de suas identidades. Ao descrevemos essas relações, temos em mente a pluralidade em que categorias sociais como classe, raça, geração, orientação sexual etc.
         Os meios de comunicação são instrumentos de controle social. Analisando o papel das telenovelas da Rede Globo e seus personagens GLBTT, pode-se dizer que há tentativa de normatização do comportamento, não apenas sexual, da população GLBTT brasileira, bem como de um modelo de gay que pode ser aceito socialmente, através de definição de padrões étnico-raciais, econômicos e comportamentais.
         A diversidade sexual geralmente são discussões polêmicas por parte da sociedade que normalmente se posiciona completamente contrárias a qualquer abertura no sentido de reconhecer, respeitar e legitimar a união entre pessoas do mesmo sexo.
         Neste contexto de discriminação e desrespeito pela diversidade sexual, analisamos a construção de gênero numa sociedade baseada no modelo patriarcal.
         Ao destacar conquistas obtidas nos últimos anos, em defesa dos direitos GLBTT brasileiros, devemos, entretanto, reconhecer, igualmente, que a sua crescente organização e visibilidade têm permitido avaliar com mais clareza a grave extensão da violação de seus direitos e garantias fundamentais. É justamente porque todas estas orientações são privadas que o Estado tem a obrigação de formular políticas públicas que as preservem. Não para conduzir por aqui ou ali, mas para permitir que cada um tenha seus direitos individuais de decisão protegidos, para assegurar de forma impessoal que nenhuma orientação acarrete a perda da condição de humanidade por conta do preconceito, da discriminação e da exclusão.
  
Viva a liberdade sexual, viva o socialismo.


Comissão da Frente GLBTT ''


 


De Salvador,



Eliane Costa