Cotas raciais marcam eleições do DCE da Ufrgs
A polêmica em torno das cotas raciais tem sido o centro das eleições
para o Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (Ufrgs). Na última semana, um cartaz com propaganda
de uma das chapas foi pichado com uma suá
Publicado 22/11/2007 12:58 | Editado 04/03/2020 17:12
O cartaz pertence à chapa DCE Livre, a única das quatro concorrentes que se declara contra a adoção das cotas na Ufrgs. Segundo a presidente da chapa, Cláudia Thompson, o ato foi praticado por pessoas que condenam a proposta da chapa de tentar revogar o sistema. Na sua avaliação, as cotas diferenciam os alunos somente pela cor da pele, o que seria uma forma de discriminação.
“A gente entende que pessoas que têm a mesma condição socioeconômica serem diferenciadas exclusivamente pela cor da pele é um total absurdo, porque existe uma cota separada, dentro da cota da escola pública, para os negros, que seriam os pretos e os pardos. A gente considera isso uma total discriminação, essa é a nossa posição”, diz.
Cláudia acredita que membros de outras chapas possam ter feito as pichações. No entanto, a integrante da chapa Todos Iguais, braços dados ou não, Raquel Matos, que é a favor da adoção das cotas, afirma que as suspeitas são infundadas.
“Essa questão de promover a discriminação, promover a segregação social e racial vem justamente desse grupo que teve seus cartazes pichados. Foi justamente esse grupo que se posiciona contra as cotas, foi justamente esse grupo que dissemina o preconceito e o racismo dentro da universidade. Isso é muito preocupante porque tivemos pichações racistas, agora pichações nazistas. Eu acho que só bota à tona os problemas e o que está em xeque na universidade hoje, que é a questão racial, é a questão da segregação”, avalia.
Para Raquel, as cotas são um passo importante na consolidação do projeto de uma universidade pública e popular. Agora, acredita que o desafio é fazer uma boa recepção aos calouros que vão ingressar pelo sistema de cotas e discutir a inclusão dentro dos diretórios acadêmicos.
Já o integrante da chapa Roda Viva, Caio Britto, alerta para as manifestações de preconceito que já existem dentro da universidade e que tendem a aumentar no próximo ano.
“Tem alguns cursos onde determinados estudantes, determinados grupos estão, nesse momento, pensando em fazer trote diferenciado com cotista, receber o cotista de maneira diferente dentro da universidade. Tem outros que estão dizendo por aí que não fazem trabalho em grupo com os cotistas. Isso para nós é preconceito”, afirma.
A mesma opinião tem o integrante da chapa “Quem vem com tudo não cansa”, César Marroni, também favorável ao sistema. Segundo ele, o DCE vai ter um papel muito importante no próximo ano, o de combater o preconceito e punir quem cometer atos de intolerância.
“Nós queremos dar uma assistência aos cotistas que entrarem, principalmente os negros que vão sofrer mais preconceitos.E a pichação é um ato de vandalismo, nós somos contra isso, pois achamos que qualquer tipo de discriminação não pode ocorrer”, diz.
As pichações de cunho nazista devem ser denunciadas aos Ministérios Públicos Federal e Estadual e à Procuradoria-geral da Universidade. As eleições para o DCE se iniciaram nesta terça-feira e terminam nesta quinta.
O sistema de cotas na Ufrgs prevê que 30% das vagas de cada curso de graduação vão ser destinadas a alunos de escolas públicas. Dessas, metade vão ser para alunos que se declararem negros. Aprovadas neste ano pelo Conselho Universitário (Consun), as cotas devem ser revistas em 2012.
Chasque