Cotas raciais marcam eleições do DCE da Ufrgs

A polêmica em torno das cotas raciais tem sido o centro das eleições
para o Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (Ufrgs). Na última semana, um cartaz com propaganda
de uma das chapas foi pichado com uma suá

O cartaz pertence à chapa DCE Livre, a única das quatro concorrentes que se declara contra a adoção das cotas na Ufrgs. Segundo a presidente da chapa, Cláudia Thompson, o ato foi praticado por pessoas que condenam a proposta da chapa de tentar revogar o sistema. Na sua avaliação, as cotas diferenciam os alunos somente pela cor da pele, o que seria uma forma de discriminação.

 

“A gente entende que pessoas que têm a mesma condição socioeconômica serem diferenciadas exclusivamente pela cor da pele é um total absurdo, porque existe uma cota separada, dentro da cota da escola pública, para os negros, que seriam os pretos e os pardos. A gente considera isso uma total discriminação, essa é a nossa posição”, diz.

 

Cláudia acredita que membros de outras chapas possam ter feito as pichações. No entanto, a integrante da chapa Todos Iguais, braços dados ou não, Raquel Matos, que é a favor da adoção das cotas, afirma que as suspeitas são infundadas.

 

“Essa questão de promover a discriminação, promover a segregação social e racial vem justamente desse grupo que teve seus cartazes pichados. Foi justamente esse grupo que se posiciona contra as cotas, foi justamente esse grupo que dissemina o preconceito e o racismo dentro da universidade. Isso é muito preocupante porque tivemos pichações racistas, agora pichações nazistas. Eu acho que só bota à tona os problemas e o que está em xeque na universidade hoje, que é a questão racial, é a questão da segregação”, avalia.

 

Para Raquel, as cotas são um passo importante na consolidação do projeto de uma universidade pública e popular. Agora, acredita que o desafio é fazer uma boa recepção aos calouros que vão ingressar pelo sistema de cotas e discutir a inclusão dentro dos diretórios acadêmicos.

 

Já o integrante da chapa Roda Viva, Caio Britto, alerta para as manifestações de preconceito que já existem dentro da universidade e que tendem a aumentar no próximo ano.

 

“Tem alguns cursos onde determinados estudantes, determinados grupos estão, nesse momento, pensando em fazer trote diferenciado com cotista, receber o cotista de maneira diferente dentro da universidade. Tem outros que estão dizendo por aí que não fazem trabalho em grupo com os cotistas. Isso para nós é preconceito”, afirma.

 

A mesma opinião tem o integrante da chapa “Quem vem com tudo não cansa”, César Marroni, também favorável ao sistema. Segundo ele, o DCE vai ter um papel muito importante no próximo ano, o de combater o preconceito e punir quem cometer atos de intolerância.

 

“Nós queremos dar uma assistência aos cotistas que entrarem, principalmente os negros que vão sofrer mais preconceitos.E a pichação é um ato de vandalismo, nós somos contra isso, pois achamos que qualquer tipo de discriminação não pode ocorrer”, diz.

 

As pichações de cunho nazista devem ser denunciadas aos Ministérios Públicos Federal e Estadual e à Procuradoria-geral da Universidade. As eleições para o DCE se iniciaram nesta terça-feira e terminam nesta quinta.

 

O sistema de cotas na Ufrgs prevê que 30% das vagas de cada curso de graduação vão ser destinadas a alunos de escolas públicas. Dessas, metade vão ser para alunos que se declararem negros. Aprovadas neste ano pelo Conselho Universitário (Consun), as cotas devem ser revistas em 2012.

Chasque