No 22º dia de jejum Cappio apresenta 'fragilidade física'
O estado de saúde do bispo de Barra (BA), Dom Luiz Flávio Cappio, 61, que está há 22 dias em greve de fome contra as obras de transposição do Rio São Francisco, vem apresentando fragilidade física, de acordo com o médico Klaus Finkam, que o atende em Sobr
Publicado 18/12/2007 18:06
A família tem sido solidária à Dom Cappio. Um grupo de 20 parentes do bispo, moradores de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba (SP), fizeram um jejum de 24 horas nesta semana em apoio à greve de fome do bispo. Os familiares, a maioria sobrinhos e filhos destes, diariamente acompanham a greve de fome do bispo.
“Falamos toda noite com meu pai, que foi pra lá assim que meu tio nos avisou que reiniciaria o jejum”, afirmou o advogado Luiz Flávio Godoy Cappio, um dos cinco sobrinhos, filho do comerciante João Franco Cappio, irmão mais velho de Dom Cappio.
“Até meu filho de 10 anos também fez o jejum, de livre e espontânea vontade, para dar apoio ao tio”, disse Godoy.
Os parentes, que fazem orações diárias pela saúde do bispo de Barra dedicam as missas de domingo a ele, mas concordam com a greve, mesmo sabendo que a atitude pode custar à vida dele.
“Não ousamos pedir para ele parar porque sabemos que os motivos que o levaram ao jejum são maiores que nossa paz de espírito. Não queremos atrapalhar esse momento, que é um gesto supremo”, agregou Godoy.
Desde que começou a abstinência de alimentação, o bispo tem a companhia do irmão que é comerciante aposentado.
“Mandamos cartas para meu tio, com a assinatura das crianças, para que sirva de incentivo e estímulo”, completa Godoy.
Os sobrinhos reclamaram também da pouca cobertura da imprensa para o protesto. “Não sabemos por que não estão divulgando tanto, já que é um assunto tão sério, por uma causa tão nobre”, afirmou o comerciante Sérgio Cappio, outro sobrinho do bispo.
“Estamos muito preocupados porque sabemos que o tio Flávio vai até o fim, principalmente, por acreditar nos princípios cristãos e por seguir Jesus Cristo”, afirmou o sobrinho Flávio Cappio.
Negociações paradas
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) informou que a reunião entre representantes da entidade e o chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, previsto inicialmente para o começo da tarde desta terça (18), deve ocorrer somente à noite. De acordo com a CNBB, o retardamento da reunião foi motivado pela dificuldade de alguns integrantes da entidade para chegar a Brasília por conta de atrasos nos vôos.
No encontro, informa a CNBB, serão discutidas propostas de solução para as reivindicações de Dom Cappio. O Palácio do Planalto iniciou, no fim de semana, um intenso diálogo com o bispo na expectativa de uma possível interrupção da greve de fome do religioso.
Tanto o governo quanto o bispo, porém, não abrem mão de suas posições. Cappio diz que só interrompe a greve de fome se as obras forem paralisadas, já o governo diz que não irá interromper as obras de transposição do rio São Francisco.
Extremo inaceitável
Contudo, o bispo negou nesta segunda (17) que esteja negociando com o governo, mas confirmou ter recebido propostas de Gilberto Carvalho, que chamou de “indecorosas”. O governo propôs ao bispo a imediata implantação de projetos para revitalizar o rio e um milhão de cisternas para o semi-árido.
Na semana passada, Lula recebeu o comando da CNBB. Disse aos bispos que não interromperá as obras e que a greve de fome de Dom Luiz é um problema exclusivo da igreja. O Vaticano e a CNBB já se pronunciaram pedindo que Dom Cappio interrompa seu protesto.
Nesta segunda, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias afirmou que o bispo tem sido “intransigente” e que a linha de sua greve de fome é um extremo 'inaceitável'.
Justiça pode dar fim ao protesto
As obras estão embargadas pela Justiça Federal desde 11 de dezembro. O governo recorreu ao STF, que deve analisar o pedido nesta quarta (19). Mesmo se a liminar for derrubada, as obras só devem ser retomadas após 7 de janeiro, quando os militares do Exército voltam do recesso.
Assessores diretos de Cappio afirmaram ao jornal Correio da Bahia nesta segunda que, caso a Justiça dê nova sentença favorável ao fim das obras, o bispo pode decidir acabar com a greve de fome nesta quarta (19).
Em apoio a Dom Luiz, pouco mais de dez representantes de movimentos sociais começaram nesta segunda um protesto silencioso em frente ao Planalto.
Esta é a segunda vez que o bispo faz greve de fome contra a transposição. Em outubro de 2005, ele permaneceu 11 dias sem se alimentar em protesto contra o projeto.
A transposição do rio São Francisco, um antigo projeto que pode beneficiar 12 milhões de pessoas, é tratada como uma das principais prioridades do governo Lula, e suas obras começaram em junho deste ano.