Pimentel propõe aliança PT-PSDB e tensiona disputa em BH
O possível acordo proposto pelo prefeito de Belo Horizonte (MG), Fernando Pimentel (PT), de buscar uma aliança entre o PT e o PSDB para um candidato à prefeitura que não esteja ligado a nenhum dos dois partidos – caso o ministro do Desenvolvimento Soci
Publicado 06/01/2008 15:19
Pouco antes de sair para suas férias de fim de ano na Europa, o prefeito de BH pôs a boca no trombone e esquentou as discussões em torno de sua sucessão. Defendeu em alto e bom som uma aliança com os tucanos, admitindo inclusive que o candidato saia do partido, e da confiança, do governador Aécio Neves.
“Na hipótese de o PT estar sem um candidato natural – porque tem, é o ministro Patrus Ananias – e na hipótese de o governador entender que também não tem um candidato natural, isso poderia confluir para um cenário em que se buscaria um nome de consenso”.
Pimentel, em entrevista ao jornal Estado de Minas, revelou que o nome deveria ser respeitado na cidade e que transitasse com igual desenvoltura “em nosso campo e no PSDB, que tivesse trajetória administrativa e política que o qualificasse para ser candidato”.
Pimentel explicitava ali as articulações que se desenvolvem há meses nos círculos políticos mineiros. A procura de um nome de comum agrado do prefeito e do governador do estado. Como simples especulação, ou como teste de aceitação, vários nomes já foram ventilados, sempre tentando se esconder sob o perfil de um “técnico”. Coincidência ou não, o mesmo adjetivo empregado por Aécio para vangloriar sua equipe de governo.
Na entrevista, Pimentel segue o mesmo rumo. Perguntado sobre a possibilidade deste nome ser a secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, o petista comenta: “a secretária é qualificada para disputar qualquer cargo público. Não sei se ela quer seguir a carreira política. Ela está hoje na carreira administrativa. Um nome que for apresentado pelo PSDB e pelo PT limita o campo do entendimento. É natural que seja assim. Exacerba um pouco as divergências de um lado e de outro”.
Reações
A repercussão das revelações do prefeito foram imediatas. A começar pelo seu próprio partido. “Apesar de em Minas fazermos política de forma respeitosa, preservando as relações institucionais, há grandes diferenças que separam os projetos políticos. A principal delas diz respeito à gestão do governo”, opinou o presidente do PT em Minas, deputado federal Reginaldo Lopes.
Segundo ele, o governo petista compartilha a gestão, privilegiando a participação popular. “Além disso, o destaque que damos à questão social é uma grande diferença entre o nosso governo e o governo do estado”, afirmou.
Para Lopes, é no momento eleitoral que as diferenças se destacam. “Uma coisa são relações institucionais. Outra coisa é a disputa, quando se marcam as diferenças. Acho esse acordo muito difícil”.
Apesar da proximidade política que tem com o prefeito, Reginaldo aponta para um outro caminho na relação com Aécio, “aprovamos no terceiro congresso estadual do PT que somos oposição ao atual governo do PSDB, por unanimidade”.
Jogar a toalha
Já o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), um aliado de Pimentel, foi mais incisivo em sua reação ao possível acordo entre petistas e tucanos. “É para fazer um acordo com o Palácio da Liberdade? O PT quer jogar a toalha antes do tempo?”, indagou o peemedista em entrevista ao mesmo jornal.
“Pode jogar sozinho. O PMDB tem candidato. Esse acordo primeiro tem de chegar aos nossos companheiros, que estão em nossa base. Se não é o Patrus, se não é o Hélio Costa, vamos ver quem vai ser dentro do PMDB, do PCdoB”, completou em seguida.
Outros nomes, “do PT e da base aliada”, como Virgílio Guimarães e Roberto Carvalho (PT) têm que ser avaliados, disse Costa. “O PMDB tem outros nomes que podem ser chamados. E há a deputada federal Jô Moraes, do PCdoB”, sugere.
Para ele, tentar fazer um acordo automático com o adversário é complicado. “Toda vez que adversários históricos tentaram se unir, o eleitor, que não é bobo, os rejeitou”, argumenta.
Base aliada
Outra que defende a busca de uma saída entre os partidos que participam do governo Lula é a deputada federal Jô Moraes, presidente do PCdoB mineiro.
“O projeto de 2010 colocará em confronto o PSDB e o PT. É preciso unificar o campo dos aliados do governo Lula. Se não for possível no primeiro turno, que seja pelo menos no segundo”, afirmou a comunista quando sondada pelo Estado de Minas sobre o assunto.
Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, em dezembro passado, Jô Moraes é o nome da esquerda mais bem posicionado, caso Patrus Ananias não venha para a disputa. Com uma média de 8%, Jô estaria atrás do deputado estadual tucano João Leite e tecnicamente empatada com o deputado federal Antônio Roberto (PV).
Estado mínimo
Além do presidente do PT mineiro, outros companheiros de partido de Pimentel se posicionaram contrariamente a possível aliança. O ex-deputado estadual Rogério Correia, atual delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em Minas Gerais, lembrou as diferenças de concepção política entre os dois partidos.
“O PSDB pratica no controle do estado sua visão neoliberal, do estado mínimo, de privilegiar o capital, as elites, em detrimento das questões sociais”, disse.
“É essa a prática do governo Aécio Neves no comando do Estado de Minas Gerais. Corta direitos dos trabalhadores públicos, mantém o controle absoluto dos outros poderes, como o Ministério Público e o Tribunal de Contas, ao mesmo tempo que silencia a imprensa como nunca visto em nosso Estado”, emenda Correia.
Da redação, com informações do jornal Estado de Minas