Motoboys protestam em SP e MG contra novas leis de segurança
Centenas de trabalhadores motociclistas realizaram protestos na cidade de São Paulo e Belho Horizonte nesta sexta-feira (11). Eles lutam contra caras resoluções referentes à segurança e o aumento abusivo do seguro obrigatório de 38%. Segundo os sindicatos
Publicado 11/01/2008 21:25
Eles também reivindicam o fim das taxas previstas na resolução 219 para placa vermelha, colete, cadastramento, mudança de categoria da motocicleta, faixa refletiva, regulamentação do baú, entre outros. Os trabalhadores temem que as novas regras inviabilizem seus empregos, já que a categoria não condições finceiras de arcar com os altos custos previstos.
Em SP, a manifestação iniciou logo pela manhã e parou o trânsito na cidade. Cerca de 400 motociclistas participaram do protesto, segundo o Estadão. Grandes avenidas do centro, como a Brigadeiro Luís Antônio e a Paulista ficaram interditadas pela manifestação. A marginal Pinheiros também parou no meio da tarde. Os motociclistas formaram filas paralelas que impediam do livre fluxo dos carros. Já em Belo Horizonte, a manifestação inicou no fim desta tarde, às 17h, em frente a Rua Goliás.
Segundo relatórios da Secretaria Municipal de Transportes da capital paulsita, um motoboy morre e 25 se ferem por dia na cidade. Depois dos pedestres eles são as maiores vítimas do trânsito na capital. Em 2006 os hospitais receberam 3.692 motoboys. Até maio de 2007, foram parar no pronto socrro mais de 1.784 trabalhadores motociclistas. Um prejuízo de R$ 4 milhões para os cofres municipais por ano.
“A cada motoqueiro morto, temos três que ficam seqüelados, com paraplegia ou tetraplegia”, diz o cirurgião Renato Poggetti, diretor do Serviço de Emergência do Hospital das Clínicas (HC). “Chegamos num caso de saúde pública.” Pelas mesas cirúrgicas do HC, espécie de tradução das estatísticas do trânsito, passam cerca de 50 motoqueiros por semana. “Vemos sempre traumatismo craniano, traumas na pélvis, rompimento dos órgãos”, diz Poggetti. “Se não morre, fica inválido, não consegue mais trabalhar.”
Nesta sexta mesmo, enquanto o ocorria o protesto no centro da cidade, um motociclista morreu no trânsito na marginal Pinheiros.
Por esse e outros motivos a categoria não é contra mais e melhores medidas de segurança. Porém, defendem que novas regras e outras legislações sejam feitas com a participação dos sindicatos para que não ocorra resoluções como as 203 e 219 que, segundo os trabalhadores, não garantirão amis segurança e apenas inviabilizam finaceiramente a sobrevivência fincanceira de sua profissão.
Para eles, o maior problema ainda é o preconceito contra a categoria. Um dos maiores exemplos do preconceito está em tramitação na Câmara dos Vereadores.
Piada
A Câmara deve analisar no mês que vem um projeto de lei polêmico, que proíbe o transporte de pessoas na garupa em motocicletas durante os dias da semana em São Paulo. De autoria do vereador Jooji Hato (PMDB), ele já foi aprovado pelos vereadores em votações realizadas em 2002 e 2003, mas a prefeita Marta Suplicy (PT) o vetou, em 2004. Agora, Hato quer derrubar o veto. “As motos são hoje um problema de segurança e devem ser enfrentados como tal.”
O projeto é considerado “uma piada” pelas categorias que representam os motoboys e apontado como inconstitucional por parte dos juristas. Mas um levantamento feito pelo Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) constatou que 61,5% dos 15 mil casos de crimes contra o patrimônio cometidos nas regiões oeste e central e em parte da zona sul da cidade tiveram a participação de motociclistas. O mapeamento considerou os meses de novembro e dezembro de 2006 e janeiro de 2007. Em 9.225 dos casos de roubos e furtos, os bandidos utilizaram motocicletas para assaltar ou fugir.
Para enfrentar o problema, desde novembro o 34º Batalhão da Polícia Militar, encarregado de fiscalizar o trânsito na cidade, passou a realizar a Operação Garupa, voltada para a abordagens dos motoqueiros. Atualmente, a operação é feita pelos 25 batalhões da capital. A Secretaria da Segurança não divulgou um balanço das blitze.
Hato e Kassab
Hato disse que conversou há 20 dias com o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que sugeriu a ele tentar derrubar o veto na Câmara. Algo que o parlamentar promete fazer na volta do recesso, em fevereiro.
“Tenho a assinatura de 50 vereadores apoiando a medida e preciso de 28 votos para derrubar o veto. A medida só não foi ainda aprovada porque alguns vereadores estão bloqueando a pauta de votação.”
A assessoria de Kassab confirmou o contato com Hato. O expediente de derrubar vetos de prefeitos anteriores foi o que permitiu transformar em lei, em dezembro, a proposta de proibir portas giratórias em bancos – o projeto tinha sido aprovado e vetado em 2005.
1 milhão de motos
Hato disse que é dono de uma Honda Hornet 600 cilindradas e anda de moto desde a juventude. Afirmou que decidiu apresentar o projeto há dez anos, depois de ter sido assaltado duas vezes por motoqueiros com comparsas na garupa. O vereador disse que em uma dessas ocasiões estava com o filho e teve de se atirar no chão. “Tive medo de ser executado.”
O presidente da Associação dos Mensageiros, Motociclistas e Mototáxis de São Paulo, Ernane Pastore, duvida que o projeto saia do papel. “Antes de apresentar em plenário, acho que primeiro ele deveria mudar a Constituição. Quero ver a Câmara aprovar, com 1 milhão de motos fazendo barulho no dia da votação”, ameaçou Pastore.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas de São Paulo, Aldemir Martins de Freitas, critica o “preconceito” contra os motoboys. “O vice do sindicato estava em uma moto na Faria Lima quando tocou o celular. Ele colocou a mão na camisa para atender. A motorista ao lado entrou em desespero e acelerou, passando o sinal vermelho. O que ela faria se tivesse uma arma?”