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Para Nassif, política econômica do Brasil “joga com a sorte”

Continuo chamando a atenção para a deterioração das contas externas brasileiras. Hoje em dia, é o ponto sensível. Contas externas são como um transatlântico: não se consegue mudar a rota rapidamente. Por isso mesmo, quando a rota aponta para uma zona d

Veja os números. As Contas Externas podem ser divididas em dois grupos: a Balança Comercial e o Balanço de Serviços e Rendas.



No caso da Balança Comercial, o saldo comercial caiu de US$ 46,5 bilhões em 2006 para US$ 40 bilhões em 2007. Para 2008, o mercado (de acordo com o Boletim Focus do Banco Central) está trabalhando com a previsão de US$ 30 bilhões.



Há tempos venho insistindo que essas previsões estão muito otimistas porque baseadas em números médios de 2007. Se se pegar a ponta (os últimos meses) a projeção fica menor ainda.



Foi o que fez Sérgio Rodrigo Vale, economista d a Mendonça de Barros e Associados (MBA). Sua previsão inicial era de superávit comercial de US$ 29,5 bilhões, baseado na projeção de 6,7% de crescimento do comércio mundial pelo FMI; e também na não eclosão de nenhuma turbulência adicional de natureza financeira.



Com a perda de dinamismo das exportações nos últimos meses, Sérgio acabou revendo sua projeção para US$ 25 bilhões. Mas, se extrapolar os dados de janeiro, o saldo poderá ser menor ainda, perto de US$ 15 bilhões.
Em relação ao Balanço de Serviços e Renda, o déficit aumentou de US$ 37,1 em 2006 para US$ 40,6 em 2007. Para 2008, a estimativa da MBA é de déficit de US$ 42 bilhões.



Para chegar a esse número, supôs uma redução no valor dos juros pagos (de US$ 7,1 em 2007 para US$ 6 bi em 2008), um leve crescimento na remessa de lucros e dividendos (de US$ 12,2 para US$ 13 bi) e um leve crescimento nos “outros” (de US$ 12,2 para US$ 13 bi). Com isso o resultado seria um leve crescimento no déficit de US$ 40,6 em 2007 para US$ 42 bi em 2008.



Em condições normais de temperatura, as projeções são adequadas. Mas, em caso de piora do cenário internacional, e de ampliação das perdas nos demais mercados, haverá uma tendência de crescimento do item Lucros e Dividendos; e se o Banco Central ceder às pressões e voltar a aumentar a taxa Selic, no item Juros.



Em um cenário pessimista, o aumento do déficit dessa conta poderá chegar a US$ 3 bilhões, ao invés dos US$ 1,6 previstos.



Com todas essas incógnitas, tem-se o seguinte quadro:



1. A MBA (e parte relevante do mercado) trabalha com uma sensível piora no resultado das transações correntes – de um saldo de US$ 3,6 bilhões em 2007 para um déficit de US$ 8,7 bilhões em 2008.



2. Em caso de agravamento da crise, esse déficit poderá superar a casa dos US$ 20 bilhões.



Esse buraco, em geral, é coberto pelos investimentos externos. Só que uma deterioração maior das transações correntes poderá induzir a um aumento na saída de recursos.



Qualquer país sério sempre trabalha com a hipótese mais pessimista, para ter uma margem de segurança. Aqui, se joga com a sorte.



Fonte: Blog do Nassif