O país da música e do socialismo
Inicialmente havia planejado escrever diariamente sobre a experiência de Cuba. A idéia original foi a todo dia enviar uma mensagem com o relato do visto e aprendido. No meu projeto transmitiria as experiências,
Publicado 06/02/2008 18:45 | Editado 04/03/2020 16:43
Em primeiro lugar é importante informar que a Internet, assim como tudo que se refere à telefonia, recebe subsídios do governo. A explicação a mim passada é que isso facilita e democratiza o acesso. No entanto a rede mundial de computadores lá só funciona até às 20 horas. Para reduzir custos. Aí o primeiro problema. Nunca consegui chegar de volta ao hotel antes desse horário. Há tanto para ver que chegar cedo torna-se um dilema. Obviamente optei por conhecer o mais possível o País.
Na chegada já comentei sobre o aeroporto. Realmente é pobre. Nenhuma ostentação. O clima na chegada é severo. Inspeção de bagagens, cães farejadores de drogas. Apresentação de documentos. Mulheres rigorosas na fiscalização. Policiais cordiais, porém firme e incisivos. Tudo dentro de um espírito de vigilância. Afinal o inimigo está a 80 Km dali.
Chegamos às 23h. No pátio externo e na via que dá acesso ao terminal de aviões- tranquilidade. No ônibus até ao hotel o motorista vai falando sobre seu País e fatos marcantes. Como era noite não vimos o famoso painel que informa com orgulho que das milhares de crianças que dormem nas ruas do mundo, nenhuma delas é cubana.
Manhã do dia seguinte (22/01/2007). Nosso primeiro contato com Havana. O hotel oferece um percurso pela cidade. Começam as surpresas e as emoções. Antes de chegarmos à Havana Velha passamos por diversos locais significativos. Embaixadas de países do mundo inteiro. Até os EUA têm lá um escritório. Em volta dele ''out-doors'' desafiantes: ''Senhores imperialistas, não lhes temos nenhum medo'' é um dos que mais se destaca. Logo adiante o Hotel Nacional de Havana. O Motorista nos conta:
– às vésperas da revolução a máfia norte americana se reuniu nele. Contrataram Frank Sinatra para ''abrilhantar'' a noite e ali teriam loteado a cidade, continua ele: – A prostituição ficaria com o 'capo' Fulano. A exploração da jogatina com o 'capo' fulano. A exploração dos taxis com outro dos 'capos' e assim por diante,
– Quando a revolução vence, Fidel manda a máfia ao ''caralh…'' Os bandidos fogem para Miami às pressas, deixando valores, dinheiro, armas, mansões e tudo o que não puderam carregar no afogadilho do ''salve-se quem puder''. Solta uma sonora gargalhada… no que é acompanhado por todos os passageiros.
Os donos das mansões (burgueses locais ou estrangeiros também fogem). Uns vão para o México outros para os EUA. Imediatamente o governo revolucionário entrega as casas para os antigos empregados, ou as utiliza como repartições públicas de saúde, ou escolas ou oficinas diversas. São dignas de fazer inveja a Hollywood. Hoje pertencem ao povo.
Mais à frente chegamos à Havana Velha (Havana Vieja). Um imenso painel nos da conta : PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE. Ali o ônibus fica. Agora vamos por nossa conta. Não tem guia. Somente o mapa que o hotel forneceu e as informações que as pessoas passam. Aliás o cubano é muito amável. Quando digo que sou brasileiro abrem um sorriso de contentamento. Adoram o Brasil, as novelas da Globo. Nosso Carnaval é muito apreciado por lá. Se pretender falar sobre esse distrito de Havana creio que ficarei escrevendo por um mês. Nos artigos seguintes pretendo mostrar as fotos e os vídeos lá feitos. Construções de diversos séculos perfilam ante nós. Edificações de 1516 até dias antes da Revolução. Um verdadeiro painel da arquitetura colonial e pós colonial.
Cidade limpíssima. Não vejo violência. No primeiro dia quase não vimos policiais. Música. Muita música. Nos bares. Nas esquinas e nos pátios seculares. Desfiles pelas ruas. E como tocam bem. Como cantam bem. De repente um violonista começa a tocar bossa nova. Olha pra mim e me cumprimenta. No intervalo converso com ele. Ama nossa música. Conhece muito mais que eu sobre nossos compositores. Fã de Jobim.
Na próxima semana continuo o relato…
*Iran Caetano é médico e Secretário Estadual do formação e Propaganda do PCdoB-ES.