Estudantes criticam Kassab por fechamento de bibliotecas
Com um decreto publicado no dia 1º de fevereiro –véspera do Carnaval– no Diário Oficial de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) fechou quatro das 61 bibliotecas que existiam na cidade. A justificativa da administração municipal é a falta de freqü
Publicado 27/02/2008 12:14
O presidente da Ubes, Ismael Cardoso, critica fortemente a decisão, e afirma que o argumento do prefeito é inválido. “Público há sim. São Paulo tem milhões de estudantes secundaristas. A prefeitura errou em dois momentos: em fechar as quatro bibliotecas e também por não divulgar que esses espaços estão abertos aos estudantes paulistanos”.
Ainda de acordo com o Ismael, há outra questão decisiva que influiu diretamente na falta de freqüência. “O currículo escolar é desestimulante. Poucas são as escolas que incentivam seus alunos a visitarem as bibliotecas de suas regiões. A questão é mais profunda e a Ubes e a Upes acreditam que a solução é a reformulação do currículo das escolas, para torná-lo mais participativo e inclusivo; a implementação da gestão democrática, com eleição direta para diretores nas escolas, entre outras medidas que ampliem a democracia e a participação de toda comunidade na vida escolar”, pontuou.
A decisão partiu da Secretaria da Cultura, que administra as unidades, e foi aprovada pelo conselho consultivo do setor de bibliotecas (formado por diretores de bibliotecas, escritores, representantes de entidades de bibliotecários e da comunidade acadêmica). Segundo a pasta, a unidades faziam poucos empréstimos e não eram usadas pelos moradores dos bairros.
Falta compromisso
Assim como Ismael, o presidente da Upes, Arthur Herculano, afirma que a alegação de que não existe demanda é falsa. “Para se ter uma idéia, só na zona leste, uma das regiões atingidas pela decisão de Gilberto Kassab, tem cerca de três milhões de estudantes. Os baixos números de empréstimos e visitadores se devem a falta de programas voltados ao incentivo a leitura” e completa: “Esse é mais um exemplo de que a gestão Kassab não tem compromisso com a educação”.
A presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia, Regina Celi de Sousa, diz que a culpa pela falta de público nas bibliotecas é da má qualidade do acervo e ausência de serviços auxiliares. Além disso, ela sugere uma omissão por parte da prefeitura, que não divulga as bibliotecas adequadamente. “Não é só comprar livros. Tem que ter internet, tem que incentivar a leitura”, afirma.
Sousa diz que em setembro de 2007 soube da possibilidade de fechamento e mandou um ofício para a prefeitura, questionando os motivos, mas ninguém respondeu. “Não tem nenhuma discussão, são três ou quatro pessoas que decidem”, diz.
Destino
Inicialmente, a Secretaria da Cultura informou que as bibliotecas funcionariam apenas até quinta-feira (13), mas corrigiu as datas e informou que elas ficarão abertas enquanto até que a pasta realize reuniões de planejamento com as subprefeituras e a Secretaria da Educação para decidir como os acervos e funcionários serão absorvidos.
Segundo o decreto, os acervos serão incorporados por outras unidades, mas os destinos de cada uma serão diferentes. A biblioteca Chácara do Castelo, no Jardim da Glória (zona sul), que havia sido fundada em 1956, vai se tornar em um depósito e centro de conservação do acervo de periódicos da biblioteca Mario de Andrade (centro).
No caso da biblioteca Arnaldo de Magalhães Giácomo (no Tatuapé, zona leste), suas instalações e acervo serão incorporados a uma escola de educação infantil que fica ao lado. Assim, os livros poderão ser usados apenas pelos estudantes e não mais pelo público.
Na Vila Mariana (zona sul) a biblioteca Zalina Rolim se transformará em uma casa de cultura, com oficinas e cursos, e, na Lapa (zona oeste), a biblioteca Cecília Meireles se transformará no Centro de Memória e Convívio da Lapa. Os dois novos estabelecimentos serão administrados pelas subprefeituras locais.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal da Cultura negou que haja negligência da prefeitura em relação às bibliotecas e que haja planos de fechar outras. Segundo a pasta, administração implantou um projeto de tematização das unidades que visa a atrair mais público.
Fonte: EstudanetNet