SP: servidores públicos de Ribeirão decidem filiar-se à CTB
O Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto (SSM-RP), em São Paulo, decidiu se desfiliar da CUT e se filiar a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) em assembléia geral realizada no dia 29 de fevereiro. SSM-RP é um dos ma
Publicado 05/03/2008 18:39
A assembléia de filiação do Sindicato à CTB foi realizada na mesma semana em que os servidores definiram a pauta de reivindicações, através de Assembléia que reuniu mais de 600 servidores no Sindicato.
“Este era o momento decisivo para decidirmos sobre qual Central queremos, com condições de aglutinar os trabalhadores para a luta e comprometida com os nossos reais anseios, independentemente de governos” – afirmou Wagner Rodrigues, presidente do SSM-RP.
Avançar nas conquistas
Segundo Wagner Rodrigues, “a CUT teve um papel importante, mas acabou conduzida a um certo limite. Na CUT hoje parece que vale mais a pena apostar na eleição de um presidente, de um governador ou de um prefeito do que apostar na mobilização e na luta dos trabalhadores. Isto é desgastante e não abre horizontes para os trabalhadores”.
Para Rodrigues “é preciso que a luta avance, que as conquistas avancem”. “Eu identifico que a CTB é a única central que pode, neste momento, assumir a bandeira de unidade dos trabalhadores na luta pelos nossos direitos e anseios”. Wagner afirmou que está na hora de o movimento sindical avançar em torno de conquistas.
A criação da CTB – disse Wagner – uma central nova, independente dos governo, classista e democrática, vem para somar e ajudar os trabalhadores. “A política sindical orientada pela CUT tem sempre um porém: ela não é sustentada pela visão classista, democrática e autônoma. Têm origem em visões exclusivas, muitas vezes institucionais. E tudo vem sendo feito de acordo com essa visão pouco autônoma de sindicalismo. A CUT perdeu a independência em relação ao governo e se tornou moderada diante dos ataques dos patrões” concluiu Rodrigues.
Decisão amadurecida
Pela importância do SSM-RP, a decisão de desfiliar da CUT terá repercussão nacional e é um passo importante para a construção da CTB no estado de São Paulo. Segundo André Luis da Silva, secretário geral do Sindicato dos Servidores Municipais, a decisão de filiação do SSM-RP a CTB foi tomada por unanimidade na Assembléia, revelando o amadurecimento da categoria.
Segundo André, essa decisão foi um processo abrangente, não apenas um simples ato de escolher entre alternativas. “Examinamos, cuidadosamente, o momento da decisão, a forma mais adequada. Nós concluímos que é o momento determinante para nossa filiação à CTB para a consolidação da nova central no estado.”
O Sindicato dos Servidores Municipais completa 20 anos em 2008 e é considerado a maior e mais representativa entidade sindical da região de Ribeirão Preto. Desde a sua criação, o SSM-RP esteve presente nas lutas em defesa do serviço público e dos direitos dos trabalhadores. O SSM-RP tem hoje à frente uma diretoria classista e representativa. A atual diretoria assumiu o mandato depois de ter derrotado nas urnas a antiga situação – que atravessava mandatos consecutivos apoiada pela CUT.
A vitória oposicionista nas urnas, enfrentando toda sorte de pressão, ameaças e constrangimentos, criou uma situação que exigiu muita maturidade e despreendimento da jovem gestão encabeçada por Wagner Rodrigues. Afinal, mesmo batendo nas urnas a chapa oficial da CUT, a diretoria eleita, decidiu pela permanência do Sindicato naquela central em 2004 – entendendo que a CUT ainda poderia cumprir um papel na unificação da luta dos trabalhadores.
Representatividade
Mas, apesar da maturidade e da paciência da nova diretoria com a CUT, a central não respondeu a este crédito dado pelos servidores municipais de Ribeirão Preto. Segundo vários diretores, após a reeleição de Lula “a situação de imobilismo na Central só se agravou”.
Na realidade política de Ribeirão Preto e região, o SSM-RP é de longe a entidade mais representativa – dentro e fora do movimento sindical. A presença do SSM-RP nos jornais da cidade, por exemplo, é cerca de cincos vezes maior do que a Associação Comercial e cerca de quinze vezes maior que entidades como associações de engenharia, universidades e outros sindicatos locais.
Além de representar o conjunto dos servidores municipais, como os da saúde, da assistência social, da cultura, da infra-estrutura, o SSM-RP representa também os servidores da guarda municipal, da empresa de água do município (Daerp), do transporte (Transerp) e da educação.
O SSM-RP está à frente da luta contra a privatização da água, contra o desmonte do IPM (Instituto de Previdência Municipal – Ribeirão Preto) e contra as terceirizações praticadas por vários governos. Algumas dessas terceirizações, sobretudo o contrato do lixo e a concessão de tratamento de esgoto junto ao Daerp, foram alvos de intensas investigações e denúncias em todo país.
Na última Assembléia da campanha salarial, além do presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, diversos vereadores fizeram uso da palavra em defesa dos servidores e apoio ao Sindicato. Nas eleições municipais de 2004, todos os pré-candidatos a prefeito participaram de uma sabatina realizada na sede do SSM-RP. O mesmo deve ocorrer este ano.
Confira abaixo entrevista ao presidente de sindicato.
Com 34 anos, Wagner de Souza Rodrigues é um dos sindicalistas mais jovens da região de Ribeirão Preto – SP. Dirige, entretanto, a maior e mais importante entidade sindical da cidade. Com mais de 9,3 mil sindicalizados – 93% da categoria, o Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto (SSM-RP) é também o sindicato mais representativo da região.
Com a decisão unânime de desfiliação do SSM-RP da central mais antiga do país, criada em agosto de 1983 e a filiação a central mais jovem, fundada em 2008, Waguininho como ficou conhecido ao assumir o SSM-RP aos 29 anos, ganha mais um desafio: a construção da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
Por que a CTB?
Wagner Rodrigues – No mundo todo, o capital, – ou seja, o dinheiro e o lucro – circula pelos mercados internacionais com total segurança e cumplicidade dos governos. Enquanto isso, a força de trabalho não goza dessa proteção. Surgem leis para deteriorar as condições de trabalho, para acabar com os serviços públicos, para liquidar a rede social de proteção do povo, favorecendo a exploração da força de trabalho nas condições que mais interessam aos ricos. Vivemos a superexploração do trabalho. A CTB surge para lutar contra um mercado cada vez mais informal e instável, praticando um sindicalismo classista, democrático, unitário e de combate. Nosso objetivo é que todos os trabalhadores brasileiros possam gozar de uma vida mais próspera e justa.
Quais são os seus planos para a construção da CTB?
Wagner Rodrigues – A verdadeira dimensão da importância da fundação da CTB só será reconhecida depois de um certo tempo. Temos consciência bem clara disto. Do ponto de vista prático, nos próximos dias, eu devo fazer uma série de visitas a diversos sindicatos da região levando materiais da CTB e um pouco das minhas idéias. Também pretendo me reunir com os presidentes de sindicatos de servidores do estado de São Paulo.
Qual o objetivo dessas visitas?
Wagner Rodrigues – Nós precisamos transformar a CTB numa central conhecida. Sem muita afobação, mas com muita vontade, precisamos de uma CTB forte. Uma central sindical capaz de estabelecer uma agenda de lutas que contemple os anseios dos trabalhadores, como a redução da jornada de trabalho e novos desafios para o sindicalismo. Mas, como não se faz omelete sem quebrar os ovos, vamos convidar essas entidades a conhecerem e se filiarem de imediato a CTB.
O sr. acha que a CUT perdeu força ?
Wagner Rodrigues – A minha preocupação é com o futuro. É hora de olhar para o futuro. Tenho a consciência clara que fizemos praticamente todo o possível para a CUT não se confundir com o governo. Mas a CUT deixou de fazer diferença, tornou-se igual. E tornando-se igual, perdeu força sim.
A CTB faz essa diferença hoje?
Wagner Rodrigues – A CTB marca nitidamente um campo classista, popular, autônomo. O papel da CTB não pode ser medido pelo número de sindicatos filiados apesar de já ser a terceira maior central sindical do país. O que determinará a diferença entre as centrais são as idéias defendidas, a história que se carrega, a prática e a militância. Nisso a CTB faz a diferença sim, e muita.
Qual a relação que o sr. pretende manter com o CUT?
Wagner Rodrigues – A relação com a CUT tem de ser a necessária. Nada mais, nada menos. Eu assumi a presidência do Sindicato dos Servidores Municipais vencendo uma situação truculenta – que na época foi apoiada pela CUT. No entanto, houve uma tolerância e boa vontade da nova diretoria com a central. Mantivemos a filiação apostando numa virada de rumo à nível nacional. Mas esta virada não veio.
O senhor lutou contra essa tendência na Central?
Wagner Rodrigues – Depois de mais de quatro anos à frente do sindicato e participando efetivamente da CUT, concluímos que essa prática tornou-se quase sistemática, isso provoca um sentimento de impotência mesmo. Cheia de controles, com altas taxas de cobranças dos sindicatos filiados, a CUT está fechada às mudanças. Percebemos, depois de três ou quatro anos, que a nossa capacidade de afetar ou influir nas instâncias da central era apenas residual, quase nula. Quem influencia a CUT é o governo; é bom dizer, quando é o governo que fala, aí a CUT presta atenção. Para ser governo, a CUT se prepara, dá cursos, faz encontros, palestras. Mas não vejo a direção daquela central buscando se atualizar ou inovar em termos de greve, de mobilização ou de lutas. Quando o assunto é enfrentamento, estão sempre desatualizados.
O Sindicato aprovou a pauta de reivindicações, os eixos da campanha salarial, a comissão de negociação e, dois dias depois, a filiação junto a CTB por unanimidade. O senhor esperava esta unanimidade nas assembléias?
Wagner Rodrigues – São surpresas positivas da democracia. Até alguns anos atrás, antes de assumirmos a direção do Sindicato não sabíamos direito como essa democracia funcionaria, até porque ela não existia.
Fonte: Jornal Atuante