Nova York: Governador ligado a Hillary cai após escândalo
O escândalo que abalou o futuro político do governador de Nova York, Eliot L. Spitzer, também está respingado na candidatura de Hillary Clinton. A reputação de Spitzer ruiu depois que ele foi identificado como um cliente ativo de uma rede de prostituiç
Publicado 12/03/2008 16:19
Mesmo depois de “apertada” pela imprensa, Hillary continuou evasiva. Os analistas dos principais jornais americanos, como The Nation e Washington Post, vêem muitos riscos políticos na estratégia evasiva da senadora. Para eles, é natural que Hillary não queira falar sobre as dificuldades do governador Spitzer num assunto tão delicado, mas essa postura pode transmitir uma imagem de oportunismo para o eleitorado.
Em 2007 Hillary insistiu muito para que Spitzer, até então uma “estrela ascendente” do Partido Democrata, a apoiasse desde “a primeira hora”. Eles lembram que não foram poucas as vezes em que Hillary apareceu em público tentando “tirar proveito” do prestígio e da popularidade de Sptizer, sempre enfatizando publicamente como era “importante o apoio do governador à senadora na campanha presidencial”.
Os analistas lembram que Hillary e Sptizer concorreram em 2006 pela indicação à disputa presidencial. Após ser escolhida pelos democratas, ela insistiu em obter o apoio explícito do governador, a fim de assegurar ampla influência no Estado de Nova York. Depois de uma relutância inicial, Spitzer capitulou, e deu o apoio formal à candidatura da senadora.
Renúncia
Spitzer anunciou nesta quarta-feira sua renúncia após a revelação do escândalo. Na terça, os deputados republicanos da Assembléia Estadual de Nova York haviam dado um ultimato para que Spitzer renunciasse depois que o jornal The New York Times revelou o escândalo.
“Todas as pessoas, qualquer que seja seu poder ou o cargo que exercem, têm de assumir a responsabilidade por seus atos. Eu não posso deixar que meus erros privados interfiram no trabalho público”, disse Spitzer, ao anunciar a renúncia, em entrevista coletiva.
“Dor de cabeça”
Spitzer ganhou reputação nacional como um “paladino” da Justiça. Uma investigação federal conduzida por Spitzer em 2003 desbaratou — justamente — uma grande rede prostituição de luxo. Agora, vem a público que o governador pagou US$ 4.300 para passar a noite que antecedeu ao “Dia dos Namorados” com uma jovem no luxuoso Hotel Mayflower, de Washington.
“Eu agi de modo a violar minhas obrigações com a minha família e contra o meu senso de direito e Justiça”, admitiu Spitzer, em uma declaração divulgada á imprensa e publicada no site do governo de Nova York. “Eu tenho que dedicar algum tempo agora para recuperar a confiança a minha família.”
Agora, Hillary e os democratas de Nova York temem pelo “refluxo” dos financiadores de campanhas políticas democratas. Para azar dos democratas, Spitzer seria o homem que estava escalado para conduzir a delegação de Nova York à Convenção Nacional Democrática de verão. O partido — e Hillary — contavam com o carismo do governador de Nova York para aumentar a arrecadação de doações.
Apesar de ter manifestado um discreto apoio a Hillary, Spitzer passou mais tempo no Mayflower do que em campanha, enquanto Paterson passou por Iowa e outros estados-chave para a candidatura da senadora. O problema é que, tão logo Spitzer anunciou seu apoio, Hillary escancarou o endosso de Spitzer em seu site.
Há quem defenda o ponto de vista de que a repercussão de recentes escândalos não trouxeram grandes prejuízos aos protagonistas, como o caso do prefeito de San Francisco, Gavin Newsom, que se desculpou publicamente por ter uma relação extraconjugal. Outro político de destaque que ficou em “maus apuros”, foi o prefeito de Los Angeles, Antônio Villaraigosa, que se separou da esposa depois de ter admitido um caso com uma apresentadora de TV.
Para os analistas, porém, o escândalo de Spitzer tem uma repercussão mais negativa, porque ele foi apanhado em uma atividade ilegal. Nos Estados Unidos, a prostituição é tipificada como delito, e a mídia promete ir a fundo nas investigações, que envolvem uma “clientela” de destaque, disposta a pagar até US$ 10 mil por uma noite com as jovens prostitutas da rede, que tinha até site, e se intitulava “Clube dos Imperadores”.
Neste contexto, Hillary terá de se pronunciar em breve, pois a imprensa não lhe dará tréguas. Outro fato que promete fazer estragos na candidatura Hillary: como ela construiu toda a sua carreira política baseada nos direitos das mulheres, seria inconcebível se calar agora, diante de um apoiador envolvido com uma rede de prostituição de luxo.
O escândalo
O envolvimento do governador de Nova York, Eliot L. Spitzer, com a rede de prostituição teria sido revelado “quase por acaso”, durante investigações federais. Pouco depois de Spitzer ser eleito governador, há 14 meses, o seu banco comunicou ao IRS ter notado movimentos estranhos nas suas contas. A suspeita surgiu a partir da transferência de milhares de dólares, que eram encaminhados para empresas fantasmas.
Por desconfiar tratar-se de corrupção, o IRS pediu ajuda ao FBI, que começou a investigar o caso. Descobriu-se que o dinheiro era usado para o pagamento de favores sexuais. Tudo ficaria restrito à esfera policial se Eliot Spitzer não fosse governador e se não tivesse sido procurador geral, com carreira política construída a partir de slogans do tipo “combate ao crime”.
O FBI decidiu investigar as empresas de fachada da rede de prostituição Emperor's Club VIP, de que Spitzer era cliente, e que atuava em Nova Iorque, Miami, Washington, Paris e Londres. Após mais de cinco mil escutas telefónicas e seis mil e-mails analisados, o FBI tinha elementos para fazer acusações formais.
As primeiras quatro pessoas foram presas no dia 6, acusados de lenocínio. Nas transcrições das escutas, Spitzer aparece referido como “Cliente 9”, fazendo uma transferência de US$ 4.300 para pagar os serviços de uma prostituta no 13 de fevereiro, em Washington, no Hotel Mayflower. No dia seguinte ele iria falar no Congresso e alugara um quarto extra no hotel, sob o nome George Fox. Membros do Emperor's Club confirmaram aos investigadores conhecer Spitzer como George Fox.
fontes ligadas à investigação revelaram que Sptizer se encontrou com uma prostituta chamada “Kristen”, que foi de trem da Estação de Pensilvânia, de Nova York, até Washington no dia 13 de fevereiro, e se hospedou no quarto 871 do hotel.
Avisado noi dia 7 de que estava sendo investigado, Spitzer reuniu-se com os colaboradores e, no dia 10, pediu publicamente desculpas, mas não falou — ainda — em demissão. “Esse episódio é como um prego no caixão”, disse Douglas Muzzio, professor de ciência político na Faculdade de Baruch. “Seria difícil ele governar. Sua autoridade moral desapareceu.”
Fala no congresso foi “álibi”
Segundo apurou o jornal Washington Post, o discurso de Spitzer não estava programado para a audiência do subcomitê de Serviços Financeiros no congresso. Mas os membros do comitê disseram que Spitzer teimou em ir pessoalmente a Washington, o que os obrigou a remodelar a agenda do evento para abrir espaço para o aparecimento de última hora do governador.
Spitzer fez nome como procurador-geral de Nova York, assumindo o combate aos criminosos de “colarinho branco” e casos de fraudes financeiras. Ele também se destacou por desbaratar duas redes de prostituição.
Spitzer se candidatou à governador em 2006, apresentando-se como um reformador e obteve 69% dos votos, Mas a popularidade dele minguou depressa após várias denúncias de que ele estaria usando sua influ~encia na Procuradoria para levantar informações contra adversários políticos. A principal vítima teria sido seu maior rival em Albany, Joseph L. Bruno, líder republicano. Apanhado, Spitzer se dirigiu publicamente a Bruno, desculpando-se.
Em outro episódio, dirigiu-se ao líder da oposição, James Tedisco, de forma ameaçadora. “Eu sou um rolo compressor, capaz de esmagar você ou qualquer outro que se coloque em meu caminho”, teria dito.
O projeto mais polêmico de Spitzer foi o plano para conceder carteiras de motorista oficiais a imigrantes ilegais, o que gerou protestos em âmbito nacional, e trouxe complicações para a campanha presidencial de Hillary Clinton.
Trajetória
Eliot L. Spitzer tomou posse como governador de Nova York no dia 1.º de janeiro de 2007.
Em seu discurso inaugural, ele afirmou que “todas as ações e decisões que nós tomaremos nesta administração avançarão sempre em dois objetivos: transformar a forma de atuação de nosso governo, sempre de forma ética e transparente, e buscar reconstruir a nossa economia, de forma a tornar o nosso Estado capaz de competir na economia global no próximo século”.
De acordo com o perfil que publicou no site do governo de Nova York, antes de ser eleito governador, Spitzer atuou durante oito anos como procurador-geral de Nova York, onde ganhou reconhecimento nacional por ações contra fraudes a investidores, consumidores, trabalhadores e agressões ao meio ambiente.
Spitzer nasceu no dia 10 de junho de 1959 no Bronx. Ele estudou nas Universidades de Princeton e Harvard, onde ele era editor da revista jurídica. Ele se casou com Silda Wall em 1987, com quem teve três filhas: Elyssa, Sarabeth, e Jenna.