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Diplomadas da Unipalmares ajudam a incluir negros no mercado

A analista Sonia Maria da Silva e a servidora Benvinda Pereira fazem parte da primeira turma de 126 administradores formada pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (Unipalmares), de São Paulo, todos afrodescendentes declarados.

Negras, ambas fazem parte da primeira turma de 126 administradores formada na última quinta-feira (13) pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares (Unipalmares), de São Paulo — todos eles afrodescendentes declarados.



Com o diploma na mão, elas prometem ajudar para que outros afrodescendentes alcancem posição menos desprivilegiada na sociedade brasileira. “Podemos ajudar a combater a discriminação no nosso trabalho”, afirma Sônia.



“Depois de passar pela Unipalmares, o negro que não ajudar o outro saberá que está cometendo um pecado”, diz Benvinda. A servidora é a mais velha recém-formada da universidade, que têm 87% dos seus alunos negros.



Estáveis no trabalho, as duas admitem que já poderiam estar planejando sua aposentadoria. No entanto, neste momento, não almejam a tranqüilidade. Elas têm novos planos profissionais, e a longo prazo: as duas fixam seu olhar em um horizonte mais distante, o da pós-graduação.



“Quero estudar até os 90 anos”, diz Benvinda. Ela conta que voltará a universidade no próximo semestre, desta vez para estudar direito. Assim que concluir mais um curso superior, vai se dedicar a uma especialização em recursos humanos.



“Um dia, sonhei em ser funcionária pública, depois, em estudar em uma universidade. O que impede que um vá mais longe?”, indaga, lembrando as dificuldades para conseguir seu primeiro diploma universitário.



Ela conta que concluiu o ensino médio em 2002, em um supletivo, quase 35 anos depois de deixar a escola para ajudar no sustento da família quando ainda morava em Belo Horizonte. “Meu pai dizia que as pessoas deviam estudar só para aprender a ler e a escrever. Nunca tive apoio.”



Primeira aluna matriculada na Unipalmares, Sonia é outra que se mostra orgulhosa com sua nova conquista. Escolhida a melhor aluna da turma, ela também faz planos. “Quero ser auditora da Caixa”, afirma.



Funcionária do banco há 26 anos, ela pretende também colaborar em iniciativas pró-diversidade propostas pela empresa, que ela diz já conhecer bem. “Posso nortear ações para diminuir a distância que existe entre os mais e os menos favorecidos.”



Para as duas, a formatura celebrada em no Ginásio do Ibirapuera foi um momento de grande felicidade. Em entrevista à Agência Brasil concedida um dia após a cerimônia, elas recordaram os obstáculos superados durante os últimos quatro anos.



“Tive que adaptar meu corpo a dormir quatro horas por dia e aguentar o trabalho e o cuidado com minhas filhas”, disse Sonia, que tem duas filhas, uma de 10 e outra de 17 anos. “A formatura foi a realização plena e absoluta”, lembra.



“Trabalhar durante o dia, estudar de noite, pegar o ônibus para chegar em casa à meia-noite não é fácil”, complementa Benvinda. “Parecia que estava flutuando quando entrei no ginásio. Eu tinha que me mexer para ter certeza que estava ali.”