Só em 2008, 'El País' já publicou 25 artigos contra Chávez
O site Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, divulgou nesta quinta-feira (27) uma carta de protesto do governo da Venezuela ao diário espanhol El País. A mensagem foi endereçada ao diretor do jornal, Javier Moreno, a quem Azenha
Publicado 27/03/2008 16:45
Carta enviada pelo governo da Venezuela ao jornal espanhol El País
Javier Moreno
Director, Diario El País
Miguel Yuste 40
28037 Madrid, España
Estimado Sr. Moreno:
Temos visto com alarme como a linha editorial do El País tem sido de uma evidente parcialidade jornalística com uma clara manipulação de informações contra a Venezuela e seu povo. Nos preocupa profundamente a violação dos direitos dos leitores de El País de receber “uma informação verdadeira, a mais completa possível”, princípio estabelecido no manual de redação do próprio jornal.
Como exemplo deste conteúdo sistematicamente distorcido sobre a Venezuela, apenas no ano de 2007 El País classificou o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez, de “autoritário” 34 vezes, 10 de “ditador”, 7 de “totalitário”, mais um sem número de vezes de “caudilho” e “populista”.
O presidente da Venezuela ganhou três eleições presidenciais com um apoio popular e uma participação eleitoral nunca vista nos últimos 50 anos de democracia. Também ganhou um referendo revogatório – mecanismo que poucas democracias do mundo possuem – com ampla margem de 20 pontos percentuais. Além disso, o presidente Chávez foi o primeiro a reconhecer o resultado eleitoral adverso, como aconteceu no referendo de 2 de dezembro último, apesar da pequena margem.
Entre 15 de janeiro e 15 de março deste ano foram publicados 142 artigos sobre a Venezuela no El País, ou seja, uma cobertura assombrosa de 2,4 artigos por dia. Destas publicações, 5 foram editoriais e 21 artigos de opinião, todos com uma tendência claramente negativa e contrária ao governo venezuelano.
No editorial publicado em 27 de janeiro, sob o título “Operação Balboa”, se fala de “um Chávez que por vezes deixa de ser mera gafe diplomática para converter-se progressivamente em um perigo público latino-americano.”
Em 6 de fevereiro o editorial chamado “União de vocês” qualifica como “inimaginável” o fato de que o presidente Chávez se “converteu no único canal através do qual as Farc libertam reféns, em conta-gotas”, logo depois que Chávez havia obtido a libertação histórica das primeiras reféns, Clara Rojas e Consuelo González.
Em 14 de fevereiro foi publicado outro editorial fora de lugar com o título “Chávez tem o cru”, no qual se distorce gravemente a situação econômica da Venezuela ao assegurar que “a cidadania faz filas como na melhor época da União Soviética” e se calunia o governo de maneira temerária ao falar de que se deve gerenciar a produção de petróleo com “honradez e competência com o negócio, valores que não parecem existir em Caracas.”
Na Venezuela houve uma drástica diminuição da pobreza, de acordo com a Cepal de 18,4 pontos percentuais durante o período 2000-2006, levando o desemprego a seu nível histórico mais baixo: 6,2%. Isso provocou uma ampliação radical da base de consumo, que trouxe como subproduto escassez temporária de certos produtos, mas nada que se aproxime das comparações odiosas como as realizadas por El País, já que a população venezuelana nunca esteve tão bem alimentada como está hoje em dia. Essa melhoria da qualidade de vida dos venezuelanos tem uma relação direta com a redistribuição honrada e equitativa da maior fonte de riqueza do país, o petróleo.
Os esforços para relacionar Chávez com as Farc, para desacreditar seu papel como mediador da paz, também se refletem nos múltiplos artigos de opinião dentre os quais se podem destacar os seguintes: no dia 16 de janeiro, Joaquín Villalobos escreveu o artigo “Legitimidade em troca de reféns maltratados”, em que alega que “o reconhecimento político das Farc [por parte de Chávez] reaviva a violência colombiana, abre as portas do país à cocaína e o converte em protetor dos cruéis narcoterroristas.”
Em 17 de janeiro foi reciclado um editorial do Washington Post intitulado “Chávez 'aliado' das Farc”, no qual, de maneira ridícula, se afirma que Chávez “promove abertamente a grupos narcotraficantes e sequestradores”. No dia 23 de janeiro, Miguel Ángel Bastenier, em um artigo de opinião chama Chávez de “tagarela” e o acusa de mergulhar “no absurdo de pedir à comunidade internacional que retire as Farc da lista de organizações terroristas.”
Esses ataques se produziram depois que o presidente Chávez disse que para conseguir uma solução para o conflito colombiano seria necessário deixar de rotular os grupos guerrilheiros (Farc e ELN) de terroristas, desde que o comportamento desses grupos se ajustasse à Convenção de Genebra que regulamenta o Direito humanitário internacional. É o mesmo que sugeriram o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a Anistia Internacional e familiares dos reféns, para nomear apenas alguns dos que apóiam essa posição. No entanto, El Pais não acusou nenhuma destas organizações e pessoas de promover o narcotráfico e o terrorismo.
No editorial de 11 de março, “Trégua para a Colômbia”, volta a relacionar Chávez com as Farc, dessa vez dando como certa a informação que teria sido encontrada pelo exército colombiano em um computador supostamente resgatado no acampamento bombardeado no Equador, dizendo que “ao venezuelano não convem que Bogotá continue a investigar a agenda pessoal de Reyes, que pode provar seu concubinato com uma guerrilha que se diz tão radical, socialista e bolivariana quanto o mesmo.”
Tratar como certa, sem qualquer verificação, informações contidas em um suposto computador tem sido a regra do El País, como demonstra a reportagem assinada por Maite Rico no dia 6 de março: “Bogotá denuncia pinça bolivariana”. Sem escrúpulos jornalísticos, afirma: “Os documentos das agendas de Raúl Reyes… são prova de que não somente as Farc encontraram santuários perfeitos na Venezuela e Equador, como os presidentes de ambos os países, Hugo Chávez e Rafael Correa, consideram a velha guerrilha marxista como um aliado em seu projeto político-ideológico regional.
A “veracidade” dos dados do computador de Reyes foi colocada em dúvida até pelo secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, que declarou em 19 de março: “A Interpol vai dizer se esses computadores tinham essa informação antes de primeiro de março e se a informação não foi manipulada nem alterada.(…) Sobre isso pediria que não se perca a cabeça como se fez nos últimos dias. Tenho visto muitas provas produzidas grosseiramente e que não correspondem à realidade.”
Depois de considerar estes exemplos, podemos afirmar sem medo de errar que o jornal que você dirige, sr. Moreno, violou os princípios estabelecidos em seu próprio manual de redação, que assegura a “apresentação diariamente de uma informação veraz”, a transmissão do “jornalista… aos leitores de notícias comprovadas” e o compromisso de não '”incluir nelas suas opiniões pessoais.” Finalmente, o El País violou a norma de “ouvir sempre os dois lados” em casos polêmicos e a obrigação de “confirmar a informação” com “pelo menos duas fontes.”
A negação de acesso à informação veraz sobre a Venezuela em seu jornal tem sido recorrente, uma prova clara da campanha contra o presidente Chávez e seu governo. Rogamos que o El País volte a ser o que foi no princípio, uma referência para a ética jornalística.
Sinceramente,
Andrés Izarra
Ministro del Poder Popular para Comunicación e Información
Republica Bolivariana de Venezuela