Boimate e aldeia gaulesa: quando 'Veja' e 'Folha' dão vexame
Na edição de 27 de abril de 1993, a revista Veja explicava como, “num ousado avanço da tecnologia, dois biólogos de Hamburgo, na Alemanha, fundiram pela primeira vez células animais com células vegetais – as de um tomate e as de um boi. Deu certo
Publicado 28/03/2008 15:43
Os cientistas da Universidade de Hamburgo eram Barry McDonald e William Wimpey. Sua experiência, segundo Veja, permitia sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filê ao molho de tomate, abrindo uma nova fronteira científica. Um biólogo da Universidade de São Paulo foi entrevistado para dar maior credibilidade à informação sobre o “boimate”.
Como se tornou amplamente difundido e os críticos de Veja não pretendem deixar esquecer, a notícia era uma brincadeira de 1º de abril da revista britânica New Scientist, que fora levada a sério pela publicação brasileira. (A predisposição para acreditar nestas ficções científicas é muito maior do que parece, como pode ser visto na matéria principal).
O jornal O Estado de S. Paulo foi o primeiro a divulgar o engodo. Veja levou quase dois meses para reconhecer, recalcitrantemente, que tinha sido vítima de uma ficção bem-humorada. Escreveu tempos depois: “Depois de ouvir cientistas brasileiros respeitados, Veja publicou uma reportagem a partir de uma brincadeira de 1º de abril da revista New Scientist“.
Menos conhecida é a odisséia da aldeia de Astérix, o pequeno herói gaulês que enfrentou as legiões romanas nas histórias em quadrinhos criadas por René Goscinny e Albert Uderzo. Há 15 anos, em abril de 1993, a Folha de S. Paulo informava que uma expedição de dois arqueólogos, o professor Barry Cunliffe, da Universidade de Oxford, e o dr. Patrick Galliou, da Universidade de Brest, tinha encontrado uma pequena aldeia de 2 mil anos na localização precisa em que se calcula que estaria situada a aldeia de Astérix.
Segundo os arqueólogos, havia evidências de que nunca tinha sido ocupada pelas forças romanas. Também acharam moedas celtas com a imagem de javalis selvagens, o manjar predileto de Obelix, o amigo de Astérix, e uma coleção de obeliscos do tamanho preciso preferido por Obelix, entregador desses objetos. Era uma brincadeira de 1º de abril do diário londrino The Independent – como é tradição da imprensa britânica – anunciando a descoberta da fictícia aldeia de Astérix.
No mesmo dia em que a Folha anunciava a descoberta, a primeira página da Gazeta Mercantil publicava matéria sobre o mesmo assunto de seu correspondente em Londres, Celso Pinto, que depois seria colunista da Folha e diretor de redação do Valor. Ele informava que o diário londrino tinha feito uma brincadeira de 1º de abril. No dia seguinte, a Folha sustentava que, apesar de a notícia ter coincidido com o 1º de abril, havia indícios de que a informação era correta.
Fonte: Valor Econômico