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Indígenas ainda lutam pelo fim da invasão da Raposa Serra do Sol

O governo federal deu início ao processo de retirada definitiva dos invasores da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, através da Operação Upatakon 3, da Polícia Federal. As lideranças indígenas querem a continuidade da operação, ameaçad

A terra foi declarada como tradicionalmente ocupada pelos índios em 1998 e homologada pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, em abril de 2005. Desde então, os ocupantes não-índios estão resistindo a sair da terra.
 
Na última segunda-feira (31), Paulo César Quartiero, que comanda um pequeno grupo de invasores, composto por cinco plantadores de arroz, foi detido pela Polícia Federal acusado de quatro crimes, entre estes o de “estimular a desordem pública” e “desacato à autoridade”, foi solto sob fiança e, em liberdade, atacou a Polícia Federal e afirmou que vai continuar convocando a “resistência” contra o governo federal, dentro da área indígena.



O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia ainda o governador de Roraima, José Anchieta Junior, e políticos locais, que afirmam que irão exigir do ministro da Justiça o fim da Operação Upatakon 3. O líder arrozeiro não faz por menos e afirma ao jornal “Folha de Boa Vista”, em 2 de abril, que “tudo deve voltar à estaca zero”, com relação à demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol, ou seja, exige simplesmente a sua anulação.



O Cimi quer a continuidade da Operação Upatakon 3, até a retirada completa dos invasores da terra indígena Raposa Serra do Sol. “Tais pessoas sempre colocaram – e agora colocam mais ainda – em sério risco de vida as comunidades e lideranças indígenas, além de todos aqueles que prestam serviços àquelas comunidades”, diz em nota a entidade indígena.



“A permanência dos arrozeiros e demais invasores na terra indígena Raposa Serra do Sol, além de ilegal, é uma afronta aos poderes legalmente constituídos, é uma agressão à democracia e aos direitos humanos e se constitui como um palco para demonstrações de apego ao fascismo, que não possui, há muito tempo, espaço no Estado de Direito, felizmente reconquistado pela sociedade brasileira”, conclui.



Saída pacífica



O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), desde 2005, vem tentando viabilizando a saída pacífica de dezenas de famílias, oferecendo áreas alternativas para cultivo em Roraima, com indenização por benfeitorias, créditos e apoio técnico para sua realocação e continuidade na produção, na própria região rural do estado.
 


O grupo de invasores, composto por cinco plantadores de arroz, comandados por Paulo César Quartiero, nunca aceitou deixar a área. As lideranças indígenas os acusam de terem invadido grandes extensões de terra, quando esta já estava em procedimento demarcatório como terra indígena. O governo federal chegou, recentemente, a oferecer a transferência de terras da União ao governo de Roraima, para que este procedesse a realocação que melhor conviesse aos arrozeiros, mas estes não aceitaram a negociação.



Os dirigentes do Conselho Indigenista de Roraima (CIR) contam que quando da homologação, em 2005, os arrozeiros criaram um bando para-militar, composto por jagunços armados, que aterrorizaram as comunidades indígenas; queimaram pontes, casas, salas de aula, equipamentos e carros; espancaram professores e alunos; ameaçaram de morte religiosos, comunidades inteiras e lideranças indígenas; destruíram patrimônio dos indígenas; seqüestraram funcionários públicos e seguiram impunes. Nos últimos anos, muitos indígenas foram espancados e ameaçados de morte pela quadrilha armada e financiada pelos arrozeiros, sem que ninguém fosse punido.


 
Eles lembram ainda que, naquele ocasião, Paulo César Quartiero chegou a pregar a “resistência armada” contra o governo Lula, em programas da Rádio Equatorial, de Boa Vista, aliás fundada pelo ex-membro do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), ex-deputado federal, já falecido, Moisés Lipnick. Este, aliás, por sua vez, foi ligado também à União Democrática Ruralista (UDR) e a seus líderes, mentores do famoso “Caso Lubeca” uma farsa eleitoral que contribuiu para inviabilizar a eleição para presidente da República de Lula, em 1989.


 
Paulo César Quartiero afirma que quer se articular com as Forças Armadas, para que elas “coloquem ordem em Roraima”, acusando a Polícia Federal de “incompetente”. Em declarações recentes disse, com orgulho, que comprou 8.000 estacas de madeira para ampliar sua invasão na terra indígena Raposa Serra do Sol.



Fonte: Conselho Indigenista Missionário (Cimi)