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Ato dá largada a protestos unitários das centrais sindicais

O ato das centrais sindicais para lançar o manifesto conjunto em defesa da redução da jornada de trabalho sem redução de salário e pela ratificação das convenções 151 e 158 da OIT em São Paulo, capital, deu a largada da jornada de mobilizações que culmina

Os presidentes das centrais discursaram defendendo estas bandeiras e uma ampla convocação dos trabalhadores para a jornada de luta que teve início com este evento. Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), acrescentou a necessidade de uma posição das centrais contra a ameaça de elevação da taxa básica de juros, a Selic, que segundo ele “ronda o Banco Central”.


 


“Esta política de juros altos vai contra o crescimento da economia e a geração de emprego, atingindo os trabalhadores em primeiro lugar”, afirmou ele. “Toda vez que a economia cresce, o Banco Central trata de segurar o crescimento com a elevação dos juros em nome da estabilidade da economia”, destacou. A proposta foi acatada e as centrais estão elaborando um documento, que será entregue ao presidente Luis Inácio Lula da Silva e ao Banco Central.


 


Jornada de mobilizações


 


Sobre a campanha unitária, Wagner Gomes ressaltou que a unidade das centrais tem resultado em muitas conquistas — como os aumentos do salário mínimo, a correção da tabela do Imposto de Renda e a legalização das centrais —, mas o principal saldo é a união do movimento sindical brasileiro em torno de uma política de amplitude, desenvolvendo importantes lutas para os trabalhadores. Segundo ele, seria importante trabalhar esta unidade com vistas à realização de um congresso para que o movimento sindical possa eleger pontos comuns e formar um comando unificado.


 


O presidente da CTB também ressaltou que esta jornada de mobilizações que se inicia tem tudo para ser um grande êxito, uma vez que os trabalhadores brasileiros têm uma das mais extensas jornadas de trabalho. “A bandeira da redução da jornada de trabalho sem redução de salário é fundamental para a luta pela geração de empregos e distribuição de renda”, disse ele. Para Wagner Gomes, o Brasil já passou por períodos de crescimento sem que houvesse melhorias no nível de renda dos trabalhadores. “Agora que a economia está crescendo, precisamos lutar por mais empregos e por valorização do trabalho”, destacou.


 


Envergadura histórica


 


Os demais presidentes das centrais também enfatizaram o importante momento pelo qual passa o país para lutar pela redução da jornada de trabalho sem redução de salário. O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, afirmou que a unidade das centrais neste momento é importante porque esta batalha ocorre num ambiente propício. “A luta pela redução da jornada tem um campo fértil porque há uma bom crescimento industrial e o comércio nunca vendeu tanto”, disse. Ele destacou também a importância de mais tempo para o trabalhador estudar e se qualificar.


 


Para Antônio Neto, presidente da CGTB, chegou o momento de os trabalhadores compartilhar os ganhos de produtividade da economia brasileira. Segundo ele, hoje se produz muito mais com menos trabalhadores. “Chegou a hora de os trabalhadores participar deste crescimento da produtividade por meio de mais salários e jornada de trabalho menor”, afirmou ele. Neto também destacou que a ratificação da Convenção 158 da OIT, que coíbe a demissão imotivada, é outra luta de envergadura histórica para os trabalhadores.


 


Opinião parlamentar


 


O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva — o Paulinho —, anunciou que os metalúrgicos da sua central e da CUT estão preparando uma grande mobilização para o dia 25 de abril e comentou a repercussão negativa que parte da mídia deu à confraternização promovida pelas centrais no Congresso Nacional a fim de agradecer aos parlamentares que votaram a favor da legalização das centrais. Segundo ele, a mídia não aceita que os trabalhadores ocupem espaço no Congresso Nacional e por isso atacou a confraternização.


 


Para Paulinho, o que está por trás destes ataques é o fato de a unidade das centrais ter conquistado importantes direitos para os trabalhadores, atuando junto ao governo e ao Congresso Nacional. “Precisamos não só de manifestações e greves, mas também de articulação política para defender os interesses dos trabalhadores”, afirmou. Segundo o presidente da Força Sindical, a raiva que a mídia tem do movimento sindical é a mesma manifestada em tempos passados e que agora volta neste momento em que a organização sindical avança e ganha apoio de uma parte significativa da opinião parlamentar.


 


Assembléias nas categorias


 


Paulinho lembrou que a redução da jornada de trabalho sem redução de salário e a ratificação das convenções da OIT vão passar pelo Congresso Nacional. E por isso é preciso enfrentar a mídia. “Vamos enfrentar ou não?”, desafiou. “Esta luta é para valer e vamos causar mais raiva neles ainda”, destacou. Ele também lembrou que há um bom tempo que não se faz um dia nacional de lutas no Brasil. E sugeriu a realização de assembléias nas categorias para definir formas de luta e destacou a importância estratégica do setor de transportes.


 


Dirigindo-se a Wagner Gomes, que além de presidente da CTB é presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Paulinho lembrou que a luta contra a “Emenda 3” mudou de qualidade quando os metroviários paulistas paralisaram suas atividades. Wagner Gomes disse que a idéia de Paulinho, de fazer assembléias nas categorias, tem uma importância muito grande para a mobilização. “Se fizermos essas assembléias, chegaremos ao dia 28 de maio com uma mobilização bem mais amarrada e organizada”, destacou.


 


Desenvolvimento sustentável


 


O presidente da CUT, Artur Henrique, iniciou sua intervenção ressaltando a importância da unidade das centrais. Em tom de blague, ele afirmou que a unidade das centrais não representa apenas mais força — representa também mais CUT, mais CGTB, mais CTB, mais Nova Central e mais UGT. Segundo ele, esta unidade ressalta a necessidade de ''colocar o Brasil em movimento num grande dia nacional de luta, que afirme a pauta positiva dos trabalhadores e trabalhadoras''.


 


Ele destacou o momento de crescimento econômico, que precisa se converter cada vez mais em desenvolvimento sustentável, com valorização do trabalho, geração de emprego e renda. Artur Henrique também condenou o aumento na taxa de juros. “Uma elevação da taxa de juros no Brasil, no mesmo momento em que os Estados Unidos reduzem as suas, seria um contra-senso, serviria apenas para inundar o país de capital especulativo e retrair a atividade econômica, com impactos negativos no salário e no emprego'', explicou.


 


Civilizar a sociedade


 


O presidente estadual da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST) e do Sindicato dos Condutores de São Paulo, Luiz Gonçalves — o Luisinho —, afirmou que o resultado do crescimento da economia pode ser visto no trânsito da cidade. “Com o aumento da renda, precisamos lutar por mais empregos com carteira assinada, inclusive no campo”, disse ele. Luisinho afirmou ainda que, ''assim como paramos o transporte na luta contra a Emenda 3, voltaremos a parar novamente pela redução da jornada''.


 


Encerrando o evento, falou o representante do Dieese, Ademir Figueiredo, que destacou os efeitos negativos provocados pela extenuante jornada de trabalho. “Além da fadiga, uma jornada extensa provoca acidentes'', explicou. ''É preciso pensar, além do efeito monetário, nos perversos impactos sobre o processo de trabalho, ditado pelos interesses do capital”, disse. ''O trabalhador brasileiro mora distante, o que acaba aumentando em muito a média de deslocamento, principalmente nos grandes centros e a redução da jornada vai ajudar a civilizar a sociedade'', finalizou.


 


Foto: Leonardo Severo